A aplicação de substâncias húmicas nos canaviais
15-06-2023

 Da terra preta, bonita, que veio, por exemplo, de uma compostagem, é possível extrair frações, com base em tratamento base ou ácido
Da terra preta, bonita, que veio, por exemplo, de uma compostagem, é possível extrair frações, com base em tratamento base ou ácido

A aplicação de ácidos húmicos, em altas doses, na cultura da cana é voltada para o condicionamento do solo

Por Renato Anselmi

Substância húmica é a matéria orgânica estabilizada. Daquela terra preta, bonita, que veio, por exemplo, de uma compostagem, é possível extrair frações, com base em tratamento base ou ácido – explica o professor da UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro), Fábio Lopes Olivares. O ácido húmico é essa fração da terra preta, que é solúvel em base, por exemplo, hidróxido de potássio, hidróxido de sódio, e depois é precipitada com ácido. É um bioestimulante, com elevada atividade indutora do crescimento da planta – destaca Olivares. 

Há também o ácido fúlvico, que é solúvel em base. O mais utilizado é o ácido húmico. Esse é também é um mercado muito pujante – observa o professor da UENF. As principais fontes são as reservas de turfas e de leonarditas (não existentes no Brasil).  “A extração do ácido húmico no país ocorre nas turfeiras, aquela terra preta de baixada. Após a realização do tratamento químico, há estabilização do produto, o envasamento e, seguida, a comercialização”, diz.

A aplicação de ácidos húmicos, em altas doses, na cultura da cana é voltada para o condicionamento do solo. Esse procedimento aumenta o conteúdo de matéria orgânica, que organiza melhor a estrutura do solo, formando poros que podem conservar mais água e aerar o solo – detalha. A matéria orgânica retém os nutrientes, impedindo que eles sejam perdidos para a atmosfera ou para o lençol freático, formando uma espécie de esponja que os absorve. É fonte de carbono e outros nutrientes. “Matéria orgânica tem um impacto na química, na física e na biologia do solo”, ressalta.

Outra vertente do ácido húmico, apresentada por Olivares, é a utilização em pequenas dosagens, de 4 a 20 miligramas por litro. Nesse caso, ele é o indutor de processos de estimulação na planta, melhorando o enraizamento e, consequentemente, a exploração de nutrientes do solo – diz. “O ácido húmico trabalha de uma forma sinérgica com microorganismos. “Essa foi uma patente do nosso grupo. Eu e o professor Luciano Canellas, especialista em química das substâncias húmicas, depositamos essa patente em 2006 no INPI, que já foi quebrada, porque passaram mais de dez anos”, conta.

O interesse pela tecnologia, salienta Olivares, sobre a utilização combinada de bactérias benéficas e ácidos húmicos, tem aumentado. O uso dessa combinação já ocorre, por exemplo, nos estados de São Paulo, Paraná e Espírito Santo. “Produtores combinam substâncias húmicas com os nutrientes. formulam com fertilizantes, com aminoácidos. Tem muita gente usando substância húmica como veículo, aplicando a ureia com a substância húmica. Essa medida melhora o aproveitamento da ureia, porque reduz perdas e aumenta a capacidade da raiz absorver esses nutrientes”, afirma.

A utilização conjunta de bactéria e substâncias húmicas ainda é um processo que poucos adotaram – esclarece o pesquisador. A tendência é aumentar. O uso isolado de substâncias húmicas, no território nacional, é muito grande, não só como condicionador, mas também como bioestimulante – destaca. Essas tecnologias podem ser aplicadas para todas as culturas.

O Brasil tem muita maturidade nas pesquisas de bioinsumos – comenta Olivares –, incluindo as que são baseadas em microorganismos benéficos e substâncias húmicas. O próprio Fábio Olivares fundou em 2009 um grupo científico, tecnológico e de inovação conhecido pela sigla Nudiba (Núcleo de Desenvolvimento de Insumos Biológicos para a Agricultura).

Fonte: CanaOnline