Crise política derruba preços de commodities no exterior
19-05-2017

A nova crise política que se iniciou no Brasil na quarta-feira (17) travou os negócios no mercado interno de grãos e provocou "um derretimento" dos preços nas principais Bolsas externas de commodities.

Uma das consequências da crise é a alta do dólar. A valorização da moeda norte-americana torna os preços dos produtos brasileiros mais baratos e mais competitivos para os importadores.

Já os exportadores brasileiros, que devem acelerar o ritmo das vendas externas, recebem mais reais pela mesma quantidade de mercadoria exportada.

É um jogo de ganha e ganha. Mas nem tudo é alegria. Se esse cenário de alta do dólar permanecer por um período longo, os preços das commodities vão ser repassados para o atacado, chegar ao varejo e interromper o processo de queda da inflação.

Seria um cenário completamente diferente do atual, uma vez que os baixos preços dos produtos agrícolas, somados à perda de poder de compra dos consumidores devido à recessão, estão reduzindo a inflação para patamares há muito tempo não vistos.


Peso externo

A crise brasileira tem poder de alteração dos preços nas principais Bolsa do mundo devido à importância do país no mercado externo de commodities.

Uma maior competitividade da soja do Brasil no exterior —o país é o maior exportador mundial— fará com que o produto dos Estados Unidos caia de preço.

As quedas já começaram. O recuo foi de 3,2% em Chicago nesta quinta-feira (18).

O mesmo ocorreu com café, açúcar e suco de laranja, produtos que também caíram de preço em Nova York.

O Brasil é líder mundial em produção e exportação desses itens.

A crise política atual também trouxe efeitos imediatos para o mercado interno agrícola, travando os negócios nesta quinta-feira.

Lucilio Alves, professor da Esalq e pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), diz que, em seus 14 anos de acompanhamento do mercado agrícola, nunca viu uma situação como esta.

Para o pesquisador, o mercado ainda está avaliando o desdobramento da crise. Na próxima semana, no entanto, poderá acelerar o ritmo de comercialização.

As negociações de commodities estão atrasadas no país, devido à queda de preços nas últimas semanas, e o produtor vai aproveitar esse momento para retomar as vendas, segundo ele.


Custos

Mas, se a crise pode dar ganhos aos produtores na venda de seus produtos, deverá elevar os gastos para a próxima safra.

Daniele Siqueira, da AgRural, diz que muitos produtores apostavam em uma queda ainda maior do dólar com a aprovação da reforma da Previdência. Com isso, postergaram a compra de insumos.

A nova escalada do dólar vai obrigar esses produtores a aumentar os desembolsos para a compra de adubo e de agroquímicos para a safra 2017/18, que se inicia no segundo semestre.


Preços

O contrato de julho da soja fechou a US$ 9,45 por bushel (27,2 quilos) nesta quinta-feira em Chicago, com recuo de 3,2% no dia.

O do café, ao cair para US$ 1,30 por libra-peso, perdeu 3,5% de seu valor, enquanto o do açúcar ficou 1,7% mais barato ao recuar para 16 centavos de dólar por libra-peso.

O trigo, cuja presença brasileira nas exportações mundiais é praticamente nula, ficou com os preços estáveis.

No mercado interno, apesar dos negócios travados em algumas partes do dia, muitos produtores aproveitaram para reiniciar as vendas.

O acompanhamento de preços da AgRural indicou que a saca de soja foi negociada a R$ 64,50 nesta quinta em Cascavel (PR), R$ 2,5 mais do que na quarta-feira (17).

Em Mato Grosso, os preços subiram de R$ 2 a R$ 4, com a saca atingindo R$ 56,5 em Sorriso e R$ 62 em Rondonópolis. Em Rio Verde (GO), o preço também esteve em R$ 62 por saca.


*Texto publicado na coluna ´Vaivém das Commodities´.

Mauro Zafalon