2017 estreia com mais volatilidade
30-01-2017

Por Arnaldo Luiz Corrêa

Um bom 2017 a todos nossos leitores nesse primeiro comentário do ano após um recesso necessário para recarregar as baterias

O mercado de açúcar em NY no final de 2016 encerrou a 19.51 centavos de dólar por libra-peso fechando o ano com uma valorização de 28% em dólares e apenas 5% em reais (este é o motivo que insisto na tecla de que temos que olhar os valores em reais). Um desempenho que ajudou o setor na geração de caixa e na redução do endividamento que, pelos nossos cálculos era de R$ 86.87 bilhões, uma queda de 6.65% em comparação com dezembro de 2015.
Para os consumidores industriais, em especial a indústria de alimentos e bebidas, 2016 foi particularmente desafiador conseguir manter o custo dos produtos finais ao longo do ano, afetando diretamente a margem de lucro. O mercado interno para aqueles que compram açúcar baseado no índice ESALQ foi doloroso. Sem possibilidade de hedge para mitigar o risco de variação de preço e o descolamento do mercado internacional, as indústrias que insistem em usar o indicador com esse propósito devem estar coçando a cabeça. O aprendizado continua sendo pela dor, não por amor.

Para as usinas, é cada vez maior a consciência de não perder oportunidades de fixar preços do açúcar para exportação em reais por tonelada refletidos em NY. Reiteramos que achamos difícil que os preços possam repetir neste ano o teto de R$ 1,770 por tonelada que vimos em outubro do ano passado. A previsão mais recente da Archer informada aos clientes no início desse mês é de que a safra 2017/2018 apresente um preço médio de R$ 1,510 por tonelada para os açúcares de exportação VHP FOB Santos. Ainda um preço remunerador apesar de quase 2% abaixo da média negociada até agora da safra 2016/2017, que é de R$ 1,537.77 por tonelada, com prêmio de polarização.

Existem vários fatores que podem trazer substancial aumento na volatilidade do açúcar no mercado mundial. Se as incertezas já são abundantes apenas nos aspectos diretamente ligados ao setor, imagine então se a elas adicionarmos os impactos de eventuais travessuras de ordem econômica advindas da administração Trump.
Internamente, como era de se supor, não há consenso em relação ao tamanho da safra de cana para 2017/2018 onde os números flutuam de 560 a 600 mil toneladas; nem ao mix de produção e nem a ATR. Só nesses quesitos podemos estar falando de uma diferença de produção de dois milhões de toneladas de açúcar para mais ou para menos. Índia também tem dado provas de ser um produtor de difícil leitura dada a gama de variáveis que habita o universo açucareiro daquele país. China deve importar açúcar, mas o ritmo e o volume são desconhecidos. E o real, então? Como diria um conceituado economista ligado ao setor: “se você quiser passar vergonha, faça uma previsão acerca da trajetória do dólar”. Com todos esses ingredientes na receita do bolo torna-se difícil saber se o resultado será doce, salgado, amargo, ácido ou azedo.

Vale a pena ler o artigo do professor José Roberto Mendonça de Barros publicado no jornal O Estado de São Paulo, domingo passado. Destaco aqui a parte que nos afeta diretamente: “… o acordo de sustentação de preços do petróleo entre países exportadores, como sempre acontece, acabará fracassando. É mais provável que vejamos preços abaixo de US$ 50 por barril nos próximos meses”. Se o professor estiver correto e o real continuar a se valorizar perante o dólar, a paridade do etanol com a gasolina vai pressionar as usinas a otimizarem a produção de açúcar.

A sétima estimativa de fixação de preços de exportação das usinas no mercado futuro de açúcar em NY, para a safra 2017/2018, mostra segundo o modelo desenvolvido pela Archer Consulting, que até o final de 2016 pouco mais de 10.7 milhões de toneladas já haviam sido fixadas (40.6% da exportação estimada). O preço médio apurado foi de 17.38 centavos de dólar por libra-peso. Em safras anteriores, o percentual máximo de fixação acumulada até o mês de dezembro foi de 36.28% em 2014/2015.

A volatilidade no mercado futuro de açúcar em NY neste início de ano é de 31.65%. Para se ter uma ideia desse comportamento, as volatilidades do mercado de 50 e 100 dias são, respectivamente, 28.79% e 28.25%.
De acordo com o modelo desenvolvido pela Archer Consulting, o preço médio dos fechamentos do primeiro contrato de açúcar em NY para os próximos três meses – informado para nossos clientes no início do mês – será de 19.48 centavos de dólar por libra-peso para janeiro, 19.75 centavos de dólar por libra-peso para fevereiro e 18.78 centavos de dólar por libra-peso para o março.