Com irrigação, Bevap cresce verticalmente e mitiga efeitos adversos do déficit hídrico
10-11-2022

São mais de 30 mil hectares irrigados na Bevap, divididos entre pivô central, pivô linear, pivô rebocável, carretel irrigador (HidroRoll) e gotejamento. Foto: Divulgação Bevap
São mais de 30 mil hectares irrigados na Bevap, divididos entre pivô central, pivô linear, pivô rebocável, carretel irrigador (HidroRoll) e gotejamento. Foto: Divulgação Bevap

De todas as modalidades, o gotejamento é o que mais se destaca nos canaviais da usina mineira, entregando três dígitos de produtividade média com alta longevidade

Leonardo Ruiz

No dia 31 de março deste ano, a Bevap Bioenergia sagrou-se campeã brasileira de produtividade agrícola da safra 2021/22 em premiação criada pelo Grupo IDEA em parceria com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). É a terceira vez que a usina mineira alcança o lugar mais alto do pódio (2018, 2021 e 2022).

Localizada no noroeste de Minas Gerais, mais especificamente no município de João Pinheiro, a Bevap é considerada uma das usinas mais avançadas do setor sucroenergético nacional, e as premiações atestam esse fato. Com uma gestão que preza pelo investimento em pesquisa e novas tecnologias e com um modelo de negócio que foca na integração entre as operações agroindustriais, a Bevap se destaca no cenário nacional, colocando a região no mapa dos mais importantes polos de bioenergia do país.

Na última safra, a usina processou 2,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar com uma produtividade média de 109 toneladas de cana por hectare (THC), valor 54% maior do que a média geral do Estado de São Paulo: 71 TCH, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Impulsionada pela irrigação, Bevap alcançou uma produtividade média de 109 TCH na última safra

Foto: Divulgação Bevap

Vários fatores explicam o sucesso da Bevap na construção desses números. Nos últimos anos, a companhia tem investido fortemente em seus canaviais, por meio de um manejo adequado com corretivos e fertilizantes, controle eficaz de pragas, doenças e plantas daninhas e adequação/modernização do plantel varietal.

Recentemente, a Bevap também reformulou completamente sua área de Suporte e Gestão da Qualidade Agrícola (SGQA). Agora, toda a coleta e gestão das informações de campo – do plantio a colheita – são feitas por meios digitais. Implantado há um ano, o projeto já resulta em redução das perdas na colheita e melhor padronização dos processos agrícolas.

Mas, definitivamente, um dos principais segredos da alta produtividade agrícola da Bevap é seu projeto de irrigação, o maior do setor sucroenergético nacional. A companhia se diferencia por apostar na irrigação plena de seus canaviais, na contramão das demais usinas do Centro-Sul, que majoritariamente utilizam a prática para fins de salvamento. Somando áreas próprias e de fornecedores, são mais de 30 mil hectares irrigados, divididos entre pivô central, pivô linear, pivô rebocável, carretel irrigador (HidroRoll) e gotejamento.

Dentre essas modalidades, a que mais se destaca é o gotejamento. Com cerca de 1,5 mil hectares implantados apenas em área própria, a tecnologia vem entregando maior produtividade na comparação com os demais sistemas. Nesta safra, os canaviais irrigados por gotejo atingiram médias de 126 TCH, contra 104 TCH dos pivôs centrais, 102 TCH dos pivôs lineares, 88 TCH dos pivôs rebocáveis e 86 TCH dos carreteis.

Com cerca de 1,5 mil hectares implantados apenas em área própria, sistema de gotejamento é o que entrega as maiores produtividades agrícolas

Foto: Divulgação Netafim

Essa diferença produtiva é fruto das características inerentes ao sistema de irrigação por gotejamento, que entrega as quantidades ideais de recursos hídricos de acordo com as fases do cultivo, no momento certo e diretamente na raiz da planta, maximizando os resultados. É possível ainda utilizar os mesmos equipamentos de injeção de água para aplicação de moléculas químicas e orgânicas e produtos biológicos, aumentando a sanidade e o vigor dos canaviais ao mesmo tempo em que reduz os custos de aplicação.

Na Bevap, a responsável pela implantação dos sistemas de gotejamento é a Netafim, pioneira e líder mundial em soluções para irrigação. Atualmente, a companhia oferta ao mercado nacional duas modalidades tecnológicas de gotejo para cana-de-açúcar. Em canaviais comerciais, é recomendada a irrigação por gotejamento subterrânea. Já em viveiros (Cantosi ou Meiosi), é possível instalar as mangueiras e tubos gotejadores de forma superficial e movê-los para novas áreas sempre que necessário. Ambas as soluções podem ser instaladas de pequenos a grandes canaviais.

Regime pluviométrico irregular levou Bevap a implantar maior projeto de irrigação do setor sucroenergético nacional

A Bevap está localizada no Vale do Rio do Paracatu, região mineira de relevos planos, alta diversidade de solos, boa disponibilidade para captação de recursos hídricos, mas com um regime pluviométrico bastante irregular, marcado por picos de chuvas intensas e longos períodos de estiagem.

O gerente agrícola da unidade, Alécio Cantalogo Júnior, explica que a média pluviométrica local é de 1200 mm/ano. No entanto, esse volume é mal distribuído, levando a usina a enfrentar um déficit hídrico estimado de 950 mm/ano. “Por conta disso, desde a nossa concepção, temos investido em projetos de irrigação automatizados. É uma tecnologia intrínseca ao nosso DNA.”

Alécio Cantalogo Júnior: “A irrigação é uma tecnologia intrínseca ao nosso DNA”

Foto: Arquivo pessoal

Ele detalha que os pivôs são os responsáveis por irrigar a maior parte das áreas próprias da companhia: central (11 mil ha), rebocável (3,4 mil ha) e linear (2,3 mil ha). Mas é o gotejamento (1,5 mil ha) que entrega as maiores produtividades. “Nosso planejamento estratégico vem priorizando o aporte dessa tecnologia nos últimos anos. A intenção atual é trocar os carreteis por tubos gotejadores. Além disso, toda expansão futura em áreas de ‘corners’ deve ser implantada com essa ferramenta.” O sistema de irrigação por gotejamento na Bevap teve início em 2017, em 563 hectares. Hoje, ele já abrange uma área quase três vezes maior, com alguns canaviais atingindo a casa das 200 TCH.

Além de ganhos na produtividade, a Bevap espera ainda que a irrigação auxilie no prolongamento da vida dos canaviais e, consequentemente, na diluição dos altos custos de plantio da atualidade. “Estamos trabalhando para alcançar uma maior longevidade, entre 10 e 15 anos nas áreas irrigadas por pivôs, e entre 15 e 20 anos nas irrigadas por gotejo, mantendo sempre uma produtividade média acima dos três dígitos e buscando um TAH (Toneladas de Açúcar por Hectare) acima de 15 ton/ha”, salientou o gerente agrícola.

 Redução dos custos com aplicação tratorizada é um dos benefícios da tecnologia de irrigação por gotejamento

Foto: Leonardo Ruiz

Outro benefício citado é a possibilidade de fazer aplicações de fertilizantes e defensivos via sistema, reduzindo dessa forma a quantidade de operações convencionais de tratos culturais. Em uma área de 280 hectares, por exemplo, a Bevap aplica vinhaça por meio dos tubos gotejadores. O projeto teve início em 2021 e já resulta em economia na compra de fertilizantes químicos (cloreto de potássio granulado) e redução dos custos com aplicação tratorizada. Para o próximo ano, a companhia espera iniciar também a aplicação de biológicos via gotejamento.

Cantalogo Júnior aponta ainda outras vantagens da tecnologia, como maior eficiência na aplicação dos recursos hídricos e melhor aproveitamento de água pela planta. “No geral, a irrigação por gotejamento está nos atendendo muito bem. O investimento inicial pode até parecer alto, mas quando todas as operações são feitas corretamente, o retorno é certo.”

Secas dos últimos anos aceleraram expansão da irrigação em áreas canavieiras

A área cultivada com cana-de-açúcar no Brasil, na safra 2022/23, está estimada em 8,1 milhões de hectares, segundo dados da Conab. A área irrigada, por outro lado, corresponde a menos de 10% desse montante, aproximadamente 750 mil hectares. Desconhecimento sobre a tecnologia, priorização de outros investimentos e receio dos custos de implantação estão entre os principais motivos dessa baixa adesão.

De acordo com o diretor comercial da Netafim, Elon Svicero, a irrigação por gotejamento em áreas de cana-de-açúcar registrou recentemente uma forte guinada, fruto das condições climáticas extremamente desfavoráveis dos últimos anos. “Esse cenário levou muitas empresas a enxergarem a irrigação como uma ferramenta de estabilidade e incremento na produção, funcionando quase como um seguro contra a seca. Porém, a adoção ainda segue muito aquém do ideal.”

Elon Svicero: “As recentes estiagens levaram muitas empresas a enxergarem a irrigação como uma ferramenta de estabilidade e incremento na produção”

Foto: Divulgação Netafim

Na visão dele, exemplos como o da Bevap são poucos. “É verdade que as condições climáticas locais são diferentes das encontradas na maioria das regiões do Centro-Sul. Sem irrigação, a usina não produziria. No entanto, mesmo aquelas unidades agroindustriais e agrícolas que se encontram em localidades onde o déficit hídrico não é tão acentuado podem se beneficiar da irrigação, principalmente do gotejo.”

Para Svicero, a irrigação em cana-de-açúcar é um caminho sem volta, e as usinas que ainda não adotam a prática precisam começar a se movimentar para que possam permanecer competitivas no mercado. “É fato que o investimento vale a pena. Mas é interessante frisar que, quando falamos de irrigação, falamos de um sistema de produção irrigado, que difere de um manejo de sequeiro. Dessa forma, é importante que as usinas insiram a irrigação no plano diretor e comecem a implantar a tecnologia de forma gradual, começando com pequenas áreas a fim de conhecer a fundo o sistema e se preparar melhor para futuras expansões.”

Entre área própria e de fornecedores, Bevap conta com mais de 30 mil hectares irrigados. Porém, usinas e agrícolas devem iniciar por pequenas áreas a fim de conhecer o sistema e todas suas demandas

Foto: Divulgação Bevap

Por fim, ele salienta que a Netafim pode auxiliar aqueles que desejam implantar os primeiros hectares ou expandir sua área gotejada. “Através da mais alta tecnologia aliada a uma equipe de especialistas, garantimos o sucesso dos projetos e uma rápida transferência de know how para nossos clientes.”

Fonte: CanaOnline