Unica diverge de Conab e prevê dificuldades para a nova safra de cana
08-08-2014

A quantidade de cana do centro-sul do Brasil disponível para moagem na temporada 2015/16 (abril/março) provavelmente será bastante semelhante ao total processado na fraca temporada atual (2014/15), demonstrando contínuos problemas do setor, disse o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), ressaltando ainda que os números do governo superestimam os volumes da colheita em desenvolvimento.

Segundo ele, ainda há muitas variáveis que determinarão a moagem da próxima safra, após a severa seca deste ano ter afetado a produção de cana. As previsões da Unica indicam uma redução de 40 milhões a 50 milhões de toneladas no processamento em 14/15, para cerca de 550 milhões de toneladas, ante o recorde da safra passada.

E não se pode esperar mudanças expressivas na safra para 2015/16, assim como grandes crescimentos nos próximos anos, até porque boa parte do setor está em dificuldades financeiras que afetam a capacidade de investimento.

"Se tiver uma variação da quantidade de cana (em 15/16), ela vai ser ou um pouco maior ou menor em relação à quantidade de cana processada na safra atual... Vejo uma estabilidade nos próximos cinco anos (na safra)", afirmou o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, à Reuters.

Segundo ele, as atípicas chuvas registradas ao final de julho em áreas produtoras foram "positivas" para a brotação da cana que deverá ser colhida no ano que vem.

Mas a lavoura ainda precisa de mais precipitações em agosto e também das chuvas do primeiro quadrimestre de 2015.

Além das questões climáticas, apontou Padua, a área a ser colhida provavelmente "vai ser um canavial mais velho" e menos produtivo. "O plantio de janeiro a abril não aconteceu porque não teve chuva."

Ele disse ainda que vai haver um percentual de cana de primeiro corte (mais produtiva) com menor participação na próxima safra, sem falar que o rendimento agrícola dependerá muito do índice de reforma do canavial.


Divergências

As previsões divulgadas pelo governo nesta quinta-feira sobre a safra de cana 2014/15 e sobre a produção de açúcar e etanol para a região centro-sul do Brasil não deverão se confirmar, disse o diretor técnico.

A produção de açúcar do centro-sul do Brasil em 2014/15 foi estimada nesta quinta-feira em 34,59 milhões de toneladas, ligeira alta na comparação com a produção registrada na temporada passada, apesar da severa seca que atingiu os canaviais brasileiros, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que projetou uma safra praticamente estável ante 2013/14.

"Gostaria que fosse verdade, se tivesse essa cana para processar e tivesse essa produção de açúcar e etanol, as empresas não teriam tantos problemas...", afirmou Padua.

Ele rebateu representante do Ministério da Agricultura que, ao ser questionado mais cedo sobre a diferença entre os números do governo e do setor privado, afirmou que o levantamento da Conab está correto, uma vez que os técnicos da estatal vão a todas as unidades produtoras.

Segundo Padua, todos números dos especialistas para 14/15 estão mais próximos aos apurados pela Unica, indicando um problema no levantamento da Conab.

Ele citou, por exemplo, problemas nos números da Conab sobre o Estado de São Paulo, que colhe mais da metade da cana do centro-sul.

"Como a quebra agrícola vai ficar em 7 por cento em São Paulo, se até o final de junho quebrou mais de 7 por cento... a quebra daqui para frente vai ser muito maior, por conta da falta de chuva", declarou.

Padua disse ainda que o problema no levantamento da Conab pode estar relacionado ao fato de os técnicos terem contabilizado as mesmas áreas de cana mais de uma vez, ao perguntarem às usinas o total de volume a ser colhido, num ambiente de disputa da matéria-prima junto aos fornecedores.

Ele acrescentou que a quebra de safra de 40 milhões ou 50 milhões de toneladas não vai afetar a oferta de etanol no mercado interno, pois a produção de açúcar será reduzida entre 2 e 2,5 milhões de toneladas e parte do volume exportado de biocombustível no ano passado, de mais de 1 bilhão de litros, será redirecionado ao mercado doméstico.


Roberto Samora com reportagem adicional de Fabíola Gomes