Em meio à histeria, o importante é não perder o foco
26-09-2016

O mercado de açúcar em NY assistiu a um clima de histeria no pregão da última quinta-feira quando os preços subiram como um foguete em poucos minutos, fazendo o vencimento outubro/2016 negociar no nível mais alto desde 25 de julho de 2012, a 23.45 centavos de dólar por libra-peso. Para desespero das casas comerciais que estavam/estão vendidas a descoberto, instaurou-se um clima de pânico contaminando todos os demais meses de vencimento ao longo da curva de preços, que agora se estende até julho de 2019.

Como acontece em casos como esse, que você vai até a cozinha tomar um cafezinho e quando volta o mercado pulou 100 pontos na sua cara, a tomada de decisão fica prejudicada porque sob este tipo de ambiente a racionalidade lamentavelmente perde força e o argumento que não raramente vence em situações assim é o de "não fazer nada pois não sabemos o que vai acontecer". Pronto. É nesse momento que em nove entre dez situações similares, perde-se uma grande oportunidade de fixar bons preços.

Entre a máxima de quinta-feira e a mínima do pregão seguinte o tombo foi de mais de 7%. O outubro encerrou o pregão da semana cotado a 22.13 centavos de dólar por libra-peso, ainda assim uma alta de 35 pontos em relação à sexta anterior. Todos os demais meses de vencimento fecharam com altas maiores em relação ao fechamento da semana passada.

O preço médio de fechamento de NY (primeiro mês de vencimento) está em 20.89 centavos de dólar por libra-peso, ligeiramente acima dos 20.61 centavos de dólar por libra-peso que prevíramos no nosso modelo de preço e mencionado aqui no comentário de 19 de agosto.

Alguns fatores podem ter contribuído para subida repentina de preços. O mercado comenta, por exemplo, um volume de wash-out que dá indicações de que a disponibilidade de açúcar pode ser menor do que o mercado antecipava. O wash-out consiste numa operação em que o vendedor/produtor (usina) recompra sua posição vendida (para a trading) por verificar que não irá produzir o volume que inicialmente se comprometera a entregar, ou recompra para revender num mercado mais remunerador. No caso aqui, o primeiro exemplo é o dominante. Caso a usina tenha já fixado o açúcar, a trading tem que recomprar a posição fixada no mercado futuro alimentando a subida de preços. Piora a situação se a usina não pagar a diferença entre o preço fixado e o preço recomprado no mercado futuro, abrindo espaço para renegociações de contrato e todas as implicações delas resultante. Enfim, uma dor de cabeça para as tradings num ano em que o basis já não as ajudou muito.

Também pode ter contribuído para a alta, o fato de um grande comprador de VHP ter estado no Brasil durante a semana, aumentando a suspeita de que ele também foi pego de surpresa com a alta do mercado e pode não estar tão coberto como normalmente gostaria que os outros pensassem. Por último, a valorização do real que chegou a negociar a 3.1800.

Reiteramos que devemos manter o foco. O mercado deve subir. É possível ainda uma correção pequena, mas o objetivo continua sendo 24-25 centavos de dólar por libra-peso base março de 2017. É bom ver que as usinas estão aproveitando as oportunidades e continuando a construir um preço médio altamente remunerador para a próxima safra.

A queda da volatilidade das opções mostra que com o mercado subindo vimos os negociadores vendendo calls (opções de compra) para adicionar valor às fixações ou vendendo puts (opções de venda) para diminuir o custo de aquisição. Não nos pareceu que houvesse compra de opções para compensar as chamadas de margens.

Um ponto importante que deve ser lembrado nas discussões estratégicas que ocorrem no nosso dia-a-dia é o fato de a Petrobrás ter anunciado que o preço da gasolina negociado na bomba hoje está acima da paridade internacional e, portanto, cogita em breve alinhá-lo com o mercado externo. Sem dúvida, essa é uma das melhores notícias produzidas pela administração competente de Pedro Parente. Pelo nosso modelo, o preço justo da gasolina na bomba, para ficar em linha com o mercado internacional seria de R$ 2.9100 o litro. Não sabemos se a redução virá acompanhada da CIDE. Aparentemente não pois muitos economistas, entre eles o Professor José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, afirma que a CIDE é inflacionária. Admitindo que a redução do preço da gasolina ocorra a partir de 2017, temos dois efeitos importantes: o primeiro e mais óbvio é o aumento do consumo, embora o preço do etanol será igualmente pressionado. O segundo, é que ao estabelecer um critério na formação de preços dos combustíveis, Pedro Parente escancara as portas para a entrada de possíveis interessados em investir no setor sucroalcooleiro que necessita crescer pelo menos 200 milhões de toneladas de cana nos próximos cinco anos para atender a demanda tanto de açúcar como de etanol. Transparência na formação de preços é o mínimo que precisamos para crescer de maneira sustentável. O cenário para 2017/2018 promete ser muito bom.

A terceira estimativa de fixação de preços das usinas no mercado futuro de NY para a safra 2017/2018 aponta, segundo o modelo desenvolvido pela Archer Consulting, que até o final de agosto/2016 5,61 milhões de toneladas já haviam sido fixadas (21.2% da exportação estimada).

O preço médio apurado foi de 16.49 centavos de dólar por libra-peso. Em safras anteriores, o percentual máximo de fixação acumulada até agosto foi de 17% em 2012/2013. O valor médio ajustado de fixação, considerando as NDFs (contratos a termo de dólar com liquidação financeira), apontam para R$ 1.507,80 por tonelada, ou 65.64 reais por libra-peso. Julho e agosto foram meses com baixo volume médio diário de negociação na bolsa de NY. A expectativa é que o número de setembro cresça substancialmente pois a média de contratos negociados em setembro até o momento é de 210.000 lotes diários contra 85.000 dos dois meses anteriores.

*Artigo originalmente publicado no site da Archer Consulting no sábado (23).

Arnaldo Luiz Corrêa