Etanol e a questão da produtividade - Paulo Costa
28-08-2014

A notícia: “Endividado e achatado pela política de subsídios do governo à Petrobras, setor passa por sua pior crise; mas se tivesse melhorado sua eficiência no momento de euforia, tudo poderia ter sido diferente. A crise no setor sucroalcooleiro virou assunto de campanha eleitoral. Depois de sete anos em que o setor permaneceu à margem dos interesses e da política industrial dos governos petistas (desde o anúncio do pré-sal, em 2007), agora, os empresários do setor começam a ouvir um rosário de promessas de todas as esferas da República. Afinal, no tudo ou nada da política, convém aos candidatos buscar apoio dos mais necessitados. E, no campo empresarial, nem mesmo a indústria de transformação vai tão mal quanto as usinas de etanol.

A derrocada tem sido atribuída pelos próprios empresários à Petrobras e, indiretamente, ao governo. Mas não é bem assim. Apesar de ter saído do radar do governo desde 2007, o setor começou a titubear dois anos depois, com os efeitos da crise financeira minando o crédito para empresas no Brasil e no exterior. Mesmo endividados, empresários conseguiram manter a produção até 2011 porque vinham investindo, sobretudo, no aumento da área plantada de cana-de-açúcar — nas não em produtividade ou melhoria das mudas.” (Fonte: Veja.com)

O comentário: Ao digitar nossas anotações feitas durante o “Fórum Exame Brasil 2020″ do passado 13 de agosto notamos que uma palavra foi recorrente nas palestras e debates, desde Armínio Fraga até o economista e professor da Universidade de Columbia, José Alexandre Scheinkman: produtividade! Veja.com foi muito feliz ao abordar um ponto delicado no setor sucroalcooleiro: a insistência com que o segmento relaciona suas mazelas exclusivamente à questão do teto de valores imposto ao etanol pela política de preços aplicada pela Petrobras. Fosse essa a única agrura do setor todas as empresas que o compõem estariam em sérias dificuldades. O fato é que alguns grupos que se profissionalizaram no momento devido mostram resultados positivos em seus balanços. Vou exemplificar, sem medo de erro: Grupo São Martinho, Tereos / Guarani, muitas das usinas que são parte da Copersucar*, o Grupo Alto Alegre, a Raízen.

Não se ouve esta gente chorando, apesar de estarem todos no mesmo ambiente de negócios. Por que? Simples é a resposta: desapegaram do Governo!!! Não se conhece outro setor do agronegócio brasileiro que tenha – e isto é histórico e colonial – ficado tão dependente de ações governamentais. Mas estes empresas aqui mencionadas, também vítimas até certo ponto da euforia desmedida que tomou conta do setor em 2006/8, souberam se reencontrar rapidamente. Além de movimentos de compra e venda de ativos, capitalização no momento adequado, os sobreviventes sadios do setor investiram em produtividade agrícola, usando toda a tecnologia disponível no Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Fizeram isto utilizando mudas de qualidade, planejando seus viveiros, executando uma gestão adequada da lavoura, prezando mais a qualidade do que a quantidade de cana replantada. Foi uma travessia difícil mas o resultado está aí. Quem não agiu assim, ou está de portas fechadas ou em processo de recuperação judicial. Transitando em outro espaço, mas aí é tema para um livro, andam Bunge e Dreyfus, lambendo suas feridas por investimentos feitos em um setor que não lhes é familiar.

* Copersucar e Cargill pretendem começar a operar sua nova joint venture de comercialização de açúcar no mercado global em 1º de outubro.

Paulo Costa é consultor em agronegócios e bioenergia