Para produtores, mistura de etanol em 26% é surpresa
18-06-2014

O aumento da mistura do etanol anidro à gasolina de 25% para 26%, previsto para ser anunciado pelo governo em breve, conforme antecipou ontem o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, foi recebida com surpresa pelo setor sucroenergético. A hipótese não atende a proposta do setor, que mantém o pleito de elevação da mistura para 27,5% de etanol.

Cálculos apontam que, para suprir o aumento de 1 ponto porcentual na mistura, seriam necessários 400 milhões de litros por ano de etanol, volume pequeno se comparado ao total de 1 bilhão de litros se o aumento fosse de 2,5 pontos porcentuais, como querem os usineiros. "É um volume que naturalmente já estaria aqui no País por causa da redução das exportações previstas para os Estados Unidos e não vai alterar muita coisa", disse o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e conselheiro da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Luiz Carlos Corrêa Carvalho.

Segundo Caarvalho, não houve pressão do setor sobre o governo para o aumento da mistura nesse patamar de 26% e a Unica nem sequer foi comunicada da possível medida.

Um dos usineiros descontentes com o governo classificou o possível aumento da mistura em 1 ponto porcentual como uma medida "de desespero" do governo para se reaproximar do setor em ano eleitoral. "É uma medida política para fazer média", disse o usineiro, que preferiu não se identificar.

O presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha, também disse não ter sido informado pelo governo da possibilidade de aumento para 26% na mistura, bem como da inclusão das usinas nas linhas de crédito para estocagem já existentes para grãos. "Nossa proposta é fazer os testes e tentar os 2,5 pontos porcentuais para ver se é possível. O governo sinalizou que, se tecnicamente for possível, aprovaria."

Entre os principais pleitos do setor, além da mistura em 27,5%, estão o retorno da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), de até R$ 0,28 sobre o litro da gasolina, e o reajuste do combustível. Além de ampliar a competitividade do etanol, as medidas dariam fôlego às usinas.

Ontem a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não quis comentar o possível aumento da mistura de etanol na gasolina para 26%. Em abril, quando o setor sucroalcooleiro pediu que o porcentual chegasse a 27,5%, o presidente da entidade, Luiz Moan, disse que a ampliação não prejudica os carros flex.

Moan ressaltou que os modelos movidos apenas a gasolina - 38% da frota (cerca de 14,4 milhões de automóveis e comerciais leves) - terão dificuldade na partida, aumento de possibilidade de corrosão nas partes metálicas que têm contato com o combustível e redução da durabilidade das peças de borracha.

Gustavo Porto com colaboração de Cleide Silva