Encruzilhada
17-04-2017

Por Arnaldo Luiz Corrêa

Existe a sensação por parte dos participantes do mercado de açúcar que estamos diante de uma encruzilhada. Não é algo novo, mas que se repete em todos os mercados de commodities que vão de um extremo a outro com muita rapidez. A desorientação faz com que fiquemos mais altistas na alta (lembre como tinha gente achando que o mercado ia para 60 centavos de dólar por libra-peso em 2010 quando alcançara 36 centavos de dólar por libra-peso) e mais baixistas na baixa (quando o mercado bateu 10 centavos em agosto de 2015 e tinha gente dizendo que ia para 8 centavos).

O mercado fechou a 16.60 centavos de dólar por libra-peso na semana encurtada pelo feriado de sexta. Foi um fechamento negativo, o nono nas últimas dez semanas, com o vencimento maio/2017 perdendo 17 pontos (3.75 dólares por tonelada) enquanto que os demais meses de negociação experimentaram variações negativas de 4 a 23 pontos.
Para onde pode ir o mercado é a pergunta que todos fazem. Estamos atravessando o período (abril até julho) em que sazonalmente os preços médios mais baixos ocorrem. A sensação é parecida àquela de estar numa montanha russa. Em pouco mais de 100 pregões o mercado pulou de 16.03 para 23.90 centavos de dólar por libra-peso (de 11 de maio a 6 de outubro passado). E, após atingir o ápice, escorregou ladeira abaixo em 125 pregões, de volta aos 16.05 centavos de dólar por libra-peso (de 6 de outubro até 5 de abril). Dá uma labirintite danada.

Acreditamos que o preço médio de NY para abril deva ficar em torno de 17 centavos de dólar por libra-peso (hoje está 16.52 centavos de dólar por libra-peso em 9 pregões) e em maio uma queda de 50 pontos no máximo. No entanto, como modelos falham, pode ser que o mercado já tenha antecipado esse quadro previsto para maio.

Muitas dúvidas acerca dos fundamentos deixam o mercado mais nervoso e mais volátil. O tamanho da safra do Centro-Sul, cuja estimativa de várias consultorias varia entre 582 e 612 milhões de toneladas de cana. O tamanho da safra indiana a partir de outubro (fala-se em 25 milhões de toneladas de açúcar) e mesmo a disponibilidade de açúcar no Centro-Sul (números próximos de 37 milhões de toneladas).

Qual o chão desse mercado, com tanta notícia ruim para os produtores, afinal? O etanol (hidratado) hoje negocia ao equivalente açúcar VHP a 13.86 centavos de dólar por libra-peso, enquanto o anidro é um pouco melhor: 14.59 centavos de dólar por libra-peso. Esse poderia ser considerado o chão do mercado. Por outro lado, se a Petrobras seguir a política de formação de preços da gasolina seguindo o mercado internacional, o preço da gasolina na bomba sofreria uma queda, pois o preço justo hoje é de R$ 2.9650 o litro. O que colocaria o hidratado a R$ 2.0750 o litro.

Curiosamente, um volume razoável de opções foi feito em NY com a venda de puts (opções de venda) ao preço de exercício de 15 centavos de dólar por libra-peso e concomitantemente a compra de calls (opções de compra) a 20 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, alguém apostando que abaixo de 15 não vai. Como não poderia ser de outra forma, a volatilidade das opções subiu. Maior volatilidade é sinônimo de maior incerteza. E, por essas e outras razoes, estamos todos nos sentindo um pouco desorientado.

O Professor Marcos Fava Neves fez um comentário sobre o recente episódio de importação de etanol que, segundo ele, “prejudicou principalmente as Usinas no Nordeste e levou uma parcela do setor a pedir uma taxa entre 15% a 20% de tributos sobre o combustível importado”. E conclui “. Eu sou a favor do livre comércio, portanto contra levantar tributos como forma de barreira ao acesso a mercados. Lógico que se o produto tem subsídio na origem, aí não estamos falando de concorrência justa e uma equalização de entrada é justificável. Não é o caso. ”
A título de curiosidade, nas últimas dez safras, o preço médio do açúcar negociado em NY no mês de maio foi inferior àquele negociado em abril em sete ocasiões. Excluindo os extremos, a queda média é de 3%.

Os fundos têm estado muito ativos no mercado futuro e os volumes negociados comparativamente a janeiro, fevereiro e março, mostram isso. Se existe algum alento para as usinas é o fato de o volume de fixação para maio e julho estar bem alto e terá pouco peso no início da safra.

Com a estarrecedora revelação de que a construtora Odebrecht mantinha uma poupança milionária para atender aos caprichos daquele que é o mais sujo de todos os políticos da história da República do Brasil, responsável pelo maior roubo aos cofres públicos da história da humanidade, só nos resta aguardar com muita alegria o dia que se aproxima. A prisão desse criminoso infame. A política brasileira é uma latrina sem fundo. Quantas gerações serão necessárias para que o país possa recuperar a autoestima, a ética e a cidadania apesar do esgoto fétido em que se transformou com a máfia que se instalou no estado brasileiro? Página triste da nossa história.