A cana turbina o sistema ILPF
16-06-2014

Cana, cereal, floresta e pecuária, tudo isso o produtor pode consorciar em suas terras, ampliando a renda


Luciana Paiva


A cana é um ser diferente no mundo agrícola, tem gente que nem a considera uma lavoura, tanto que dizem que não faz parte do sistema de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF). O próprio conceito desse sistema a exclui: “trata-se de um consórcio de três tipos de culturas numa mesma área, sendo uma lavoura, geralmente de milho ou sorgo, uma pastagem e uma espécie florestal, normalmente eucalipto”, definem os pesquisadores. O objetivo deste sistema é obter melhor aproveitamento do terreno, através da produção de grãos ou forragens de boa qualidade, melhorando a capacidade de suporte da pastagem e obtendo uma colheita de árvores a longo prazo, gerando assim uma renda combinada de três atividades.
Mas não adianta quererem deixar a cana de fora, ela está dentro do ILPF, já que é possível ter eucalipto na parte de topografia mais acidentada (prática que cresce muito nas áreas de cana não mecanizáveis), área de pastagem e canavial, que auxilia a alimentação do gado na época do inverno, por meio da silagem da cana, bagaço ou a palha.
Além disso, a cana turbina o sistema, pois ao invés do consorcio de três tipos de cultura, pode ser quatro. Para isso, basta cultivar soja ou amendoim nas áreas de renovação com cana, e ainda, cultivar feijão na entrelinha da cana na fase em que a cana-soca está brotando ou a cana-planta está crescendo. Segundo o pesquisador Denizart Bolonhezi, da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta), o plantio do feijão junto com cana ajuda a fixar o nitrogênio na terra e aumenta a rentabilidade do pequeno produtor. O consorcio com o feijão reforçado com a prática da rotação de culturas nas áreas de renovação, e a cana como alimento para o gado, amplia o conceito de que é perfeitamente possível produzir alimento e energia na mesma área.
INTEGRAÇÃO DA CANA COM O ILPF NA PRÁTICA
Um belo exemplo da participação da cana no sistema ILPF é a Sapé Agro, localizada em Maracaju, MS. Além da integração lavoura-pecuária com soja, milho e pastagem, novas tecnologias e culturas foram iniciadas na empresa, como a cana-de-açúcar e o semi-confinamento.
Hoje, as áreas de produção agrícola da fazenda estão divididas em:
- Pastagem: 388,1 (184 ha de integração milho/pasto, disponível para pecuária nos meses de julho a setembro);
- Soja: 1868 ha;
- Milho safrinha: 1560;
- Cana de plantio próprio:320,73;
- Cana de plantio arrendado: 618;
- Eucalipto: 80.

Há mais de uma década a Sapé Agro utiliza o sistema que integra as atividades de agricultura de soja, milho e cana-de-açúcar com a pecuária. Segundo seus gestores, o objetivo é reformar as pastagens, melhorar as condições físicas e biológicas do solo, recuperar sua fertilidade, produzir forragem conservada para a estação seca do ano e reduzir os custos de operação da propriedade.
Na área destinada à agricultura, planta-se a safra de soja, depois a safrinha do milho e, na sequência, vem a pastagem entre julho e setembro. Dentro deste modelo de integração agricultura-pecuária, há um revezamento de culturas. Todo ano, da área total de pastagem da fazenda, uma parte passa para a agricultura, ou seja, recebe adubação.
Além de lucros com a colheita, a agricultura proporciona a reforma das pastagens a cada três anos. O resultado é a intensificação da pecuária e do melhoramento genético da raça brangus.