Preços podem se recuperar, mas ainda existem riscos
15-05-2017

Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar em NY fechou a semana em alta, depois de longo período, encerrando a 15.51 centavos de dólar por libra-peso no vencimento julho/2017, com 20 pontos de alta. Desde fevereiro o mercado não fechava no azul (exceção de uma semana em que variou magérrimo um ponto de alta).

Os mercados de commodities exageram na alta e na baixa. Os ânimos se inflamam de maneira similar quando ocorrem fortes movimentos de compra ou de venda. Por exemplo, era corriqueiro encontrar altistas quando o mercado negociava perto dos 24 centavos de dólar por libra-peso, em outubro de 2016, assim como encontram-se baixistas agora que estamos próximos dos 15 centavos de dólar por libra-peso.

Precisamos avaliar com muito cuidado os fatos que podem determinar - a partir de agora - uma recuperação dos preços no mercado. A queda do açúcar desde o pico de 21.49 centavos de dólar por libra-peso neste ano até 15.12 centavos de dólar por libra-peso em 27 de abril, estimula as usinas a refazerem suas projeções de produção de açúcar.

O efeito caixa que o etanol produz para as usinas pela facilidade e liquidez e, principalmente, o crédito fiscal do PIS/Cofins, significam uma paridade atrativa para que as usinas produzam mais o combustível em detrimento do açúcar. Esse detalhe, ainda não absorvido pelo mercado, pode fazer com que 47.5% torne-se inexequível neste cenário de preços baixos e uma revisão para 46% pode ser viável.

Desta forma, a disponibilidade de açúcar a ser produzido no Centro-Sul para a safra 2017/2018 pode experimentar uma redução de até 2 milhões de toneladas. O cenário atual também dificulta a expansão de países como o Tailândia, cujo custo de produção estimado pela Archer Consulting é de 15.46 centavos de dólar por libra-peso, base usina, preços de fevereiro passado.

Outro ponto que merece destaque é que o consumo de combustíveis em gasolina equivalente no período que vai de abril de 2016 até março de 2017 se igualou ao mesmo período do ano anterior, ou seja, com o PIB caindo 3.6% o consumo de combustível ficou no zero a zero. A relação PIB/Consumo mostra que quando a atividade econômica cai, o consumo de combustíveis cai menos e, também, quando a atividade econômica se acelera, o consumo de combustíveis aumenta ainda mais.

Ora, se o Brasil recuperar o crescimento em 2018 e eleger um presidente comprometido com o desenvolvimento, seja liberal e pró-mercado, poderemos assistir a uma aceleração do consumo de combustíveis como já ocorreu, por exemplo, no final do segundo mandato de Lula em 2014 quando o consumo ano sobre ano alcançou 8.33%. E aí reside o problema estrutural que vamos enfrentar.

Desde a safra 2009/2010, em que o Centro-Sul moeu 542 milhões de toneladas de cana, até a presente 2017/2018, cujo número da Archer Consulting prevê uma produção 586 milhões de toneladas de cana, a expansão média anual no período foi de menos de 1%, muito inferior ao crescimento do consumo mundial (2.1% segundo a ISO) e abaixo de média de crescimento dos principais concorrentes do Brasil.

Nossas estimativas indicam que o déficit de cana no Brasil para as próximas duas safras (2018/2019 e 2019/2020) deverá atingir quase 50 milhões de toneladas de cana, assumindo conservadoramente uma exportação de açúcar de 27.1 e 27.7 milhões de toneladas respectivamente.
Olhando o curto prazo é sempre mais difícil apostar o que os preços vão fazer amanhã. Mas a visão fundamentalista imparcial nos mostra inequivocamente que o mercado de açúcar é construtivo no longo prazo, principalmente por não haver no Brasil nenhuma possibilidade de expansão de produção que atenda a demanda potencial nos próximos anos.

A solução, já cantada aqui em verso e prosa, vai ter que passar pela combinação ou escolha de se importar mais gasolina, etanol de milho ou os preços dos combustíveis para o consumidor.

Isso posto, achamos que a visita que o mercado faz à vizinhança dos 15 centavos de dólar por libra-peso terá vida curtíssima e os fundos que apostam numa maior queda do preço do açúcar podem quebrar a cara como já ocorrera em sua participação no café no ano passado.

No segundo semestre, não será surpresa se os preços do açúcar em NY retornarem ao patamar de 18-20 centavos de dólar por libra-peso. Salvo se houver a presença de algum fator exógeno extraordinário.

Mas, o que ainda pode colocar o mercado de açúcar em NY mais para baixo? Bem, alguns pontos devem ser cuidadosamente observados: a) se o petróleo permanecer por longo período abaixo dos 50 dólares por barril combinado com um real fortalecido; b) se o Centro-Sul produzir além de 600 milhões de toneladas de cana; c) se os fundos adicionarem mais vendas à sua posição vendida a descoberto (esta semana não fizeram isso); d) se o mix de açúcar for acima de 47.5%; e) se a Petrobras diminuir o preço da gasolina (com base no preço internacional, essa possibilidade existe).

Quem assistiu ao depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro percebe que a pouca-vergonha do ex-presidente não tem limites. Na altura de 1h45 do depoimento, Moro indaga a Lula se ele sabia se o ex-diretor da Petrobras Renato de Souza Duque tinha alguma relação com o ex-tesoureiro de PT João Vaccari Neto. Lula disse desconhecer. Dois minutos depois o juiz pergunta se Lula já estivera com Renato Duque. O ex-presidente afirmou que sim e que pedira ao Vacari para chamar o Duque pois queria esclarecer denúncias que saíram na imprensa de que o ex-diretor tinha dinheiro de propina no exterior. O juiz perguntou por que Lula chamara Vacari para contatar Duque se ele dissera há pouco que desconhecia se ambos tinham relação de amizade.
Lula se enrolou. Enquanto isso, aquele Blue Label aguarda impacientemente....