Nexsteppe começa a fornecer sorgo para biogás no Brasil
10-10-2016

Executivos da empresa afirmam já ter negócios com pelo menos três clientes desse produto no país

POR RAPHAEL SALOMÃO, DE SÃO PAULO (SP)

A Nexsteppe, com sede nos Estados Unidos, está iniciando na safra 2016/2017 o fornecimento comercial de sementes de sorgo voltadas para a produção de biogás no Brasil. Executivos da empresa dizem não ter uma estimativa do quanto deve ser plantado nesta temporada, mas garantem já ter pelo menos três clientes: duas indústrias e uma propriedade rural em Minas Gerais, Mato Grosso e Bahia.

“O Brasil tem uma grande área para agricultura e uma grande oportunidade para produzir biomassa”, diz a CEO global da Nexsteppe, Anna Rath. Ela esteve, recentemente, no Brasil, onde participou de eventos sobre energia renovável e o potencial do biogás, e conversou com a reportagem da Globo Rural em um hotel na região da Avenida Paulista, em São Paulo.

O biogás é composto, principalmente, de metano e gás carbônico. Pode ser usado na geração de eletricidade e em substituição ao gás natural, do petróleo. No campo, outra forma comum de geração é a partir de dejetos animais. Pode ser produzido também com outros resíduos da atividade agrícola, como palha e bagaço de plantas.

No caso da Nexsteppe, a aposta é em híbridos de sorgo com aptidão específica para o combustível, que é gerado a partir de um processo conhecido como digestão anaeróbica. A biomassa de sorgo é colocada em um equipamento chamado de digestor, onde entra em contato com bactérias que fazem o processamento resultante no biogás e outros resíduos.

Testadas durante pelo menos dois anos, as cultivares foram desenvolvidas a partir da estrutura de melhoramento da empresa, em Goiás, onde são realizadas pesquisas para o clima tropical. Uma cultivar já está registrada e outra em fase de registro para o mercado brasileiro. As sementes são vendidas em sacas de 20 quilos.

A promessa é crescimento rápido (em torno de quatro meses), alto rendimento de matéria seca por hectare e volume de biomassa. A taxa média de produtividade, de acordo com a companhia, é de 7.800 toneladas de metano com a colheita de um hectare.

“Dependendo da época e da região do Brasil onde forem plantadas, há variedades que podem ser usadas no ciclo de verão e também na safrinha, logo após o plantio da soja”, garante Anna Rath, sem detalhar montantes investidos em pesquisa e desenvolvimento das sementes para biogás.

energia-biomassa (Foto: CCEE)
(Fonte: CCEE - Dados Gerais de Mercado: Biomassa. Ref: julho 2016)
Com o sorgo, a empresa mira um dos segmentos pouco representativos na energia de biomassa no mercado brasileiro. Para se ter uma ideia, em julho deste ano, as usinas termelétricas de diversas fontes geraram 3.998 Megawatts médios (veja quadro). O biogás de agroindústrias foi a nona colocada, representando menos de 0,5% de participação, conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A maior a partir do combustível vem dos resíduos urbanos, quarto ítem na lista com 0,77% de representatividade, atrás de bagaço de cana, com amplo domínio (94,29%), licor negro (subproduto da indústria de celulose e papel) e resíduos florestais (com participações de 3,09% e 0,85%, respectivamente).

A expectativa é de crescimento na utilização de fontes como o biogás. Nas contas da Nexsteppe, há um potencial de produção de 23 bilhões de metros cúbicos do combustível. Desse volume, 12 bilhões poderiam vir do setor de açúcar e etanol, onde o sorgo é utilizado, por exemplo, como cultura complementar às lavouras de cana-de-açúcar.

“O biogás está crescendo de forma significativa no mundo. No Brasil, está em um estágio menos avançado. Mas, apesar das dificuldades, é um lugar para onde olhamos e está no topo da lista”, diz Anna, lembrando dos problemas vividos pelo país nas áreas política e econômica.

Etanol e Petrobras
Fornecedora também de sorgo para etanol, a Nexsteppe acredita em cenário positivo para o setor. A CEO da empresa afirma que a indústria brasileira de bionergia está em recuperação, com melhora dos preços do açúcar e medidas do governo que tiveram reflexos positivos para o mercado do combustível.

“Tudo está chegando junto para a indústria de açúcar e etanol se recuperar no Brasil. Precisamos agora ter uma visão mais segura e otimista para o futuro”, diz Anna Rath.

O vice-presidente de desenvolvimento de mercado para a América do Sul, Ricardo Blandy, lembra que, neste momento, há o direcionamento de uma parcela maior de cana para a produção de açúcar. Para ele, esse movimento pode ter reflexos positivos na demanda por sorgo para etanol.

A decisão da Petrobras de deixar a produção de biocombustíveis, também deve ter um efeito positivo, acredita. “Na minha visão, a Petrobras acaba não sendo um concorrente muito justo, por deter também a distribuição. E o mercado ficará mais livre porque a parcela da Petrobras voltará para a indústria. O que for positivo para o setor reflete em quem fornece matéria-prima”, avalia Blandy.

Fusões e aquisições
Definindo mais de uma vez a Nexsteppe como uma “pequena empresa” durante a entrevista, Anna Rath não demonstra preocupação quando questionada sobre o atual movimento de consolidação de gigantes de químicos e sementes. Casos de Syngenta e ChemChina e, mais recentemente, Bayer e Monsanto.

A executiva analisa que, em um primeiro momento, essas empresas dedicarão mais tempo à adequação de processos de produção. Com isso, devem deixar em segundo plano o desenvolvimento de soluções.

“Enquanto se unem e pensam o que fazer com seus negócios depois disso, essas empresas vão negligenciando pequenas oportunidades, o que certamente avaliamos”, diz ela.