A química verde abre um leque de oportunidades a partir da cana-de-açúcar e liga o setor canavieiro ao futuro
11-11-2016

As pesquisas com cana-de-açúcar não visam apenas o açúcar, o etanol e a bioeletricidade, que são os produtos mais conhecidos e com mercado consagrado. Na bancada dos pesquisadores, outra linha de estudos pode elevar ainda mais o status desta planta.

Sabe-se que a partir da cana-de-açúcar é possível fazer a maior parte dos produtos que hoje são derivados do petróleo. E com o transcorrer das pesquisas com a cana e o etanol, diferentes oportunidades já são viáveis economicamente. Um dos campos mais avançados dentro da cadeia de valor da cana-de-açúcar e que liga o setor com o futuro é a Química Verde, que abre um vasto espectro de possibilidades de produtos de alta qualidade e menor impacto ambiental.

Segundo a pesquisadora Maria Teresa Borges Pimenta Barbosa, do CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol), Química Verde é o desenvolvimento da tecnologia para obtenção tanto de processos como de produtos químicos que possam minimizar ou eliminar substâncias que são prejudiciais tanto à saúde como ao meio ambiente.

A Química Verde tem a sustentabilidade como ponto de partida. Refere-se a produtos e processos diretamente relacionados ao uso de tecnologias limpas, em que há controle mais rigoroso quanto à menor emissão de poluentes, menor produção de resíduos e efluentes, uso de menos energia, mínima aplicação de produtos tóxicos, redução de impactos ambientais. E diferentes alternativas podem ser consideradas, como os processos em que se substitui o petróleo e seus derivados por biocombustíveis para a obtenção do mesmo produto.

O avanço da Química Verde é uma tendência crescente, segundo a pesquisadora. “No momento, hoje buscamos chegar a produtos de química verde cujos processos sejam viáveis. Com muitos deles ainda estamos em fase de desenvolvimento e estes processos também vão sofrer as mesmas dificuldades para depois se estabelecerem. A tecnologia ainda está em amadurecimento”, explica.

No Brasil, o investimento neste tipo de tecnologia é promissor, mas requer a continuidade dos investimentos para ganhar viabilidade econômica. A aposta do CTBE nesta área de pesquisa é grande. “Pesquisamos blocos químicos de fontes renováveis (produtos derivados da biomassa), o que inclui na lista os alcoóis. Neste caso, quando visamos produtos derivados de alcoóis, falamos de alcoolquímica.”

O desenvolvimento de cada produto ou via tecnológica não é simples e tem um tempo específico de maturação. Dentro os produtos da química verde, Maria Tereza destaca os polímeros, que vêm da rota do etanol de primeira geração (um combustível renovável e limpo) para a produção do polietileno verde, que já é uma realidade do mercado.

Ela explica que, apesar de o polietileno verde originar-se de uma matéria-prima de fonte renovável e ter um balanço limpo em seu processo de fabricação, quimicamente é um produto comparado ao polietileno feito a partir da nafta. “São polímeros iguais. Não é porque o produto verde vem de uma matéria-prima limpa e renovável que tem biodegradabilidade diferente, por exemplo. A vantagem está na origem do polímero. A cana, ao crescer, absorve parte do CO2.”

Maria Teresa afirma ainda que existem diversos outros blocos químicos que podem ser produzidos a partir da cana-de-açúcar, além do biocombustível. “Ao invés de fazer alguns solventes do petróleo, é possível fazer do bagaço.” Ela cita ainda alguns blocos químicos: biobutanol; o próprio etanol de segunda geração; ácidos orgânicos, como o ácido acético; fenóis; hidroximetilfurfural etc. “São muitos blocos que hoje são produzidos pela rota petroquímica e podem ser produzidos pela biomassa (alcoolquímica).”

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