Mercado é entrave para produção de etanol por grãos
25-06-2014

A produção de etanol através do esmagamento de grãos nas usinas de cana-de-açúcar é alvo de debate entre representantes da cadeia produtiva no Mato Grosso e tem ampla viabilidade. Porém, a medida esbarra em questões mercadológicas como a dificuldade de transporte para o eixo Sul-Sudeste e a política de preços aplicada nos combustíveis.

O diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleieras do Estado de Mato Grosso (Sindalcool-MT), Jorge dos Santos, conta que duas usinas da região já foram adaptadas para a produção do biocombustível através de sorgo e milho. Cerca de 100 mil toneladas de grãos já foram esmagados para esta finalidade na última entressafra do setor sucroenergético.

"A produção tem viabilidade total e absoluta. O investimento industrial varia entre R$ 25 e R$ 50 milhões para que uma usina se torne flex- capaz de produzir etanol a partir das diferentes matérias-primas - mas existem algumas vantagens dos grãos sobre a cana-de-açúcar. A primeira é a possibilidade de armazenagem, que já não ocorre com a cana", explica Santos.

De acordo com o gerente de planejamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Cid Sanches, as usinas ficam paradas entre os meses de dezembro e abril, justamente pela impossibilidade de estoque da cana-de-açúcar e podem continuar produzindo o biocombustível neste período.

Outro benefício apontado pelo diretor do Sindalcool é subproduto que resulta do esmagamento dos grãos, uma proteína chama BDGS que pode ser fornecida para alimentação de bovinos e suínos em confinamento.

O custo de produção também é menor. Enquanto o produtor gasta em torno de R$ 1,50 para a geração de etanol pela cana-de-açúcar, através dos grãos este valor cai para R$ 1,20. "Aqui esbarramos na logística. Para deslocarmos um litro de etanol até Paulínia, em São Paulo, o custo varia entre R$ 0,18 e R$ 0,22, como fazer isso com um produto com custo de produção de R$ 1,20?", questiona Santos.

Sendo assim, o comércio fica restrito aos mercados da região Norte, como Rondônia, e ao abastecimento do próprio estado do Mato Grosso.

Em vista deste problema, crucial para a expansão do negócio, Santos diz que uma saída é aguardar a viabilidade do etanolduto até o Mato Grosso, ou o transporte através da ferrovia que vai até Rondonópolis, mas que ainda não está pronta.

O conselheiro consultivo da Aprosoja-MT, Glauber Silveira lembra que o mercado do biocombustível já está saturado e é preciso incentivar o consumo de etanol. "Para termos um aumento no consumo de etanol precisamos aumentar a diferença entre o preço doetanol e o da gasolina. Mas podemos pensar não apenas no aumento do preço da gasolina, mas também na redução do o preço do etanol", diz.

Silveira acredita que, com a aptidão de Mato Grosso em produzir milho e cana de açúcar(e consequentemente produzir etanol nas usinas flex), os consumidores poderiam utilizar somente este combustível, pagando entre R$ 1,90 a R$ 2,00 o litro.

De acordo com o diretor-executivo do Sindalcool-MT, os preços do etanol caíram cerca de R$ 0,25 nas usinas e isso não foi repassado ao consumidor. "O repasse dessa queda permitiria uma expansão no consumo, geração de demanda devido à redução de custo. Isso tem gerado um grande incômodo no setor produtivo", completa.


Nayara Figueiredo