Proposta da UE para importações de carne e etanol desagrada Mercosul, diz fonte
04-10-2017

A União Europeia apresentou nesta terça-feira ao Mercosul a proposta de cotas de importação de etanol e carne, dentro das negociações do acordo de livre comércio entre os dois blocos, mas os números estão muito abaixo dos parâmetros estabelecidos como aceitáveis pelo Mercosul para dar início às conversas, disse à Reuters uma fonte que acompanha as negociações.

Em conversas fora da mesa de negociação, antes da apresentação formal da proposta, os números que chegaram aos negociadores do Mercosul eram de uma cota de 600 mil toneladas de etanol e 70 mil toneladas de carne.

Os valores são muito inferiores aos que foram apresentados em 2004, quando se iniciaram as conversas de um acordo Mercosul-UE, paralisadas em 2006. Em 2004, a proposta era de 100 mil toneladas de carne e 1 milhão de toneladas de etanol.

"Nossos parâmetros mínimos partem do que tínhamos em 2004. Quando as negociações foram retomadas em 2010, houve um compromisso de aumentar esses números", disse a fonte. "O que o Mercosul quer é conhecido da UE e em uma primeira olhada (na proposta), temos dúvidas se chegam a esse patamar".

O presidente da Sociedade Rural Argentina (SRA), Luis Miguel Etchevehere, que estava em Brasília para um encontro de empresários do setor organizado pela Agência de Promoção às Exportações (Apex), afirmou que esses números, se confirmados, são "insignificantes".

Segundo ele, a Europa consome 8 milhões de toneladas de carne por ano. "Essa oferta para os quatro países do Mercosul equivale a dois hamburguéres para cada habitante da União Europeia por ano", disse.

As conversas sobre acesso a mercados, as mais delicadas e vitais dentro do acordo, estavam paradas desde maio do ano passado, quando uma proposta inicial de cotas de importação de carne e etanol foram retiradas da mesa por reclamações de produtores europeus. Desde então, as conversas pararam.

"Eu só posso conversar sobre acesso a mercados se tiver a oferta completa na mesa", disse a fonte.

A oferta dos europeus deixa de fora o açúcar, o que também levou a reclamações de produtores brasileiros. No entanto, de acordo com a fonte, o produto nunca esteve na mesa. Pode entrar agora, durante a negociação, como medida de compensação.

"O que a UE nos devia era etanol e carne. Açúcar nunca esteve na oferta. Nem 2004, nem 2016. Eu não posso cobrar o que nunca esteve. Nós queremos, é claro, e não está fora da mesa", disse a fonte.

A rodada de negociações que começou nesta segunda-feira, em Brasília, deveria ser decisiva para que o acordo fosse fechado até dezembro, como era a expectativa dos dois lados. Uma proposta dos europeus considerada ruim pelo Mercosul, no entanto, pode atrasar o cronograma.

"Temos dois meses. A matemática é complicada, mas ninguém desiste", disse a fonte.

As negociações seguem até sexta-feira.
Lisandra Paraguassu e Anthony Boadle