Governo de SP irá vender 9 fazendas de pesquisas
05-01-2017

O governo paulista deixará de arrecadar até R$ 300 milhões com a exclusão de quatro fazendas do Projeto de Lei 328, que previa a venda de 13 unidades de pesquisa agropecuária como forma de levantar dinheiro para o Estado. Os deputados paulistas aprovaram no fim de novembro o texto, retirando da lista as unidades de Gália, Brotas, Ribeirão Preto e Piracicaba. Segundo Orlando Melo de Castro, coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), vinculada à Secretaria de Agricultura, a questão é menos o que se deixará de ganhar com a venda das propriedades e mais quanto terá de ser gasto para mantê-las ativas. "Não podemos simplesmente abandonar as áreas - temos custos de energia, de manutenção. A gente queria cuidar só daquilo que é estratégico para a pesquisa. Paciência, já foi", diz. Desde que a venda das fazendas começou a ser cogitada, há três anos, pesquisadores e o governo travaram uma queda-de-braço. Por um lado, os cientistas acusavam o Estado de desmantelamento da estrutura de pesquisas. Por outro, o governo defendia a reestruturação de prioridades científicas, com a venda de áreas vistas como "inservíveis" à pesquisa nos dias de hoje.
A retirada das quatro unidades deveu-se diretamente à atuação dos legisladores vinculados a essas cidades, diz o pesquisador Hamilton Ramos, do Centro de Engenharia e Automação (CEA), de Jundiaí. "Foi uma questão política, não técnica", afirma Ramos, em tom resignado. A unidade, de 110 hectares e avaliada em R$ 645 milhões, entrou no pacote de imóveis à venda. Castro, da Apta, defende que as áreas escolhidas já não fazem mais sentido para estudos científicos, seja porque a vocação da região deixou de ser rural ou porque são grandes demais para demanda atual, resultando em ociosidade. Em Ribeirão Preto, a área disponibilizada para venda - mais de 100 hectares que poderiam chegar a R$ 200 milhões - encaixa-se nesse contexto, diz ele. "Queríamos vender a parte da fazenda que não é mais aproveitada e nos traz dor de cabeça". Segundo Castro, as pesquisas com gado leiteiro já foram transferidas para a unidade de Nova Odessa. "A fazenda foi engolida pela área urbana, e os casos de roubos de animais de pesquisa eram comuns. Nem milho podemos arriscar estudar, porque vai sumir".
Uma alternativa, agora, será tentar um modelo similar ao de arrendamento, no qual o terreno é licitado para terceiros. A Apta não teria mais de administrar a área. Aos pesquisadores caberiam só as pesquisas com novas plantas. Ao arrendatário, a possibilidade de venda da colheita para o mercado. Conforme Castro, a Apta já realiza esse modelo de negócio em outras sete áreas, todas com cana-de-açúcar. Para Ribeirão, as opções seriam os cultivos de soja ou sorgo. A partir de agora, os centros de pesquisas serão desativados gradativamente e reagrupados em outras fazendas do Estado. Segundo Castro, não há um cronograma fechado para essa reestruturação. "Há um número significativo de pesquisadores residentes nessas unidades - só em Jundiaí são cerca de 60 famílias -, o que demanda tempo", diz ele. O mau momento do mercado imobiliário tampouco gera pressa no governo. A avaliação dessas propriedades ficará com o setor de Patrimônio Imobiliário de São Paulo, seguido de chamada pública para licitação. Inicialmente, o governo pretendia arrecadar quase R$ 1,4 bilhão com a venda de 13 fazendas de pesquisas. Agora, terá de se contentar com alguns milhões a menos.