Enquanto o Brasil fica no escuro, sobra energia nos canaviais
20-01-2015

Em 1987, a pequena cidade de Barrinha, no interior paulista, passou a ser iluminada pela energia elétrica gerada por meio do bagaço de cana. Diferentemente da energia proveniente das hidroelétricas, a energia da biomassa da cana não percorria centenas de quilômetros até chegar em Barrinha. Era produzida ali no quintal da cidade, na Usina São Francisco, do Grupo Balbo, instalada na vizinha Sertãozinho.

A São Francisco estava entrando para a história: era a primeira unidade sucroenergética a exportar energia elétrica obtida de uma fonte 100% renovável para a CPFL Energia, empresa distribuidora de energia na região. Em seguida, a usina São Martinho, de Pradópolis, SP, e a Vale do Rosário, em Morro Agudo SP, hoje ligada ao Grupo LDC-SEV, também iniciaram seus projetos de geração de bioeletricidade, na época financiados com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a aquisição de máquinas e equipamentos utilizados pelas usinas.
Era o pontapé inicial para a comercialização da bioeletricidade proveniente da biomassa da cana, que passaria a ter papel preponderante para que o Brasil passasse a deter a matriz energética mais verde do planeta. Hoje, mais de 47% de toda a energia utilizada no país vem de fontes renováveis. O setor sucroenergético tem papel-chave nesse quadro: a cana-de-açúcar, matéria-prima para a produção de etanol e bioeletricidade, é a segunda maior fonte de energia do país, respondendo por 18% de toda a energia consumida pelo Brasil.
No começo, com a Usina São Francisco e a São Martinho, a bioeletricidade era capaz de atender o equivalente a 54 mil habitantes. Atualmente, cerca de 160 unidades sucroenergéticas exportam bioeletricidade no Brasil. A energia do bagaço vendida para a rede é equivalente a quase 30% de todo o consumo residencial do Estado de São Paulo. Do equivalente a 54 mil habitantes, abastecidos pela bioeletricidade em 1987, o setor passou na última safra para mais de 5 milhões de residências, ou 21 milhões de pessoas, utilizando energia da cana-de-açúcar durante o ano inteiro.
Atualmente a bioeletricidade já é equivalente a quase 15% da geração total anual no Estado de São Paulo. Somente as três usinas pioneiras - São Francisco, São Martinho e Vale do Rosário – já exportam o equivalente a abastecer quase meio milhão de pessoas durante um ano inteiro. A geração dessas três usinas desde 1987 é suficiente para abastecer por mais de um ano 10 cidades do porte de Sertãozinho (102 mil habitantes), ou duas cidades do tamanho de Ribeirão Preto. O aproveitamento da palha, o retrofit e incentivando um novo ciclo para os greenfields, há um potencial gigantesco para a bioeletricidade. O setor tem potencial para atingir 134 milhões de MWh/ano, ou 15.300 MW médios até 2020. Feitas as contas, isto equivale a mais de três vezes o que a usina de Belo Monte será capaz de produzir.
Acompanhe a CanaOnline, visualize no site ou baixe grátis o aplicativo para tablets e celulares e recebe as edições da revista – www.canaonline.com.br