Impactos socioeconômicos do setor sucroenergético são apontados em estudo
10-03-2015

Crescimento do setor é motivado pelas possibilidades de redução da emissão de gases

Além da sua grande representatividade histórica no agronegócio brasileiro, o setor sucroenergético vem ganhando notoriedade no atual contexto da emergência da economia de baixo carbono e da crescente demanda e oferta mundial por fontes alternativas e renováveis de energia. “Esse crescimento é motivado pelas possibilidades de redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE), redução da dependência de combustíveis fósseis (e suas oscilações de preço) e ainda pela possibilidade de promoção do desenvolvimento econômico de diversas localidades”, explica o economista e especialista em agronegócio, Leandro Gilio.

“Como consequência do crescimento da produção e consumo de etanol e açúcar, intensificado na última década, o avanço da cultura canavieira sobre novas áreas suscita uma série de questões de cunho ambiental, econômico e social acerca dos possíveis efeitos resultantes deste processo”. Considerando a importância da discussão deste tema, Gilio avaliou, em sua dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação (PPG) em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), os impactos socioeconômicos causados pela expansão do setor no país.

O trabalho, desenvolvido durante o ano de 2014, foi organizado no formato de dois artigos científicos, que, segundo o autor, podem ser lidos e avaliados de forma independente. O primeiro, denominado “O impacto socioeconômico da expansão canavieira: uma revisão sistemática da literatura”, mostra o atual estágio das pesquisas desenvolvidas na área, podendo subsidiar trabalhos futuros. Para essa pesquisa, foram levantados cerca de 1.300 trabalhos e artigos, nacionais e internacionais, em língua portuguesa ou inglesa. Após análise criteriosa, Gilio selecionou 46 estudos para leitura integral e analítica. A maioria dos trabalhos tinha origem brasileira (cerca de 40%).

De acordo com Gilio, a metodologia empregada nesta avaliação é pouco explorada na área de ciências econômicas. “Este trabalho é mais utilizado nas áreas de saúde e conhecido como ‘prática baseada em evidências’”. No caso das ciências humanas, o método torna-se importante para fornecer uma base sintética e atualizada para estudos futuros, mostrando uma espécie de ‘retrato’ do atual desenvolvimento científico da temática e evidenciando lacunas e novas possibilidades de estudo.
O artigo revela que existe uma predominância de estudos com enfoque regional e que as temáticas mais exploradas são aquelas relacionadas às dimensões de trabalho e uso da terra. “Para o caso nacional da expansão do setor sucroenergético, há ainda uma carência de estudos que avaliem os efeitos de acordo com recentes configurações do setor, como a proibição da queima de cana de açúcar, as mudanças no mercado de trabalho causadas pela mecanização e alterações institucionais ligadas à posse e arrendamento de terras, por exemplo”, acrescenta o economista.

Já o segundo artigo, “Avaliação de impacto socioeconômico da expansão do setor sucroenergético em municípios paulistas”, trata dos efeitos decorrentes da expansão canavieira recente e da presença de usinas sobre os municípios produtores e proximidades, no estado de São Paulo. Para tal proposta, foi construído um painel com dados de todos os 645 municípios do Estado para se avaliar o efeito da expansão da área cultivada e da presença de usinas. O desenvolvimento socioeconômico dos municípios foi avaliado pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A área plantada de cana foi fornecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e as informações sobre usinas, coletadas no Anuário da Cana. O modelo em painel considerou aspectos dinâmicos e espaciais (distâncias entre as cidades) e variáveis de controle. A estimativa foi feita a partir do Método de Momentos Genralizado (GMM), técnica econométrica genérica de estimação de parâmetros.

No estudo, Gilio conclui que o efeito positivo da existência de usinas de cana de açúcar nas cidades é o seu desenvolvimento socioeconômico, sendo maior nas cidades próximas ou vizinhas que na própria cidade onde está a usina. Isso se dá, segundo o autor, pela grande dependência do desenvolvimento regional para o local. “Os municípios vizinhos podem se beneficiar mais, por terem economia mais diversificada e não tão dependentes do setor sucroenergético”.

Com relação apenas à expansão da área agrícola de cana-de-açúcar, foi identificado um pequeno efeito negativo para o desenvolvimento socioeconômico local, sem impacto significativo sobre as proximidades. “Este fato pode ser entendido como uma captação do efeito da mecanização neste setor, que tornou a cultura de menor trabalho intensivo”, acrescentou.

Segundo o pesquisador, o melhor entendimento dos aspectos avaliados em sua tese contribui para o desenvolvimento do setor sucroenergético e para a promoção de políticas de incentivo. Para Gilio, novos trabalhos devem ser desenvolvidos na área, utilizando métodos quantitativos e qualitativos, de modo a se subsidiar políticas públicas e iniciativas de promoção no setor. A orientação do estudo foi da professora Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ. A pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).