Jornada pela recuperação da produtividade agrícola passa pela irrigação
05-12-2022

 Gotejamento é a principal tecnologia para mitigação dos impactos causados pelo clima. Foto: Divulgação Bevap
Gotejamento é a principal tecnologia para mitigação dos impactos causados pelo clima. Foto: Divulgação Bevap

De todas as modalidades, o gotejamento se mostra como a mais eficiente, pois alia baixo volume a alta frequência

Leonardo Ruiz

Driblar o clima e se libertar das amarras impostas pela estagnação da produtividade canavieira são os grandes desafios do setor sucroenergético na atualidade. Fato é que a instabilidade climática vem “jogando” contra o segmento nos últimos anos, reduzindo as médias de produção e impactando negativamente a rentabilidade de usinas e agrícolas pelo país.

O consultor associado da Canaplan, Nilceu Piffer Cardozo, relata que a produtividade média dos canaviais brasileiros sofreu uma forte retração a partir de 2008, época em que o setor vivia uma de suas grandes expansões. “Nesse período, a produção geral registrou um grande salto. O problema é que esse crescimento se deu em cima de área, e não de produtividade. Pelo contrário. Aquele teto de 85 toneladas por hectare (TCH) se perdeu. Hoje, suamos a camisa para alcançar médias que variam de 68 TCH a 73 TCH.”

Segundo o consultor, muitos culpam o aumento dos custos de produção e, consequentemente, o avanço da idade média dos canaviais por essa estagnação. No entanto, o histórico de produtividade agrícola x idade média mostra que, embora sejam importantes, não há uma relação direta entre as partes. “As condições climáticas podem não ser as únicas vilãs, mas constituem em um dos principais fatores redutores da produção agrícola.”

Nilceu Piffer Cardozo: “Vivemos à mercê do clima a todo momento, e a única saída é tentar fazê-lo se dobrar às nossas necessidades”

Foto: Arquivo pessoal

Para Cardozo, vivemos à mercê do clima a todo momento, e a única saída é tentar fazê-lo se dobrar às nossas necessidades. “Se olharmos o balanço hídrico das últimas safras, fica claro que, mesmo em anos de boa pluviosidade, a precipitação foi bastante irregular, com chuvas intensas, mas espaçadas. Por conta disso, a jornada pela recuperação da produtividade passa, obrigatoriamente, pela irrigação.”

Mas o consultor da Canaplan salienta que não basta apenas ampliar o uso da ferramenta nos canaviais brasileiros. É necessário também partir para modalidades mais eficientes. “Dentre as possibilidades existentes no mercado, o gotejo é de longe a mais atrativa, uma vez que permite uma melhor estabilização da oferta de matéria-prima, ganhos indiretos atrelados a outras tecnologias, redução de custos via aumento de produtividade, maior aproveitamento dos recursos hídricos e redução das emissões de CO².”

Pioneira e líder mundial em soluções para irrigação, a Netafim possui a tecnologia de irrigação por gotejamento certa para seu canavial, que alia baixo volume a alta frequência, entregando as quantidades ideias de recursos hídricos de acordo com as fases de cada cultivo, no momento certo e diretamente na raiz das plantas. A ferramenta ainda permite a aplicação de moléculas químicas e orgânicas e produtos biológicos através dos mesmos equipamentos de injeção de água.

Produtividade sob diferentes manejos

Fonte: Cardozo, 2013

Um dos principais benefícios da tecnologia é o incremento expressivo de produtividade, seguido pela diluição dos custos de plantio, em função do aumento de longevidade dos canaviais; estabilidade na produção; previsibilidade de safra; maior eficiência no uso da água; elevação da cogeração de energia; maior geração de Créditos de Descarbonização (CBIOs) e diminuição dos gastos com CTT (Corte, Transbordo e Transporte).

Atualmente, a Netafim oferece duas modalidades tecnológicas de gotejo para cana-de-açúcar. Em canaviais comerciais, é recomendada a irrigação por gotejamento subterrânea. Já em viveiros (Cantosi ou Meiosi), é possível instalar as mangueiras e tubos gotejadores de forma superficial e movê-los para novas áreas sempre que necessário. Ambas as soluções podem ser instaladas de pequenos a grandes canaviais.

Setor não pode ter memória curta e se enganar com uma ou duas safras de clima estável

Há dez anos, o setor sucroenergético nacional enfrentava uma safra de condições climáticas bastante semelhantes às observadas no ano passado. Assim como 2021/22, o ciclo 2011/12 foi marcado por uma severa estiagem, que levou a quebras acentuadas de produtividade agrícola. Essa situação caótica levou usinas e produtores independentes a buscar formas de mitigar os impactos negativos causados pelo clima adverso. A irrigação – outrora vista como essencial apenas para a produção de cana no Nordeste brasileiro – despontou como a favorita.

Porém, o momento não era muito propício a grandes investimentos. O segmento se encontrava em meio a uma expansão desordenada, acompanhada de uma valoração dos produtos e guinada nos custos de produção. Enquanto isso, o mundo enfrentava uma forte crise de crédito, com juros exponenciais. “Era uma tempestade perfeita, que acabou por engavetar qualquer plano de investimento mais arrojado”, observou o consultor associado da Canaplan, Nilceu Piffer Cardozo.

 “Cana gigante” do Centro de Cana do IAC prova que o gotejamento é a tecnologia que mais permite uma aproximação do real potencial produtivo da cana-de-açúcar

Foto: Leonardo Ruiz

Com o passar dos anos, o assunto irrigação ficou parcialmente esquecido. Apenas algumas unidades do Centro-Sul investiram – mesmo que timidamente - na tecnologia ao longo da década passada. Por um acaso do destino, essas empresas foram as únicas que conseguiram passar quase ilesas pela estiagem de 2021, ano que trouxe o tema “irrigação” à tona novamente. “Não podemos passar novos dez anos discutindo se compensa ou não investir em irrigação. Sabemos que vale a pena, e como estamos vivendo um momento mais favorável, nos resta agora transformar isso em realidade.”

O Representante Técnico de Vendas (RTV) da Netafim, Pericles Pelisser, conta que, a partir da crise hídrica de 2011, a companhia começou a instalar vários projetos de irrigação pelo Centro-Sul do país a fim de mostrar o real potencial da tecnologia. Com base nos resultados desses campos, ele afirma que muitas usinas e agrícolas passaram a enxergar o quanto a tecnologia faz sentido.

Segundo ele, mesmo nos períodos de melhor pluviosidade, as áreas irrigadas entregaram maiores produtividades na comparação com o sequeiro. “Em 2020, um ano de boas condições climáticas, a produção na área de gotejo foi 58% superior ao sequeiro. Já no ano seguinte, o pior da série histórica, a diferença foi de 72%.”

Na visão de Pelisser, é hora de criar uma cultura irrigante dentro das empresas sucroenergéticas. “Acredito que ninguém mais tem dúvidas sobre a eficácia da tecnologia de irrigação. Todos sabem que ela funciona. O necessário agora é começar a investir no sistema, instalando áreas de testes a fim de adaptar o sistema a cada realidade.”

 Pericles Pelisser: “Mesmo nos períodos de melhor pluviosidade, as áreas irrigadas entregam maiores produtividades na comparação com o sequeiro”

Foto: Divulgação Netafim

O RTV frisa, contudo, que o investimento em irrigação requer certos cuidados, especialmente no tocante a operação. Pensando nisso, a companhia lançou na Agrishow deste ano o “Netafim Services”, que permite ao agricultor escolher uma solução de irrigação e fertirrigação sob medida com exatamente o nível de suporte que necessita. “Através desse modelo de negócios, será possível ter todo o conhecimento da Netafim dentro da sua propriedade, trazendo altas produtividades, rápido retorno do seu investimento e maior sucesso a longo prazo. Nosso objetivo principal é extrair 100% da performance dos projetos”, detalha Pelisser.

O “Netafim Services” pode ser dividido em três planos, sendo cada um pensado para necessidades distintas, do treinamento completo das equipes de campo até a operação total do sistema durante as 24 horas por dia por funcionários da própria Netafim. Lembrando que os planos possuem vigências variadas, podendo compreender períodos de 12 meses a 10 anos. As taxas são mensais ou anuais.

Usina Santa Adélia aprova projeto de irrigação por gotejamento para 1300 hectares de canaviais

Após a grande seca de 2011, alguns grupos canavieiros iniciaram a instalação de pequenos projetos de irrigação tecnificada a fim de conhecer o sistema e se preparar para futuras adversidades. Cássio Manin Paggiaro, atual diretor agrícola da Usina Santa Adélia, acompanhou um desses experimentos.

Para ele, a tecnologia traz como principais benefícios a previsibilidade e estabilidade na produção. “A irrigação surge como uma ferramenta de segurança empresarial, permitindo que agrícolas e usinas planejem seus contratos com menos riscos, uma vez que a produção não será muito afetada caso ocorram secas abruptas no decorrer da safra.”

Para Cássio Manin Paggiaro, irrigação por gotejamento traz previsibilidade de safra e estabilidade na produção

Foto: Leonardo Ruiz

Além das vantagens citadas, o profissional destacou ainda o aumento da longevidade dos canaviais e a verticalização da produção, que além de incrementar os volumes de matéria-prima também reduz a necessidade de arrendamentos e/ou expansões mais distantes da unidade agroindustrial/sede da fazenda. A melhoria da sustentabilidade ambiental também foi lembrada por Paggiaro, em função do uso mais eficiente da água e da redução dos gastos com óleo diesel.

Entre as modalidades de irrigação, Paggiaro destaca o gotejamento como a mais eficiente. “Os pivôs e canhões possuem uma eficiência menor, pois ao serem projetadas no ar, as gotículas de água podem acabar facilmente sendo arrastadas pelo vento ou evaporadas antes de alcançarem a lavoura. Além disso, grande porcentagem dessa água pode ficar retida sobre as folhas, não chegando ao alvo principal: as raízes. Por outro lado, o gotejamento faz um uso muito mais racional, já que aporta tanto água como nutrientes diretamente no sistema radicular e de forma parcelada de acordo com as fases do cultivo.”

Expectativa da Usina Santa Adélia é ampliar gradativamente sua área irrigada por gotejamento, chegando a 5 mil hectares nos próximos três anos

Foto: Divulgação Usina Santa Adélia

Recentemente, a Usina Santa Adélia aprovou um projeto audacioso de irrigação por gotejamento para a unidade de Pereira Barreto/SP, que deve ter seu primeiro módulo instalado a partir do plantio de 2024 em uma área de 1300 hectares. “Esse será o nosso primeiro real contato com a tecnologia. Por conta disso, esperamos um trabalho árduo ao longo dos próximos meses, já que a implantação requer um planejamento minucioso, que envolve uma série de ações, desde a eletrificação da área até a busca por licenciamentos e aprovação de outorgas.” A expectativa da companhia é ampliar gradativamente sua área irrigada por gotejamento, chegando a 5 mil hectares nos próximos três anos.

Fonte: CanaOnline