Açúcar: início da correção ou consolidação?
01-08-2016

Por Arnaldo Luiz Corrêa

A tão esperada correção no mercado futuro de açúcar acabou finalmente acontecendo, ainda que parcialmente. Na semana encerrada na sexta-feira, vimos o vencimento outubro/2016 negociar a 18.71 centavos de dólar por libra-peso. Dissemos no último comentário do mês passado que o mercado precisava de uma correção de 300-400 pontos para sobreviver, pois estava pesado demais, influenciado pela enorme posição dos fundos e com trajetória de preços não condizente com a pasmaceira do mercado físico de exportação.
O mercado encerrara aquela semana a 20.78 centavos de dólar por libra-peso. Pois bem, aqui chegamos. Após atingir 21.22 centavos de dólar por libra-peso no final de junho, o vencimento outubro desvalorizou-se em 250 pontos, um pouco aquém dos 300-400 pontos, mas perto do nível de 18.50 centavos de dólar por libra-peso que disséramos ser o nível “objeto de desejo” daqueles que ansiavam por cobrir suas posições e, para tal, vendiam puts freneticamente.
Tiveram enorme ajuda na queda do açúcar dois fatores: a desvalorização do petróleo que, apenas nesta semana, caiu mais 7% e foi destaque no comentário da semana passada, como possível fator de desestabilização de preço do açúcar e, o clima seco favorável que permitiu o bom desempenho da safra no Centro-Sul que moeu até a primeira quinzena de julho 261.4 milhões de toneladas de cana (16.7% acima da safra passada), produzindo 13.8 milhões de toneladas de (30% acima) e 10.75 bilhões de litros de etanol (10% acima do ano passado). Até a ATR está melhor 125.40 por tonelada de cana moída. O mix de açúcar está e, 47.68%, bem acima dos 39.13% do ano passado.
A correção já acabou? Era a pergunta corrente entre os traders. O fechamento de sexta, com o outubro encerrando a semana a 19.05 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 50 pontos em relação à semana anterior, mas uma alta de 25 pontos em relação à quinta-feira deu a nítida impressão que mais gente resolveu se posicionar nos atuais níveis comprando o mercado com receio de, uma vez mais, perder a oportunidade. O que valida isso é o sentimento que, embora o desempenho da safra esteja muito bom, o número final de moagem dificilmente ultrapassará os 615-620 milhões de toneladas que é a média esperada pelo mercado.
O que parece é que o mercado encontrou seu nível mais baixo para o curto prazo. E o volume negociado de puts (opção de venda) foi tão expressivo nesse período que a volatilidade implícita das opções despencou quase 4 pontos percentuais em apenas 4 semanas, reforçando a tese de que muitas puts foram vendidas para replicar uma compra de futuros com menor preço final descontado o prêmio. Essas puts só virariam um futuro se na expiração das opções (que ocorre em setembro) o mercado estiver abaixo do preço de exercício. Como o mercado reagiu nesta sexta, podem estar aí as explicações: comprou-se o futuro pois a venda da put (opção de venda) tornou-se inócua com o avanço do mercado acima do preço de exercício. É uma hipótese plausível.
E com toda essa movimentação no mercado futuro de açúcar, os fundos não indexados nem se coçaram e continuam com uma posição comprada de 323.000 contratos, ou o equivalente a 16.4 milhões de toneladas de açúcar. Como o relatório de comitentes é de terça-feira, é de se supor que os fundos tenham realizado alguma coisa durante a semana, mas nada substancial.
Dois argumentos fortes contra uma eventual introdução da CIDE, com os devidos agradecimentos à Cristina Barros, da MB Associados: o primeiro é o impacto inflacionário: mais inflação significa maior ajuste do salario mínimo para 2017 (impacto de R$ 3 bilhões); o segundo é que cada ponto percentual na inflação impacta quase R$ 9.6 bilhões de juros (via SELIC). “Todos os impostos são recessivos, porque tiram renda da economia; mas os inflacionários como a CIDE são duas vezes recessivos, por pressionar a SELIC ao invés de folgá-la”.
No acumulado do mês, petróleo derreteu 15%, soja grão e farelo caíram perto de 14%, gasolina 12.5%, etanol (em Chicago) 11.5% e milho 9%. Tudo leva a crer que o mercado de energia (leia-se etanol de açúcar e milho e biodiesel) pode empurrar o açúcar um pouco mais para baixo. A pergunta que todos fazem é o que precisa acontecer para os fundos liquidarem suas posições e embolsarem essa grana toda que estão ganhando por enquanto?
O Dollar Index mede o valor da moeda norte-americana em relação a uma cesta de moedas, geralmente os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos. O índice continua a cair e estimula algumas commodities a ir na direção inversa. Esse pode ser o contraponto ao paragrafo anterior e ainda dar sustentação aos fundos de se segurar na atual posição.


Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting