Crise abate etanol
22-08-2014

A cana que embebedou os usineiros e os levou a grandes sonhos está se tornando um pesadelo para o setor. O álcool combustível ficou tão importante que mudou a denominação para etanol. O Brasil sentiu a importância econômica e foi o primeiro País a adotar em sua frota a tecnologia dos carros flex e a novidade tecnológica verde-amarela consolidou o segmento. Se noutros países produziu-se biomassa a partir dos resíduos agrícolas e florestais, na terra descoberta por Pedro Álvares Cabral, a cana-de-açúcar é a matriz energética.

Os brasileiros tiveram seu primeiro ápice na década de 70 com a crise do petróleo no mundo. O governo do general Ernesto Geisel, de forte tendência nacionalista, criou o Proálcool (Programa Nacional do Álcool) em 14 de novembro de 1975. O programa incentivava o cultivo da cana e provia recursos para a construção de usinas. O apelo principal era o fato de ser energia renovável e menos poluidora que os derivados do petróleo. Esse fato possibilitou uma tecnologia 100% nacional. O etanol anidro é usado como aditivo pelos carros brasileiros. É usado também como aditivo à gasolina na percentagem de 20% a 25%.


Deflagração da crise

Agora, o setor sucroenergético brasileiro vive uma crise sem precedentes. Logo ele, com páginas memoráveis em sua história. Com tanto contribuição na busca do desenvolvimento sustentável, consolidação da tecnologia flex e o aparecimento dos bioplásticos e aviões movidos a etanol. A causa apontada para a ressaca do álcool é que o governo da Dilma Rousseff segurou o "preço da gasolina como forma de controlar a inflação", assegura Roberto Rodrigues, que foi ministro da Agricultura de Lula da Silva e uma das maiores autoridades brasileiras do agronegócio. Há precisos sete anos, o setor não tem um reajuste. Nesse período, observa Rodrigues, os custos aumentaram.

Em Goiânia, André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, confirma que a "coisa ta preta". A safra do ano agrícola 2013-24 chegou a 596 milhões de toneladas, 12% maior que a anterior e 7% superior ao recorde histórico do setor. Parecia que a dor de cabeça oriunda da ressaca estava com os dias contatos. Problemas climáticos e a baixa margem de lucros dos produtores foram responsáveis pelas primeiras três mil demissões de trabalhadores e o início de fechamento de usinas.

André Rocha confirma que mais de 40 usinas foram fechadas e outras 14 estão a caminho. Em torno de 50% delas sentiram-se perdas de faturamento. Dez mil empregos foram extintos. Trinta empresas encontram em processos de recuperação judicial. O endividamento sobe à casa dos R$ 60 bilhões. Mais de 70 mil fazendeiros dependem das usinas. É o efeito cascata. Goiás, que via os canaviais competirem com a soja e os bois nos pastos, sente o desolamento. Pelo menos três usinas goianas já apelaram para a recuperação judicial. Esse escopo legal objetiva viabilizar a superação da crise econômico financeira, reintegrar a empresa no competitivo mercado de trabalho, e principalmente desenvolver o exercício do princípio da função social, abalizado na ordem econômica e social do País, através do respeito à dignidade da pessoa humana, a liberdade e a justiça.

A crise no setor sucroenergético deixou muitas prefeituras, restaurantes, hotéis, oficinas mecânicas, postos de combustíveis, de calça na mão, no entender do presidente do Fórum Nacional Sucroenergético e também do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg). "Ocorre que os municípios parte dos tributos gerados e agora há dificuldades de recursos financeiros", conclui entristecido André Rocha, com toda essa crise que não tem final para acabar. É ano eleitoral e ninguém acredita que Dilma como candidata à reeleição vá alterar os preços dos combustíveis.

Wandell Seixas