Na época da cana queimada, o ATR era maior
25-11-2016

Quando a cana era colhida 100% queimada, as usinas obtinham uma média de 145 kg de ATR, hoje está na casa 130

Um problema do setor sucroenergético brasileiro nos últimos anos é que a oferta de ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) não tem aumentado. Isso significa que, no curtíssimo prazo, não há capacidade instalada ou eficiência para aumentar a oferta. Vamos lembrar que o cliente de açúcar cresce em taxa constante de 2,3% a 2,5% ao ano. O mundo compra mais açúcar todo ano porque há países que estão se desenvolvendo, como China e Índia. “Quando um país fica mais rico, as pessoas compram mais produto industrializado. Coca-Cola, sorvete, bolacha, que têm mais açúcar”, diz Guilherme Nastari, diretor da Datagro Consultoria. Sem contar o aumento da população e a elevação da idade média em alguns países, o que significa maior consumo de açúcar. “Poderíamos estar surfando melhor nesse desenvolvimento de mercado, mas não estamos.”

Se traçar uma linha do tempo ao longo dos vinte anos, quando a cana era colhida 100% queimada, as usinas obtinham uma média de 145 kg de ATR. “Hoje, muitas usinas convivem com médias de 130, 133 kg. Caiu drasticamente em função da colheita mecanizada”, lamenta-se Mário Sérgio Mathias, gerente corporativo de Planejamento Agrícola da Usina Coruripe – Polo Iturama.

Para ele, assim como a elevação da produtividade é um grande desafio do setor sucroenergético, não é diferente quanto ao nível de ATR. “Neste ano, no polo Iturama, vamos fechar em torno de 133 kg. Em relação ao ano passado, representa melhora considerável, de 3% a 4%. Mas temos que continuar melhorando.”

Há vários fatores que interferem no ATR, como o clima, a colheita mecanizada. “Acredito que o ideal é sempre buscar índices acima de 135 kg, que seria o ideal quando o corte da matéria-prima é mecanizado. Se o índice está abaixo disso, faltou algum detalhe e a empresa tem que correr atrás”, diz Mathias.

Para Luiz Carlos Carvalho, diretor da Consultoria Canaplan, a queda do nível do ATR é um dos fatores que mais preocupam e está ligada à curva de aprendizado que o setor sucroenergético tem enfrentado quanto à mecanização, especialmente. “Quando se mede a queda por hectare, vemos que é algo extremamente relevante, com influência enorme na questão dos custos”, pontua.