Lincoln Junqueira tem melhores resultados
04-08-2017

A maré desfavorável ao setor sucroalcooleiro nesta safra 2017/18, com os preços de açúcar e etanol propiciando uma remuneração estreita, não deverá ser motivo para o grupo Lincoln Junqueira desistir do foco na redução de seu endividamento, que foi central na safra passada. Dono das usinas Alta Mogiana e Alto Alegre, o grupo pretende continuar aliviando o peso das obrigações financeiras para enfrentar o mercado mais adverso.

Ao longo da última temporada, a 2016/17 a companhia reduziu o endividamento em cerca de R$ 700 milhões e tinha uma dívida líquida no último dia do ciclo, 31 de março, de R$ 814 milhões - caindo quase pela metade em um ano, conforme balanço publicado nesta quinta-feira. Além disso, a parcela de dívidas de curto prazo caiu, somando R$ 603 milhões naquela data, quando a empresa tinha em caixa R$ 1,6 bilhão.

O grupo também elevou sua receita líquida para R$ 2,7 bilhões em 2016/17 e quase triplicou o lucro, para R$ 664 milhões.

O câmbio contribuiu para a redução da dívida, de acordo com a direção da empresa. Com uma produção que se especializou nas últimas safras em açúcar VHP para exportação, o grupo também se financiou em dólar. Atualmente, em torno de 70% do endividamento bruto da empresa está na moeda americana, e como a divisa recuou ao longo da safra 2016/17, o peso dessa dívida também diminuiu. O grupo espera manter seus débitos sob controle nesta safra, mas como a dívida se reduziu, estima que o desembolso com despesas financeiras também será menor. Além de contar com um câmbio ainda apreciado, a redução das taxas de juros também devem colaborar para isso.
A companhia também avalia opções de financiamento no mercado doméstico, como emissão de certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs), para contornar as condições menos favoráveis de linhas do BNDES, que estão com taxas de juros maiores.

Segundo a direção do grupo, o controle da dívida e dos gastos em geral é visto como fundamental para que a empresa não volte a se alavancar, já que a queda do açúcar e do etanol nesta temporada deve prejudicar a geração de caixa. O grupo Lincoln Junqueira encerrou a safra passada com uma alavancagem (dívida líquida sobre Ebitda) de 0,81 vez, ante 1,34 vez na temporada anterior. A meta da empresa é manter essa relação abaixo de 2 vezes. A alta das cotações do açúcar foi a responsável pelo aumento da receita do grupo no ciclo 2016/17. Da receita operacional líquida, R$ 2,1 bilhão foram obtidos com as vendas da commodity, quase 80% do total. Para esta safra, o grupo fixou o preço de venda de metade da produção esperada de açúcar a um valor médio acima do preço da última temporada, mas a fixação do restante deve trazer essa remuneração para baixo, estima a direção.

A companhia também espera uma produção menor de açúcar, já que a moagem de cana deve ser prejudicada pelas geadas recentes e ainda pelos efeitos do clima adverso do ano passado. Após bater o recorde de processamento em 2016/17 com 16,2 milhões de toneladas, o grupo estima que moerá 15,5 milhões de toneladas de cana neste ciclo. A redução da produção de açúcar deve ser proporcional e deverá ficar perto de 1,4 milhão de toneladas, depois de atingir 1,5 milhão de toneladas na safra passada, conforme a direção. O que deve minimizar o cenário negativo é o negócio de cogeração, segundo o grupo. Os preços de energia no mercado livre (PLD) nesta semana ultrapassaram os R$ 500 o megawatt-hora (MWh), a valores não vistos há quase três anos.

A redução de moagem de cana deve limitar os investimentos, como em maquinário e equipamentos. Após elevar os aportes em capital fixo de R$ 396 milhões para R$ 503 milhões, a expectativa é que nesta temporada os investimentos voltem perto dos R$ 400 milhões.

Por Camila Souza Ramos