Devendo R$ 500 milhões, usina Cevasa vira problema para Cargill
26-05-2017

Multinacionais que investiram em usinas estão se desfazendo desses ativos, muitas vezes com prejuízos Foto: Thiago Teixeira
Multinacionais que investiram em usinas estão se desfazendo desses ativos, muitas vezes com prejuízos Foto: Thiago Teixeira

Em fase de reestruturação, por causa da crise do setor e da economia, usina precisa de R$ 200 milhões em dinheiro novo para garantir operação; americana controla negócio, que marcou sua estreia no setor sucroalcooleiro no País, em 2006.

A multinacional americana Cargill pretende encontrar nos próximos meses uma solução para a Cevasa, usina de açúcar e álcool que foi o primeiro investimento da companhia no setor sucroalcooleiro brasileiro, em 2006. A Cargill tem 63% do negócio, o restante está nas mãos de fornecedores de cana reunidos na Cana Agrícola Ltda (Canagril). Apesar de a americana ser a controladora, a gestão do negócio é compartilhada. Com endividamento de cerca de R$ 500 milhões, a usina precisa de um aporte entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões. Essa necessidade de investimento gerou um impasse entre os sócios, segundo apurou o Estado.

Multinacionais que investiram em usinas estão se desfazendo desses ativos, muitas vezes com prejuízos

De acordo com fontes familiarizadas com o assunto, não interessa mais à Cargill manter esse ativo em mãos. A indefinição sobre o aporte de capital pode afetar ainda mais a saúde financeira da unidade, instalada em Patrocínio Paulista (interior de São Paulo).

Os acionistas da Canagril, grupo formado por fornecedores de cana da região paulista, não estariam dispostos a colocar dinheiro na companhia. Se a Cargill fizer o aporte sozinha, os acionistas seriam diluídos, mas ainda exerceriam influência na companhia, por causa do desenho do acordo de acionistas.

O que está em jogo é o processo de reestruturação da Cevasa, que tem dívidas de R$ 500 milhões com os principais bancos brasileiros, entre eles Bradesco e Itaú, ainda segundo fontes.

As conversas com os bancos estão em andamento, mas a venda do ativo para investidores locais, hipótese que já foi considerada pela Cargill, encontra dificuldades porque a aquisição de operações sucroalcooleiras está em baixa por causa da crise do setor e da economia. A venda de ativos do segmento não está em seu melhor momento, uma vez que os preços estão depreciados, segundo fontes.

Além da Cevasa, a Cargill tem parceria com a SJC Bionergia em três unidades produtoras de açúcar e álcool em Goiás. Em 2014, a múlti uniu-se à Copersucar para criar a Alvean, uma das maiores negociadoras de açúcar do mundo. Esse é um negócio considerado lucrativo no segmento, uma vez que a comercialização de commodities faz parte do DNA da americana, maior companhia agrícola de capital fechado do mundo.

Concentração

O movimento de concentração do setor sucroalcooleiro ficou mais intenso a partir de 2003, quando o uso do etanol como combustível ganhou impulso do governo. Entre 2003 e 2010, o fechamento de aquisições foi intenso, atraindo ao País diversos investidores estrangeiros.

Na época da aquisição da Cevasa pela Cargill, em 2006, o setor prometia ser um forte movimento de consolidação que estava em curso pelo setor, além da Cargill, outras grandes tradings trilharam o mesmo caminho, como ADM, Bunge e Louis Dreyfus, mas nenhuma obteve o sucesso como produtora de açúcar e álcool, uma vez que setor enfrenta uma crise aguda há vários anos.

A ADM, concorrente global da Cargill em grãos, também adquiriu ativos no setor sucroalcooleiro, mas já deixou o negócio no Brasil. A ADM anunciou em 2016 que, após quatro anos procurando um comprador, conseguiu vender de suas áreas de canaviais e uma unidade fabril (destilaria), com capacidade de processar até 1,5 milhão de toneladas de cana por ano, para a JFLim Participações. Os termos de negociação não foram revelados.

Procurada, a Cargill informou, por meio de sua assessoria, que a Cevasa é uma empresa autônoma cuja gestão é compartilhada entre a Cargill e um grupo de produtores de cana-de-açúcar representados pela Canagril. A Cargill disse não fazer comentários sobre assuntos relacionados a empresas que não são controladas por ela. Jorge Rassi, um dos principais porta-vozes da Canagril, também não quis comentar o assunto. O Itaú também não se manifestou. O Bradesco não retornou os pedidos de entrevista.