As expectativas para a safra da cana na Índia
18-08-2014

O Brasil e a Índia são os países mais importantes do mundo no segmento de cana-de-açúcar, representando quase 60% da produção mundial. Assim, é lógico que os olhos dos envolvidos no mercado de açúcar e etanol estejam voltados para os dois gigantes.

A safra de cana da Índia acontece de setembro a março, o mesmo que a região Nordeste do Brasil. Quase 90% do corte é manual e de cana crua. A Índia possui mais de 30 milhões de fornecedores de cana (no Brasil são em torno de 70 mil) e a área das propriedades gira em torno de 1,8 hectares. Os principais estados produtores de cana são Maharashtra, no sul do país e o mais rico, e UttarPradesh, mais central e próximo da capital Nova Delhi. E a população indiana é de 1,21 bilhão.
A Índia é o segundo maior produtor de açúcar no planeta. Com cerca de 25 milhões de toneladas produzidas anualmente e consumo próximo a isso, o país é central na determinação dos fluxos de comércio da commodity em escala global, podendo ser importador ou exportador dependendo de sua safra. Vejamos como estão as perspectivas de safra na Índia.
Área plantada com cana deve ser reduzida no ciclo 2014/15
Um novo ciclo produtivo se aproxima na Índia. Começando oficialmente no dia 1º de outubro e com duração programada em exatos 160 dias, seguindo determinação de Estado, a safra 2014/15 deve apresentar um bom rendimento agrícola, devido a abundantes chuvas anteriores ao período de monções.
As tensões econômicas do setor no país, que sofre com dívidas entre fornecedores de cana e usinas, deve causar uma redução de 2% na área plantada. A ISMA (Indian Sugar Mills Association) estima 5,2 milhões de hectares cultivados com cana.
Apesar do aumento em Maharashtra (+13%) e Karnataka (+5%), a queda é puxada por UttarPradesh (-9%), segundo estado produtor, e TamilNadu (-7%).
Monções atrasam, mas chuvas anteriores compensam escassez atual
As monções atrasadas também não devem afetar o rendimento da cultura, uma vez que as precipitações anteriores à temporada de chuvas foram bastante satisfatórias, elevando o nível dos reservatórios e proporcionando um desenvolvimento pujante da cana.
Há duas semanas, o déficit hídrico chegava a 40% dentro do período de monções. Nessa semana, com fortes precipitações nas regiões produtoras, essa redução foi para cerca de 15%, confirmando a tendência de recuperação.

 

A Índia é o maior consumidor mundial de açúcar e de outros adoçantes de cana , e seu consumo per capita está próximo da média mundial. Considerando-se a baixa renda média da população indiana, este consumo é bastante elevado, mostrando a importância da cana-de-açúcar dentro de sua dieta.
Perspectivas do ciclo 2014/15 nos maiores estados produtores
Maharashtra – O estado, que produz cerca de um terço do açúcar indiano, deve processar 77 milhões de toneladas (MT) de cana, o que pode resultar em 8,8 MT de açúcar produzidos. Os volumes são significativamente acima das 67,8 MT de cana e 7,71 MT de adoçante no ciclo atual.
UttarPradesh – O segundo maior produtor, ao contrário do primeiro, deve reduzir sua produção no próximo ciclo. Esse é o estado que mais sofre com problemas de pagamento entre camponeses e industriais, uma vez que o governo estadual vem sistematicamente estabelecendo preços mínimos mais elevados que o nível nacional. A área com cana nova deve cair até 15%, o que levaria a uma redução média de 5% na área total da cana. O estado produziu 6,45 MT em 2013/14.
Karnataka – Assim como em Maharashtra, a produção deve ser incrementada no ciclo a seguir. Nem mesmo o encurtamento das monções tem potencial para reduzir significativamente a produção. O estado produziu 4,1 MT nesse ano.
Estimativa de produção para ciclo 2014/15
Partindo da estimativa de aumento no rendimento em importantes produtores, redução na área plantada, progressão das chuvas de monções e disponibilidade de água nos reservatórios indianos, a projeção inicial da ISMA para a safra 2014/15 é de 25,3 milhões de toneladas de açúcar, ficando cerca de 4% acima da produção de 24,3 MT do ciclo atual.
Com um estoque inicial estimado em 7,5 MT no dia 1º de outubro, haverá açúcar mais do que suficiente para atender a demanda interna, que é projetada em 24,5 MT para o próximo ciclo produtivo.
Nesse cenário, a variação de estoques seria determinada pelas exportações. O governo vem buscando estimular o escoamento do produto através de subsídios. É esperado o escoamento de 2 MT no ciclo 2014/15, segundo estimativas do governo indiano.