Uma alta nada convincente
12-06-2017

Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar em NY continua tendo enorme dificuldade em se sustentar próximo dos níveis de 14-14.50 centavos de dólar por libra-peso. As notícias ruins para o setor vão gradualmente se acumulando e ganham maior magnitude sob nuvens mais densas e sombrias. Na quarta-feira, por exemplo, o preço do barril do petróleo no mercado internacional caiu mais de 5%.

O petróleo é hoje o fator de maior peso na formação do preço do açúcar para as próximas semanas. Se o preço do combustível lá fora continuar despencando e o real interrompendo sua trajetória descendente em relação ao dólar, não será surpresa se a Petrobras introduzir muito brevemente uma nova redução no preço na gasolina, afetando diretamente a relação com o etanol hidratado e incentivando às usinas a otimizarem sua produção de açúcar.

Basta observar que o mercado de energia, no acumulado deste ano, trabalha no vermelho. A queda da gasolina no mercado internacional foi de 10%, petróleo caiu 15%, gás natural mais de 18%. Sabe quem foi pior que eles? O açúcar, com 27% de encolhimento.

O vencimento julho de 2017 encerrou a semana negociado a 14.27 centavos de dólar por libra-peso, 53 pontos melhor do que a semana anterior, ou seja, quase 12 dólares por tonelada. Os demais meses também apresentaram desempenho no campo positivo, encerrando com variações entre 30 e 48 pontos.

Não existe nenhuma notícia alvissareira no mercado que justifique a alta, mas apenas a impressão de que o mercado exagerou na queda. Vamos ver se é isso mesmo, pois da parte dos fundos, eles aumentaram suas posições vendidas e agora acumulam quase 50,000 contratos vendidos, baseado no posicionamento dos traders da última terça-feira. É provável que parte da alta vista nesta semana tenha sido alimentada pela cobertura de posições vendidas pelos fundos.

Muitas usinas estão olhando com atenção a curva de dólares para o próximo ano e tentando aproveitar eventuais picos que possam ocorrer e, então, fazer um hedge antecipado da moeda, deixando em aberto a fixação em centavos de dólar por libra-peso. Pode ser uma boa estratégia, levando em consideração que o real pode se valorizar frente à moeda americana quando o cenário político nacional baixar sua poeira e que o Banco Central deve promover mais um corte na taxa básica de juros.

Para quem viu preços de um ano acima de R$ 1,600 por tonelada há pouco tempo atrás, agora lambe os beiços quando o mercado atinge R$ 1,250 mesmo usando NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira). Que dureza.

O lado perverso da crise nos preços internacionais do açúcar é a diminuição da geração de caixa e consequente adiamento da amortização e pagamentos de dívidas contraídas pelo setor ao longo da última década. Pelos nossos cálculos, a dívida do setor sucroalcooleiro com base no final de maio é de R$ 87.71 bilhões. Como o País deve moer aproximadamente 650 milhões de toneladas de cana, o endividamento médio é de R$ 135 por tonelada de cana moída. A dívida do setor cresceu 3.12% no último ano.

O consumo de combustíveis em gasolina equivalente, segundo dados da ANP, cresceu 0.14% nos últimos doze meses em relação a igual período do ano anterior. O consumo de etanol anidro e gasolina A (sem mistura) subiram igualmente 5.78%, enquanto o consumo de anidro hidratado despencou 19.49%. O consumo no Brasil somou nos últimos doze meses 57.47 bilhões de litros, 1.57% abaixo dos 58.39 bilhões de litros consumidos no mesmo período anterior. Hoje, a matriz está formada de 44.4% de etanol e 55.6% de gasolina, o pior percentual para o etanol desde maio de 2015. E dez pontos percentuais longe dos áureos tempos de 2009 (54.5% de etanol).

A indústria precisa se mover e se juntar para investir e implementar um programa de crescimento sustentável nos moldes do RenovaBio sob pena de virar um produtor de aditivo.