Ex-funcionários de usina queimam pneus e bloqueiam passagem de caminhões com cana-de-açúcar
15-05-2017

Passagem de caminhões carregados com cana foi bloqueada por manifestantes (Foto: Diego Guedes Pereira/Cedida)
Passagem de caminhões carregados com cana foi bloqueada por manifestantes (Foto: Diego Guedes Pereira/Cedida)

Manifestantes reivindicam o acerto de pagamentos atrasados e de rescisões trabalhistas de demissões que ocorreram desde novembro do ano passado.

 


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Por Valmir Custódio, G1 Presidente Prudente

Cerca de 70 ex-funcionários da Usina Alta Paulista (Usalpa), segundo a organização do ato, bloquearam nesta sexta-feira (12) a vicinal conhecida como Estrada Vale Verde, em Junqueirópolis, e impediram que caminhões carregados com cana-de-açúcar para moagem chegassem à Usina Rio Vermelho. Os manifestantes reivindicam o pagamento de salários atrasados e o acerto das rescisões trabalhistas.
O manifesto teve início por volta das 8h e a passagem dos veículos foi impedida com galhos de árvores e pneus incendiados. A ação, segundo os manifestantes, teve o objetivo de não deixar a cana-de-açúcar da Usalpa chegar à Rio Vermelho para ser processada, como forma de “forçar” a primeira usina a acertar os direitos trabalhistas.
“O pessoal foi demitido em novembro do ano passado e ninguém recebeu nada ainda. Quem foi mandado embora em fevereiro nem recebeu o último salário. Muitos não tiveram o Fundo de Garantia depositado e não conseguem receber o seguro-desemprego. Tem trabalhador passando necessidade e dependendo de parentes”, disse Daniel Cavalcanti, de 25 anos, analista de laboratório, que foi demitido em fevereiro.
O ex-funcionário também explicou ao G1 que no dia 5 de abril houveoutra manifestação em frente à Usalpa, onde ficou acertado entre a empresa e os ex-colaboradores que o dinheiro da venda de cerca de 300 mil toneladas de cana seria revertido para o acerto dos direitos trabalhistas, porém, segundo Cavalcanti, o acordo não foi cumprido.
“Chamaram a gente para conversar e disseram que venderiam 300 mil toneladas de cana por até R$ 20 milhões e acertariam com a gente no último dia 28 de abril. A cana foi processada, já pagaram a usina e ainda não acertaram com a gente. Estamos tentando colocar pressão. Se a Usina Rio Vermelho ficar sem cana para moer, ela vai por pressão na Usalpa, que já está recebendo dinheiro”, pontuou Cavalcanti ao G1.


Sindicato
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Química, Farmacêutica e da Fabricação de Álcool de Presidente Prudente e Região (Sindiálcool), Milton Ribeiro Sobral, informou ao G1, nesta sexta-feira (12), que as demissões na Usalpa tiveram início em novembro do ano passado e foram concluídas em fevereiro, porém, diversos ex-colaboradores não receberam os valores das rescisões e de salários atrasados.
“A Usalpa demitiu, não pagou as verbas rescisórias e o sindicato entrou com uma ação para garantir esses direitos. Fizemos um compromisso verbal com a usina de que o dinheiro dessa cana seria utilizado para pagar os trabalhadores. A manifestação é justa, porque eles foram demitidos e não receberam verbas rescisórias. Tem alguns que não receberam nem o último salário. O sindicato já entrou na Justiça representando cerca de 360 trabalhadores e o nosso objetivo é que ela [Justiça] reconheça que a cana vendida possa ser destinada aos ex-funcionários”, concluiu.
Pacífico
Segundo a Polícia Militar, o protesto contou com cerca de 20 manifestantes e não houve nenhum tipo de violência ou conflito.
Ainda conforme a PM, a manifestação começou por volta das 9h e durante toda a sua duração teve caráter pacífico, como foi constatado no Boletim de Ocorrência.
Após a chegada da PM ao local, os manifestantes começaram a dialogar com os policiais e, depois de cerca de 20 minutos, entraram em consenso e liberaram a via, dando passagem aos veículos.
Outro lado
Em nota ao G1, a Usalpa informou que, “com relação às reivindicações, a empresa está buscando recursos para cumprir com a integralidade dos direitos trabalhistas, durante a safra 2017, priorizando os pagamentos dos salários e as verbas rescisórias”.
O G1 também entrou em contato com a Usina Rio Vermelho, apontada como a compradora da cana-de-açúcar da Usalpa, mas as ligações não foram atendidas.

(Com a colaboração de Gabriel Campoy).