2015: um ano de agonia e de esperanças
31-12-2015

No apagar das luzes de 2015, todas as expectativas já estão voltadas para o “ano que vai nascer”. Isso não é diferente para executivos e profissionais do setor sucroenergético, para os quais os últimos doze meses foram de muitas dificuldades.
Mas, graças a muito trabalho, 2015 será lembrado no futuro também como o ano do início da recuperação do setor, depois de praticamente sete anos de crise, que deixou na lona toda a cadeia sucroenergética – de fornecedores de cana e usinas (foram cerca de 80 que fecharam as portas nos últimos anos), até toda uma cadeia de insumos e tecnologia (vide o drama vivido pela Dedini). Problema que levou dificuldades para muitas cidades que dependem da agroindústria canavieira.
Apesar de todas as dificuldades, o ano que chega ao fim deixa como herança boas perspectivas para 2016, mesmo com todas as turbulências esperadas no âmbito político e econômico para o país. Até que ponto o cenário macro vai afetar a atividade bioenergética não se tem como se prever precisamente. Mas a torcida é que tudo entre nos trilhos o mais rápido possível, porque não agrada a ninguém ver o país agonizar.
2015 também fica marcado pela celebração dos 40 anos do Proálcool, o programa instituído em 1975 e que deu o pontapé em um das mais genuínas, prósperas e inovadoras iniciativas deste país.
Em entrevista concedida para o Jornal Canavial, da Siamig, em alusão aos 40 anos do Proálcool, o ex-ministro da Indústria e Comércio (1979 a 1985), João Camilo Penna lembra que se trata de um programa que surgiu com “a meta ousada de produção de um combustível que fosse abastecido diretamente no motor, o álcool hidratado, semelhante à mesma quantidade de barris de petróleo... Até então existia apenas o álcool anidro, na proporção de 20% na gasolina.” Oxalá, que essa retomada do setor seja duradoura e revigore um setor que, ao longo dessas quatro décadas, fez do Brasil uma referência mundial em bioenergia. E construído graças ao olhar arrojado e à dedicação de alguns grandes personagens desse país.

CLIMA E TECNOLOGIAS
São Pedro foi um grande parceiro do setor em 2015. Depois de um ano de 2014 extremamente seco, o fenômeno El Niño se instalou, e com ele as chuvas vieram com vontade ao longo do 2015, o que ajudou a elevar os índices de produtividade, apesar da queda do ATR. Negativo foi que o fenômeno também trouxe seca para a região Nordeste do país, o que derrubará a produção de cana na região. No Centro-Sul, a safra 2015/16 deverá terminar próximo de 600 milhões de toneladas de cana processadas, mas com tanta chuva nesse ano, muitas usinas deverão começar 2016 ainda processando cana.
O ano também foi caracterizado pelo grande esforço das empresas em desenvolverem novas tecnologias, com o objetivo de aumentar a produtividade e reduzir custos. Em 2015, as mudas pré-brotadas conquistaram espaço nos canaviais, mas também já surgiu uma novidade que também deverá revolucionar o setor: o plantio de cana com “sementes”. A cana-energia começa a sair do campo de pesquisas, se tornando realidade. E o setor volta a perceber a premência em fazer o arroz com feijão bem feito, com incorporação de tecnologias, a fim de melhorar os resultados. Caso contrário, fica difícil sobreviver.
Também foi ano de lançamento de novas variedades, de o setor buscar novas práticas, como plantio de mudas de cana no sistema de Meiosi em rotação de cultura, testes com sorgo, discussão sobre a viabilidade de se produzir etanol de milho no Brasil etc.

BIOELETRICIDADE
A biomassa também ganha papel cada vez mais relevante para esta agroindústria, com o avanço de tecnologias de recolhimento e processamento da palha da cana. Importante para aumentar a viabilidade da tecnologia de etanol de segunda geração (2G), que no Brasil tem a Raízen e a Granbio na vanguarda.
A bioeletricidade também foi muito discutida ao longo do ano. O setor ainda pede uma política pública mais incisiva por parte do governo favorável ao estímulo à bioeletricidade. De qualquer forma, a importância da energia elétrica advinda da cana-de-açúcar atingiu um patamar inédito em 2015, chegando a representar 8% da matriz elétrica do país no mês de agosto. Mas com medidas mais sólidas, o setor poderia cogerar muito mais energia e assumir espaço ainda maior nessa matriz. De acordo com a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), de janeiro a agosto de 2015, o bagaço e a palha da cana produziram 13.740 GWh para o sistema nacional, um aumento de 14% em comparação ao mesmo período do ano passado.
Mas a falta de políticas faz acender um sinal de alerta para o futuro: “o cenário agora é diferente. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), até 2019, a previsão é de que a biomassa instale somente 2.770 MW no sistema nacional, menos da metade do que foi instalado entre 2010 e 2014. Sem medidas adequadas para a bioeletricidade sucroenergética, o seu potencial seguirá subaproveitado”, segundo a UNICA (União da Indústria da Cana-de-açúcar).
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