Sem entusiasmo
31-07-2017

O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana com o vencimento outubro de 2017 negociado a 14.37 centavos de dólar por libra-peso, praticamente inalterado em relação ao fechamento da sexta anterior. Foi uma semana sem muito entusiasmo.

O real, apesar de toda a agitação política sob a qual o país aprendeu a conviver, continua indicando que pode chegar a R$ 3,0000 até o final do ano (segundo alguns analistas), o que baratearia o valor de importação da gasolina de um lado e espremeria a arbitragem do etanol com o açúcar. Juros internos mais baixos achatam a curva futura de NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) e minguam os valores em reais por tonelada para vencimento futuro. São muitas variáveis com as quais as usinas tem procurado se acostumar a trabalhar e, reconhecidamente, o processo decisório fica volátil.

Pelo menos, para aliviar um pouco, as usinas que tinham açúcar de exportação para fixar contra o vencimento julho/2017 (já expirado) e conseguiram negociar com as tradings para precificar esses açúcares contra o outubro/2017, foram favorecidas pela melhora do mercado. Estimamos que essa rolagem tenha trazido adicionalmente perto de 40 dólares por tonelada para as usinas. Foi uma boa estratégia.

Ainda que muita coisa precise acontecer para colocar o mercado de açúcar de NY em nível de preço mais remunerador, temos plena convicção de que já vimos a baixa do ano (12.53 centavos de dólar por libra-peso). Algo extremamente drástico precisaria ocorrer (fator interno ou externo) para que que tivéssemos essa expectativa revertida, como petróleo despencando e real se desvalorizando.

Aliás, como quase sempre ocorre no quadrimestre abril-maio-junho-julho, este é o período em que observamos os preços mais baixos do ano. Parece que 2017 não será diferente. Agosto deve apresentar ligeira melhora na cotação média do mês comparativamente ao mês de julho.

Em 75% das ocasiões o valor médio negociado nos meses de agosto dos últimos 17 anos é maior do que a menor média negociada no período abril-maio-junho-julho. Dessa forma, acreditamos que os preços vão alcançar 16 centavos de dólar por libra-peso em algum momento no último trimestre de 2017.

Interessante notar que na sexta-feira 6.000 calls spreads de preço de exercício 14.00/15.00 para o vencimento outubro foram negociados. Alguém está apostando que o mercado pode chegar nos 15 centavos de dólar por libra-peso e pagou até 18 pontos para ter esse privilégio.

Legitimam esse otimismo (dirão meus leitores baixistas) a recuperação do preço do petróleo no mercado internacional (na última semana de junho estava cotado a 42 dólares por barril e agora está chegando perto de 50 dólares por barril). A política de formação de preços dos combustíveis no Brasil, determinada pela Petrobrás, não apenas abre a possibilidade de operações de hedge usando petróleo ou RBOB (gasolina) para fixar o preço do etanol (recomenda-se a combinação dessa operação com NDF), mas também mostra que o suporte de preço equivalente açúcar se elevou.

O governo, após pressão do setor, deve reduzir parcialmente o aumento do imposto sobre o etanol no equivalente a R$ 0.08 por litro o que deve melhorar a competitividade em relação à gasolina.


*Artigo publicado no portal da Archer Consulting na última sexta-feira (28). Comentário semanal de 24 a 28 de julho de 2017.