Um alerta ao setor sucroenergético!
08-09-2016

Por Tarcisio Angelo Mascarim

Quando são divulgadas na imprensa boas notícias de interesse do setor sucroenergético, tais como “Safra de cana 2016/2017 deve ser recorde” (publicada no site do Mapa, em 14/abril/2016), “O fim da era fóssil” (publicada no Especial Folha de S. Paulo de 29/agosto/2016), “O momento da virada” (publicada no site da Udop, em 31/agosto/2016) e “A demissão do principal detrator dos biocombustíveis” (publicada no site brasilagro.com, em 4/agosto/2016), chego à conclusão de que a retomada do desenvolvimento econômico do setor está próxima.

Por outro lado, o site novacana.com publicou, no dia 24/agosto/2016, a notícia “Blairo Maggi chama setor de etanol de incompetente”, na qual o novo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que é o principal Ministério que trata da cana-de-açúcar, a principal matéria-prima da produção do açúcar e do etanol, demonstra a falta de conhecimento do setor sucroenergético, do meio ambiente, dos prejuízos causados pela emissão dos gases presentes nos combustíveis fósseis, principalmente na gasolina e no diesel, e da importância do setor sucroenergético para a economia do nosso país.

Antes de dar suas declarações, tenho cá comigo que Maggi se esqueceu de se informar sobre o setor. Está no próprio site do Mapa (Ministério da Agricultura), e eu tomo a liberdade de transcrever alguns trechos, um histórico da cana-de-açúcar, para qualquer pessoa que se interesse ler:

"Introduzida no mercado colonial, a cana-de-açúcar se transformou em uma das principais culturas da economia brasileira. O Brasil não é apenas o maior produtor de cana. É também o primeiro do mundo na produção de açúcar e etanol e conquista, cada vez mais, o mercado externo com o uso do biocombustível como alternativa energética. (…) O etanol produzido no Brasil, a partir da cana-de-açúcar, também conta com projeções positivas para os próximos anos, devidas principalmente ao crescimento do consumo interno. A produção projetada para 2019 é de 58,8 bilhões de litros, mais que o dobro da registrada em 2008. O consumo interno está projetado em 50 bilhões de litros e as exportações em 8,8 bilhões. A política nacional para a produção da cana-de-açúcar se orienta na expansão sustentável da cultura, com base em critérios econômicos, ambientais e sociais. O programa Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar (ZAEcana) regula o plantio da cana, levando em consideração o meio ambiente e a aptidão econômica da região. A partir de um estudo minucioso, são estipuladas as áreas próprias ao plantio com base nos tipos da cana, solo, biomas e necessidades de irrigação. Está previsto, ainda, um calendário para redução gradual, até 2017, da queimada da cana-de-açúcar em áreas onde a colheita é mecanizada, proibindo o plantio na Amazônia, no Pantanal, na Bacia do Alto Paraguai (BAP) e em áreas com cobertura vegetal nativa”.

Cabe, agora, demonstrar ao Sr. Ministro Blairo Maggi, que é considerado o “Rei da Soja”, uma comparação resumida da produção da soja e da cana-de-açúcar desde a década de 80 até a safra de 2015/16:

De acordo com o site da Embrapa Soja, na safra de 2015/16, o Brasil apresentou a produção de 95,631 milhões de toneladas de soja, enquanto foram produzidas 658,700 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Comparando com a década de 80, quando a soja começou a se destacar como principal cultura do agronegócio, foram produzidas 15 milhões de toneladas de soja e 68,300 milhões de toneladas de cana. Assim sendo, de lá para cá, houve crescimento de 6,37 vezes da soja e 9,64 vezes da cana.

É preciso considerar também os seguintes aspectos: para produzir 95,631 milhões de toneladas de soja são utilizados 33,170 milhões de hectares, enquanto que para produzir 658,700 milhões de toneladas de cana-de-açúcar são utilizados somente 8,995 milhões de hectares, ou seja, 27,11% do utilizado pela soja. A cana-de-açúcar produz todos os produtos manufaturados (açúcar e etanol), desde o plantio até a venda, e, assim, gera empregos no Brasil, enquanto que de toda a produção da soja menos de 50% é usado para produtos manufaturados e mais de 50% é exportado e gera empregos no exterior.

Com isso, eu espero que Blairo Maggi pare de olhar para o próprio umbigo, reconheça a importância do setor sucroenergético para o país e para o mundo e tome muito cuidado para não ser o novo detrator dos biocombustíveis.

Em tempo, o site novacana.com publicou, no dia 1º/setembro/2016, a notícia de que o governo federal definiu o nome para substituir o principal detrator dos biocombustíveis, Ricardo de Gusmão Dornelles, no cargo de diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis (DCR), do Ministério de Minas e Energia (MME), vago desde 3 de agosto último. O escolhido é Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, funcionário da Embrapa, graduado em Economia pela Pontifícia Universidade Federal de Goiás (PUC-GO), com mestrado em agronegócio.

Assim, termino meu artigo na esperança de que Miguel Ivan tenha conhecimento da importância do setor sucroenergético para o nosso País e para o mundo e consiga implementar políticas públicas de longo prazo para a retomada desta relevante área da economia brasileira (Tarcisio Angelo Mascarim é secretario de Desenvolvimento Econômico de Piracicaba e diretor do SIMESPI. Leia mais artigos no www.tarcisiomascarim.com.br)