Silenciosamente, o etanol começa a mostrar sua cara
18-09-2017

Uma vez mais o mercado futuro de açúcar em NY caminhava para ter uma daquelas semanas soníferas. Empacado num irritante e aborrecido intervalo de preços, o mercado teve uma breve reação na sexta-feira e o vencimento outubro de 2017 encerrou o pregão a 14.55 centavos de dólar por libra-peso, representando uma alta de 46 pontos na semana equivalente a 10.14 dólares por tonelada.

Várias usinas já começam a reduzir suas estimativas de produção de cana na safra corrente. Apesar da excelente produtividade, a quantidade de cana tem sido menor do que o esperado, para essas empresas, e o número final da safra do Centro-Sul pode surpreender negativamente. O etanol começa a fazer diferença. E as usinas começam a fazer as contas para o próximo ano.

A combinação de juros baixos no Brasil e curva descendente do dólar em relação ao real pressionam o valor do açúcar em reais para o início da 2018/2019 aproximando a paridade dele com o etanol. Ou seja, nos níveis atuais do açúcar negociado na bolsa de NY para os vencimentos maio e julho do próximo ano muitas usinas vão migrar para a produção de etanol, sem pestanejar. A menos que o açúcar suba e corrija isso.

O ano que vem demandará maior criatividade e elaboração por parte das tradings para atrair as usinas a negociar seus açúcares. A política de formação de preço da gasolina introduzida pela Petrobras vai promover o aparecimento de estruturas de hedge e proteção de preços usando o RBOB em reais, criando uma put (opção de venda) sintética de etanol para as usinas e diminuindo a necessidade e urgência delas decidirem acerca do mix de produção. Em alguns casos, dependendo do nível e estrutura, coloca o etanol em melhores condições do que o açúcar.

2018 será um ano bem melhor para o etanol. A curva de consumo de combustíveis começa lentamente a se recuperar e a melhora do PIB vai impactar substancialmente, como sempre ocorre, no aumento do consumo de combustíveis. Não teremos cana suficiente no ano que vem para atender a um possível retorno da demanda. O quadro de oferta e demanda será apertado diante de uma produção estagnada de cana e ATR há muito tempo observada.

O preço médio de negociação do açúcar em NY durante o mês de agosto foi de 13.80 centavos de dólar por libra-peso, abaixo da nossa previsão de 14.18 centavos de dólar por libra-peso. Para setembro, nosso modelo ainda aponta que o preço médio durante o mês deverá ser de 14.01 centavos de dólar por libra-peso (até sexta-feira estava em 14.17 centavos de dólar por libra-peso).

O intervalo de preço para setembro, com 95% de confiança, deve ficar entre 12.78 e 15.24 centavos de dólar por libra-peso. Acreditamos - como dissemos em relatório anterior - que já vimos o preço mais baixo de 12.53 centavos de dólar por libra-peso. Outubro vai apresentar uma evolução maior no preço: o modelo mostra 15.45 centavos de dólar por libra-peso podendo alcançar eventualmente 16.80 centavos de dólar por libra-peso. Em novembro e dezembro os preços podem se acomodar e voltar para a faixa de 14-15 centavos de dólar por libra-peso, diz o modelo.

Não é à toa que muitas usinas, no nosso modo ver acertadamente, rolaram suas posições de vendas de açúcar ainda não fixadas contra o contrato futuro de outubro para o vencimento março. Parece muito claro para o modelo que as chances de essa estratégia funcionar são altas. Outros ventos que vão soprando a favor do açúcar são o petróleo acima de 50 dólares por barril, o dólar se enfraquecendo em relação às outras moedas e a melhora das commodities. Normalmente quando o mercado olha para a compra de commodities como um seguro de valor, o petróleo é o candidato natural.

Até quando os fundos vão manter essa posição de 95.000 contratos vendidos é a pergunta que vale um milhão de dólares. Eles foram pegos, aparentemente, no contrapé no mercado de café. É possível que o dinheiro que estão ganhando no açúcar possa servir para diminuir aquele prejuízo. Ou seja, quem sabe os fundos não comecem a realizar um pouco das centenas de milhões de dólares que estão em cima da mesa?


Arnaldo Luiz Corrêa - Diretor da Archer Consulting