Etanol já remunera melhor que açúcar em usina longe do porto
08-05-2017

Deixado de escanteio na última safra pelas usinas, o etanol hidratado está começando a oferecer uma remuneração mais alta que o açúcar em Estados mais distantes do porto de Santos, principal via de exportação do adoçante. Conforme levantamento da consultoria FCStone, já está mais vantajoso para as usinas em Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul produzir etanol em detrimento do açúcar.

Nesses Estados, o preço do etanol hidratado, convertido à medida do açúcar no mercado internacional (libra-peso), está acima do fechamento de ontem do contrato mais negociado do demerara na bolsa de Nova York (para entrega em julho), de 15,37 centavos de dólar a libra-peso.

Em Goiás, o etanol hidratado está valendo o equivalente a 15,85 centavos de dólar a libra-peso; em Mato Grosso do Sul, a 15,60 centavos de dólar a libra-peso; e, em Mato Grosso, a 17,40 centavos de dólar a libra­peso. Os valores foram apurados na sexta-feira passada, mas pouco variaram nos últimos dias, diz Ricardo Nogueira, consultor da FCStone.

A diferença é maior nos Estados mais afastados do litoral porque o cálculo considera o custo com frete, que aumenta conforme a distância do porto, explica Nogueira. Além disso, enquanto o custo do frete de açúcar recai sobre a usina, o frete de etanol é responsabilidade da distribuidora, acrescenta.

Essa virada no mercado ocorre justamente em Estados onde mais houve movimentos em 2016 para a produção de açúcar, seja de destilarias que instalaram fábricas de açúcar, seja de usinas que compraram novas máquinas e mexeram em suas estruturas para elevar a capacidade de produção de açúcar.

Mesmo nos Estados onde o preço do etanol hidratado ainda está abaixo do açúcar, a produção do biocombustível pode ser mais vantajosa. Como a venda do etanol oferece mais liquidez, porque o pagamento à usina se dá assim que o produto é posto nos caminhões da distribuidora, nem sempre é preciso que o produto esteja remunerando mais a usina para estimular a produção do biocombustível.

Uma das usinas que investiu em fábrica de açúcar em 2016 foi a Bioenergética Aroreira, com uma usina no município mineiro de Tupaciguara, que passou a ter capacidade para produzir 120 mil toneladas de açúcar por safra. Segundo José Rubens Bevillaqua, diretor da companhia, a unidade só não vai mudar o "mix" açucareiro, programado em 80% para esta safra, porque boa parte de sua produção já está com preço fixado. "Já para o ano que vem, podemos ter que rever", indicou.

Quando a Aroeira tomou a decisão de investimento, o açúcar estava acima de 20,5 centavos de dólar no mercado internacional e o dólar estava em cerca de R$ 3,40. Atualmente, tanto a commodity como o câmbio estão menos favoráveis para os exportadores.

Nogueira, da FCStone, lembra que cerca de 60% do açúcar para exportação teve seu preço fixado até agora, o que significa que 40% ainda está por ser negociado. "Não é pouca coisa, é a maior safra do mundo. Se o preço em Nova York cair mais, pode retirar da safra de 2 milhões a 3 milhões de toneladas", estima ele.

As perdas nas cotações do açúcar têm se aprofundado nos últimos dias com mais liquidações de posições por parte dos fundos. No último dia 25 de abril, os gestores de recursos ("managed money") reduziram seu saldo líquido comprado em Nova York em 56%, para 13.656 papéis, segundo a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC).

Enquanto o açúcar amplia suas perdas, os preços do etanol não estão caindo com a mesma força nas últimas semanas. No fim de abril, o indicador Cepea/Esalq para o etanol hidratado em São Paulo chegou a acumular alta de 0,9% em quatro semanas, enquanto os contratos de segunda posição de entrega do açúcar demerara na bolsa de Nova York cederam 7,4%.

Os preços do etanol estão inclusive mais altos que um ano atrás. Depois de uma entressafra com valores pressionados, o etanol tem variado menos. O indicador Cepea/Esalq para São Paulo na semana até 28 de abril ficou 11% acima do valor até 29 de abril de 2016.