Títulos do agronegócio da Raízen atraem pessoa física
10-11-2014

A primeira venda de certificados de dívida garantidos por ativos da história da Raízen Energia mostrou que a produtora de açúcar e etanol soube capitalizar o suporte que tem de seus proprietários para atrair investidores individuais a financiar um setor que está em apuros.

A companhia, um joint-venture da Royal Dutch Shell e da Cosan, vendeu a mais de 2.000 investidores no mês passado o equivalente a R$ 675 milhões (US$ 270,5 milhões) em certificados de recebíveis do agronegócio com vencimento em cinco e em sete anos e lastreados em produção agrícola.

Os certificados com vencimento em 2019 foram emitidos com uma taxa igual ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), a taxa de juros de referência brasileira, que é de 11,06 por cento, e cerca de 0,45 ponto porcentual a menos do que a média paga por empresas no mercado de dívida local este ano.

Embora a derrubada dos preços do açúcar já tenha levado uma produtora concorrente a um pedido de recuperação judicial neste ano, a emissão da Raízen Energia atraiu um número recorde de compradores e contou com suporte da Shell, a maior petroleira da Europa, e da Cosan, a maior produtora de etanol do mundo.

A oferta também foi a maior desde que os certificados de recebíveis do agronegócio foram criados no Brasil em 2004.

“Essa é uma alternativa mais barata do que outras do mercado local devido à sua própria estrutura”, disse Fernando Freitas, gerente executivo da Gaia Agro Securitizadora SA, empresa responsável pelo empacotamento dos títulos, em entrevista por telefone.

“Há preocupações quanto à indústria em si, mas trata-se de uma empresa bem estabelecida que conseguiu mostrar isso aos investidores”.

VANTAGEM FISCAL
Freitas disse que quase todos os compradores das notas da Raízen Energia eram pessoas físicas, que não terão que pagar imposto de renda de pelo menos 15 por cento sobre a se mantiverem os títulos até o vencimento.
“O primeiro grande objetivo é diversificar a base de credores,” disse Rafael Bergman, diretor financeiro da Raízen, em entrevista por telefone, de São Paulo.

“O beneficio da isenção é dividido entre emissor e investidor. Saiu mais barato do que a taxa da debênture que a gente emitiu, por exemplo.”

A Raízen Energia, com sede em São Paulo, tem rating Baa3 pela Moody’s Investors Service e BBB pela Standard Poor’s e da Fitch Ratings.

A Shell e a Cosan formaram a Raízen Energia, que é responsável por cerca de 15 por cento da produção de açúcar do Brasil, em 2010.

EXCEDENTE GLOBAL
Um excedente de produção global fez com que os preços de referência do açúcar despencassem 13 por cento durante os últimos 12 meses. Em setembro, eles atingiram o menor valor em cinco anos.

No Brasil, 12 usinas de produção de açúcar interromperam suas operações neste ano e outras 65 operaram sob recuperação judicial até o final de agosto, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).

Em março, a Aralco SA Açúcar e Álcool entrou com pedido de recuperação judicial, enquanto investidores da Grupo Virgolino de Oliveira SA estão cada vez mais preocupados de que a empresa não conseguirá honrar suas obrigações.
Fábio Oliveira, diretor de investimento da GPS Investimentos Financeiros, que administra R$ 17 bilhões (US$ 6,8 bilhões) em ativos, disse que preferiu não comprar papéis da Raízen Energia em parte devido aos problemas do setor.

“Achamos que a combinação entre o setor, o ciclo de produção e a maturidade não eram compatíveis” com o prêmio oferecido aos investidores, disse Oliveira por e-mail.

A Raízen Energia aumentou em US$ 175 milhões o tamanho da venda de papéis devido à demanda dos investidores individuais, disse Freitas, da Gaia Agro.

“Essa é uma empresa boa que conseguiu definir uma estrutura para mitigar os custos em termos de financiamento e atrair os investidores”, disse Carlos Ratto, diretor comercial e de produtos da Cetip SA, a maior câmara de registro e depósito de títulos do Brasil.