Momento de retomada: mas sem euforia!
30-09-2016

Longe, bem longe da sociedade e política perfeitas idealizadas por Thomas More no livro "Utopia", o Brasil vive um momento de retomada. A duras penas, o país tem conseguido sobreviver à uma crise política e econômica. O novo governo tem a difícil missão, para não dizer quase impossível, de equilibrar as contas em apenas dois anos. Mas, paralelo a isso, há uma tendência de recuperação do investimento para 2017, mas tudo ainda muito discreto.

Diante desse cenário, o setor bioenergético passa por um momento de retomada da capacidade econômica, com custos alinhados aos preços de mercado. Mas os gestores das unidades produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade estão com os dois pés bem fincados no chão. Nada de euforias! Boa parte das empresas do setor diz que existe sim a condição de recuperar parte do que foi perdido durante a pior crise que o segmento já enfrentou.

Agora, muitas usinas devem voltar a renovar os canaviais com a orientação técnica recomendada e, com isso, espera-se uma redução dos custos e ganhos de produtividade. A meta antiga e, desta vez acessível, é uma produção de 90 a 100 toneladas de cana por hectare. A incorporação de novas tecnologias, tão almejadas como solução para alguns gargalos e, muitas vezes, inacessível pelo alto investimento demandado durante a crise, pode se tornar realidade em algumas empresas.

Só que esse momento de retomada, infelizmente, não é para todas as usinas. Cada uma vive uma situação diferente. Algumas não têm condições de viabilizar sua recuperação técnica, pois devido ao alto endividamento, dificilmente terão acesso ao crédito. A grande maioria vai fazer a lição de casa: recuperar os canaviais, reduzir os custos, incorporar tecnologia, aprimorar os equipamentos que ficaram sem manutenção por falta de recursos, mas, tudo isso sem incrementar a capacidade de produção de forma significativa.

E é justamente aí que mora um problema: o novo governo assumiu o compromisso da COP 21 de produzir em torno de 50 bilhões de litros de etanol por ano a partir de 2021 e, apesar do novo fôlego, o setor não consegue ver no horizonte as condições para que essa meta possa ser atingida. Estamos bem distantes disso.

Pode ser que daqui a 10 anos não tenhamos um volume de produção de álcool (anidro) suficiente para misturar na gasolina e ainda para ter o álcool hidratado como combustível. Aí, podemos ter outro problema na frente. É importante entender que a solução econômica para as empresas, por conta de um cenário mais favorável ao mercado, levará a um problema no futuro, caso o Governo Federal continue omisso em relação à definição de política pública de longo prazo para o setor de energia.

Para isso, o setor precisa construir junto ao governo um ambiente para que as questões energéticas possam ser definidas de forma a viabilizar os interesses do Brasil, inclusive os compromissos internacionais. É necessária uma condução articulada entre governo brasileiro e setor produtivo, para definir o papel do biocombustível na matriz energética e incentivar o aumento da oferta diante do crescimento da demanda. Essa é a prioridade agora e, como Presidente reeleito da UDOP, convido a todos a participarem do debate "Sem políticas de Estado o setor é capaz de cumprir as metas da COP21?" no 9º Congresso Nacional da Bioenergia, que será realizado nos dias 9 e 10 de novembro.

Na ocasião, renomados especialistas do setor, como Amaury Eduardo Pekelman - Vice-Presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Agroindustrial; André Rocha - Presidente do Fórum Nacional Sucroenergético; Arnaldo Jardim - Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo; Aurélio César Nogueira Amaral - Diretor da ANP; Eduardo Vasconcellos Romão - Presidente da Orplana; Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio) - Presidente da ABAG; Marcos Fava Neves - Professor Titular da FEA/USP-RP; Pedro Mizutani - Presidente do Conselho da Unica e Vice-presidente de Relações Externas da Raízen e Plínio Nastari - Presidente da Datagro vão debater como os nossos pleitos podem ser encaminhados aos poderes constituídos. Em especial, a pauta do etanol. Mas tudo isso sem euforias!

Celso Junqueira Franco
Presidente da UDOP