Safra de cana-de-açúcar pode bater novo recorde em Minas Gerais
26-04-2024

Crédito: Cristiano Mariz
Crédito: Cristiano Mariz

Com aumento na produção, a colheita da cana-de-açúcar no Estado tende a crescer 2,3% e alcançar 83,2 milhões de toneladas

Por Michelle Valverde

A produção de cana-de-açúcar em Minas Gerais deverá registrar novo recorde na safra 2024/25. Conforme a primeira estimativa da safra de cana-de-açúcar para este período, divulgada nesta quinta-feira (25) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Estado deve colher 83,2 milhões de toneladas de cana, um volume 2,3% maior que o esmagado na safra passada. Neste ano, o aumento da safra vem da expansão da área em produção, que cresceu em 8,1%, enquanto a produtividade tende a cair 5,4%.

Com o volume estimado de colheita, Minas Gerais segue como segundo maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, perdendo apenas para São Paulo. Para o País, a estimativa é de um volume menor, com a colheita de 685,86 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, gerando, então, uma redução de 3,8% em relação à safra anterior.

Conforme o gerente de Acompanhamento de Safras da Conab, Fabiano Vasconcellos, os efeitos climáticos do El Niño impactaram de forma negativa a produtividade da cana-de-açúcar. Em Minas Gerais, a tendência é colher 82,8 toneladas de cana por hectare, queda de 5,4% frente à safra anterior.

“Analisando o cenário climático, o final de 2023, quando as lavouras estavam em fase de desenvolvimento, os efeito do El Niño provocaram redução das precipitações e aumento das temperaturas. Quando comparado com a safra 2022/23, que foi excelente, também houve demora na normalização das precipitações na fase de desenvolvimento das lavouras. No início de 2024, o índice pluviométrico ficou mais normal, mas frente à safra passada, o clima atual não favoreceu tanto e, por isso, terá impacto na produtividade”, explica.

Mesmo com queda, produtividade da cana-de-açúcar ainda é relevante

O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, explica que a estimativa divulgada pela Conab está muito em linha com o que o setor tem observado. Ainda que o rendimento médio por hectare esteja abaixo do visto no ano passado, a produtividade das lavouras ainda é considerada muito boa.

“De fato, a gente observou um aumento da área plantada, da área de moagem em Minas Gerais e uma queda da produtividade com relação ao ano passado que será compensada com esse aumento de área. Essa queda na produtividade é em função do número do ano passado, que foi fora da curva. É uma queda já esperada. Então, nós estamos ainda com produtividade alta, com produtividade expressiva, mas abaixo do ano passado. É extremamente normal esse número. O volume da Siamig é de 80 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra”.

Área em produção cresce em Minas Gerais

Quanto à área em produção, em Minas Gerais, serão 1 milhão de hectares, espaço 8,1% superior aos 929,2 mil hectares registrados na safra 2023/24. Conforme a análise dos técnicos da Conab, o aumento da área colhida em relação à safra anterior ocorrerá pelo incremento na área própria das usinas e também de fornecedores. Isso é reflexo do bom momento que atravessa o setor. 

“Para a área colhida, a previsão é de aumentar. Isso também está ligado a áreas que, no último ciclo, estavam em renovação e agora entram em produção”, diz Vasconcellos. 

Safra de cana terá mais açúcar do que etanol

Conforme os dados da Conab, em função das condições mercadológicas, a tendência é que a safra 2024/25 de cana-de-açúcar em Minas Gerais seja mais açucareira. Assim, é esperada a produção de 6 milhões de toneladas do adoçante no Estado. Com essa marca, o volume da safra passada, que foi de 5,48 milhões de toneladas, será superado em 10,7%. 

Conforme o presidente da Siamig, Mário Campos, o setor vive um momento favorável de investimentos na produção de açúcar.

“O setor passa por um momento de investimento em cristalização de sacarose, ou seja, de aumento da capacidade. As usinas, de fato, fizeram esse investimento no aumento da produção de açúcar e isso, com a mesma moagem, vai acarretar uma redução da produção aqui de etanol”.

Já a produção mineira de etanol total tende a retrair 10,7% chegando, então, a 2,95 bilhões de litros. No período, a Conab estima um volume de 1,4 bilhão de litros de etanol anidro, superando, assim, em 7,9% a safra passada. A produção do etanol hidratado será de 1,48 bilhão de litros, queda de 23,6%.

Ainda segundo o relatório da Conab, em relação aos subprodutos, por questões mercadológicas, “a estimativa é de maior direcionamento de cana-de-açúcar para a fabricação de açúcar em Minas Gerais, resultando em incremento na produção do adoçante em relação à última safra. Para o etanol, a primeira estimativa prevê redução na fabricação de etanol hidratado, enquanto o anidro deverá experimentar aumento em relação à safra passada”.

Campos ressalta que no caso do etanol é importante pensar na situação da produção do Brasil. “A produção nacional não terá uma variação significativa já que o etanol de milho vai crescer e vai ocupar um pouco desse espaço de redução do etanol de cana, que está caindo em função desse aumento da produção de açúcar”.

Falta de regra clara na precificação da gasolina traz receio ao setor produtivo de etanol

Mário Campos destacou que o setor produtivo passa por um momento muito complicado, que é a precificação da gasolina. “O momento é muito complicado. A gente não sabe o que vai acontecer, por exemplo, com relação ao etanol. Estamos observando uma estrutura de preço de combustível fóssil, em especial a gasolina, e a gente não sabe mais que regramento nós temos no Brasil”.

Campos explica ainda que, no ano passado, no início do governo do presidente Lula, foi divulgado que o governo não olharia somente para o preço de paridade de importação para precificar a gasolina, mas que o preço de paridade de importação fazia parte do contexto da estrutura de preço.

“O que nós estamos observando agora é que, de fato, ninguém sabe qual é a regra, ou se a gente tem uma regra. Nós estamos há 14 semanas seguidas com o preço da gasolina interno no Brasil inferior ao mercado internacional. Alguém está pagando essa conta. Então, esse desincentivo que vem do mercado, no sentido que você não sabe como que você vai vender esse produto, com certeza prejudica o setor”.

Conforme Campos, o setor está receoso diante do perigo da volta ao passado, quando o governo interferiu no mercado de combustíveis.

“Será que nós vamos ter de novo aquele período lá atrás, o período da presidente Dilma, onde houve interferência no mercado de combustíveis? Então, há uma incerteza muito grande, que prejudica essa definição dos investimentos em açúcar ou etanol. Nós precisamos ter uma convergência mais adequada para saber como é a precificação”.

Fonte: Diário do Comércio