A dura crise como rotina em Sertãozinho
14-07-2015

Os efeitos da crise econômica nacional foram especialmente perversos em Sertãozinho.
A cidade, que já foi referência nacional na geração de empregos e que ostenta o título de “capital do açúcar e do álcool”, sofre com a recessão que atingiu o setor sucroenergético e que arrastou consigo a forte indústria metalúrgica instalada na cidade, especializada na fabricação e manutenção de equipamentos para essa mesma indústria.
De quebra, os setores de comércio e serviços também foram afetados, em efeitos que ultrapassam fronteiras municipais.
A dependência da economia local em relação à cadeia produtiva da cana é brutal. De acordo com dados da Secretaria Municipal da Indústria e Comércio relativos ao início do ano, das cerca de 44 mil carteiras assinadas existentes na cidade, 20 mil estão ligadas ao setor sucroenergético, responsável por 70% do PIB (Produto Interno Bruto) local.
A crise do açúcar e álcool provocou efeitos devastadores na indústria local, fortemente dependente das usinas: com um índice de ociosidade industrial de 60%, teve início um processo maciço de demissões, que ainda não parou. Sem clientes, comércio e serviços também foram afetados. Em janeiro, um protesto com representantes de todas as áreas afetadas juntou cerca de 9 mil pessoas nas ruas para protestar contra a crise.
O impacto da crise do álcool e açúcar no município está retratado no boletim de junho da Fundace (Fundação para a Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Economia e Contabilidade), relativo ao mercado de trabalho.
O documento mostra que, entre maio deste ano e o do ano passado, o município perdeu 3.516 postos de trabalho, dos quais 2.390 só na indústria. Com cerca de 120 mil habitantes, os números do desemprego em Sertãozinho ultrapassam os de Ribeirão Preto (3.292), cuja população é cinco vezes maior.
“A situação ainda está bastante ruim, sobretudo por causa da dependência da indústria em relação ao setor do açúcar e álcool. Não temos nenhum contrato, nenhum novo projeto”, disse o diretor-técnico do Ceise-BR (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis), Paulo Gallo. “O que ameniza essa situação é a existência de alguns contratos para prestação de serviços, relacionados com manutenção, mas são paliativos”, completou.
Ainda na cana
E da mesma forma como a origem da crise em Sertãozinho originou-se na que se abateu sobre a indústria do álcool e da cana, a solução também deverá vir daí. Segundo Paulo Gallo, algumas medidas de incentivo do governo ao setor, como o aumento do percentual de anidro na gasolina (de 25% para 27,5%), são um bom começo. Mas ainda é preciso mais. “O problema é que o governo tem reações muito lentas”, afirmou.
Dependência e ‘pacto’
No dia 27 de janeiro deste ano, cerca de nove mil pessoas ocuparam as ruas de Sertãozinho para protestar contra a crise. Entre os participantes do Movimento pela Recuperação do Setor Sucroenergético estavam representantes da classe política, trabalhadores (empregados e desempregados), empresários, comerciantes e todos os que, direta ou indiretamente, foram afetados pelo efeito-cascata que se formou após a retração da cadeia produtiva da cana.
“Toda atividade econômica de Sertãozinho e região é alicerçada no setor metalúrgico e atrelada à retomada do setor sucroenergético. Com a crise, todas as categorias estão sofrendo as consequências. Não podemos ficar parados, esperando pelo pior”, disse na ocasião, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Sertãozinho (Sincomercio), José Carlos Canesin, em entrevista ao A Cidade.
Uma das consequências diretas do movimento de janeiro foi a criação de um “pacto social” – um conjunto de medidas destinadas a atenuar o impacto da onda de demissões no município. Entre elas, estava a venda de uma cesta básica de alimentos a preço de custo, garantia de manutenção de planos de saúde que os trabalhadores tinham quando estavam empregados, flexibilização para pagamento de dívidas de desempregados em estabelecimentos ligados à associação comercial, entre outras. Oficialmente, o pacto social continua em vigor.
A importância da cogeração de energia
A cogeração de energia elétrica pode se tornar uma das principais alternativa para Sertãozinho fugir da crise. O processo consiste na construção de usinas de biomassa para a geração de energia elétrica a partir do bagaço de cana.
“A cogeração de energia é a bola da vez, a saída em meio a uma crise hídrica séria. E as usinas que não cogeram sofrem mais com a crise que o setor enfrenta. Por isso a feira vai trazer alternativas para o segmento”, explicou Paulo Montabone, gerente geral da Fenasucro e Agrocana, uma das principais feiras nacionais do setor.
Este ano, o evento terá uma área especialmente voltada para a cogeração de energia elétrica. Uma frase de Paulo Montabone, durante a apresentação da Fenasucro, em abril, resume a importância da cogeração de energia elétrica para as usinas. “Hoje temos uma Itaipu e meia parada, podendo cogerar energia.”
Painel Produzir
O primeiro painel terá como base o conceito de Produzir, onde será debatida a crise econômica, seus efeitos e a busca de saídas. O convidado é o economista e professor de Economia da USP, Eduardo Giannetti da Fonseca, autor do livro “O valor do amanhã”. Ele apresentará a palestra “Conjuntura econômica, crise e capital humano”.


Fonte: A Cidade