Último trimestre é esperança de preços melhores
02-10-2017

Por Arnaldo Luiz Corrêa

O peso da rolagem das usinas, comentado aqui na semana passada, foi maior do que esperávamos. Dissemos que havia anda espaço para o outubro cair mais (que fechara a 13.98 centavos de dólar por libra-peso), para uns 13.50 talvez. O mercado foi mais pressionado do que isso e derrubou os preços para 13.01 centavos de dólar por libra-peso. Bem, a média dos fechamentos diários da bolsa de açúcar em NY no mês de setembro nesta sexta-feira foi de 13.93 centavos de dólar por libra-peso vis-à-vis a previsão do modelo Archer de 14.01 centavos de dólar por libra-peso, ou seja, nosso modelo errou em 0.56%.

No dia da queda máxima, ou seja, na quarta-feira, corriam fortes rumores no mercado acerca de operações de balcão cujos níveis de desativação foram alcançados (as conhecidas e afamadas knock-out). Nessas operações, o nível de proteção contratado na época estabelecia que caso o mercado caísse e atingisse determinado preço pré-estabelecido, toda a estrutura de hedge desapareceria. Desta forma, algumas empresas podem ter sido pegas nessa ratoeira e tiveram que substituir seus hedges de vendas sumidos repentinamente por vendas a mercado. Para não dizerem, injustamente, como me cobrou um colega, em recente evento, que sou um inimigo das operações de balcão, veja se esse tipo de operação funciona como hedge. Obviamente que não.

O alargamento do spread outubro/março é reflexo dessa rolagem, que teve o peso das malsucedidas recompras de hedge, da procrastinação por parte das usinas e do desinteresse do mercado físico. A expiração do contrato futuro de açúcar em NY apresentou no final uma entrega de mais de um milhão de toneladas de açúcar brasileiro pelos portos de Santos, Paranaguá e Maceió. Nenhuma surpresa que vá refletir em maior queda para a próxima semana, embora entregas volumosas como essa apenas ocorrem quando o mercado físico é desinteressante o suficiente para fazer com que o entregador utilize a bolsa como último recurso.

Os fundos aumentaram suas posições vendidas. Quando os fundamentos estão fracos o risco de aumentar a exposição compensa. Agora eles estão quase 90,000 contratos vendidos. Por outro lado, as usinas têm o limite de quase cinco meses para repensarem suas estratégias de fixação. Contam com o fator tempo que deve jogar a favor delas. E é sempre bom lembrar que nos últimos dezessete anos, por quatorze vezes, ou seja, em 82.35% dos casos, o preço mais alto da safra ocorreu entre outubro e fevereiro.

Segunda-feira é um novo dia e o início do último trimestre do ano. Acredito que o mercado vai começar a perceber os números de moagem para a safra 2018/2019 que já estão pipocando aqui e ali. Uma redução obvia em vista da estagnação na produção de ATR que o setor assiste nos últimos 7-8 anos. Um banco muito próximo do setor sucroalcooleiro estima uma moagem no Centro-Sul de 560 milhões de toneladas de cana para o próximo ano. Outros analistas colocam um teto de 590 milhões de toneladas de cana. Mas tem gente apostando em até 625 milhões de toneladas de cana, número que, segundo um executivo do setor é tão alto que “nem se plantássemos cana no sistema de beliche alcançaríamos”. A conferir.

O último trimestre do ano normalmente nos reserva melhores preços. Nas últimas cinco safras, o preço médio do mês de outubro negociado no mercado futuro de açúcar em NY foi superior àquele negociado no mês de setembro anterior. Nas últimas quinze safras, em 87% das vezes o preço médio observado em outubro foi melhor do que o de setembro. Mas quanto melhor? Na média dos últimos cinco anos, em 12%. Nos últimos quinze anos, apenas 7%. O modelo de previsão da Archer aponta um preço médio em outubro de 15.37 centavos de dólar por libra-peso, com um pico de 16.72 centavos de dólar por libra-peso e um chão de 14.02 centavos de dólar por libra-peso. O modelo espera um erro de 2.71% para mais ou para menos.