Trump prejudica tentativa de evitar briga com Brasil por etanol
08-08-2017

A retórica do "America first" do presidente americano Donald Trump não está ajudando os produtores de etanol dos EUA, que esperam evitar uma briga comercial com os compradores de combustível do Brasil.

O governo dos EUA começou a fazer barulho sobre o aumento das importações de biocombustíveis brasileiros feitos a partir de cana-de-açúcar. Isso levou o Brasil a intensificar os estudos para aplicar uma tarifa ou uma cota às importações do combustível norte-americano feito a partir do milho. Uma briga comercial seria um problema muito maior para o país norte-americano, porque os EUA exportam para o Brasil mais de quatro vezes a quantidade que compram dos brasileiros.

Essa incipiente disputa comercial está ganhando força e coloca frente a frente os dois maiores produtores de etanol do mundo. Com o acirramento da rivalidade, os hedge funds parecem sinalizar que o Brasil sairá vencedor -- os especuladores reduziram suas apostas otimistas para o milho na semana passada e estão menos pessimistas em relação ao açúcar.

"Os ventos do protecionismo estão soprando em Washington", disse Joel Velasco, diretor da Albright Stonebridge Group em Washington e ex-representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), do Brasil. "A corrida para a criação de barreiras poderá azedar rapidamente as relações entre os EUA e o Brasil."

Os futuros do açúcar bruto subiram 2,7 por cento desde o fim de junho, empurrados pela perspectiva de uso maior do etanol. Os ganhos do petróleo bruto estimularam a Petrobras a elevar os preços da gasolina, aumentando a atratividade do etanol, com o qual compete diretamente na bomba em um país onde a maioria dos carros pode usar qualquer um dos dois combustíveis. A alta recente do imposto sobre os combustíveis também favorece o uso do biocombustível.

A tensão aumentou no mês passado, quando a Agência de Proteção Ambiental dos EUA propôs cotas anuais para os combustíveis renováveis e pediu comentários públicos para solucionar as preocupações da agência de que o etanol brasileiro estaria sendo usado para satisfazer parte da exigência do país para os biocombustíveis.
Ambos os países importam há tempos combustível um do outro e a demanda flutua juntamente com os diferenciais de preço do milho e do açúcar.

Embora o Brasil também dependa de suas exportações para os EUA, seu cliente número 1, o setor como um todo não é tão dependente das exportações devido ao seu mercado interno robusto, o que torna a disputa comercial mais problemática para os produtores americanos. A capacidade dos EUA excede sua demanda doméstica atual.

Mau momento
O momento também é ruim para os produtores dos EUA porque eles já perderam um cliente gigantesco, a China, que aumentou as tarifas sobre o etanol e um subproduto de ração animal norte-americanos. Apesar de a indústria americana ter enviado uma carta a Trump em 7 de fevereiro pedindo sua intervenção, esses problemas ficaram ausentes do anúncio de maio do acordo dos EUA com a China relacionado às commodities, que incluiu a carne bovina.

Para evitar um destino semelhante com o Brasil, as associações comerciais dos setores agrícola e de biocombustíveis com sede em Washington estão fazendo lobby para que o governo Trump adote uma postura mais suave e para que o Brasil reconsidere a questão da tarifa.

Os esforços parecem estar ajudando. Em 25 de julho, o Brasil adiou a decisão oficial da sua câmara de comércio sobre o possível imposto de 20 por cento. Entidades como o Conselho de Grãos dos EUA, a Associação de Combustíveis Renováveis e a Growth Energy aplaudiram a decisão.

"Se implementada, essa proposta teria um amplo impacto, e de longa duração, sobre as nossas indústrias e sobre o fornecimento global de combustível", afirmaram os grupos, em declaração enviada por e-mail.