A excelência do manejo agrícola no sistema bioenergético - Por: Rogério Augusto Bremm Soares
05-05-2023

Com papel decisivo para a indústria alimentícia, por meio da produção de açúcar, e de estímulo à diversificação da matriz energética brasileira, com a geração de bioeletricidade e biocombustíveis, o setor sucroenergético enfrenta desafios que demandam cada vez mais a adoção de estratégias capazes de aliar tecnologia e sustentabilidade.

Publicado em Revista Opiniões, número 76, divisão C, Mai-Jul - 2023

E como uma das maiores processadoras de cana-de-açúcar do mundo, a BP Bunge Bioenergia vem utilizando práticas agrícolas e soluções de gestão do campo que ampliam a produtividade e minimizam os impactos negativos ao meio ambiente. A partir de investimentos em pesquisa e desenvolvimento orientados por uma agenda de valorização da economia circular, garantimos que a sustentabilidade de nossos produtos seja baseada em eficiência operacional com visão de longo prazo.

Nesse sentido, há todo um conjunto de ações que vão desde o incremento do uso de bioinsumos, matérias orgânicas e Mudas Pré-Brotadas (MPB) nas lavouras, até alternativas para reduzir a aplicação de defensivos químicos, qualificar o controle biológico e promover o uso racional da irrigação. Assim, uma iniciativa fundamental passa pela meta de eliminar, no plantio, o uso de fertilizantes minerais até 2025, valorizando a vinhaça e a compostagem na nutrição do solo.

Agricultura regenerativa como diferencial: Aplicada de forma localizada, a vinhaça - um dos subprodutos do processamento da cana-de-açúcar - possibilita evitar o uso de água na irrigação e proteger a qualidade do solo, impedindo a saturação dos campos com potássio. Dos 300 mil hectares próprios da BP Bunge Bioenergia, cerca de 80% já contam com a utilização do resíduo, capaz de expandir a longevidade do canavial em dois anos e trazer ganhos de produtividade entre três e dez toneladas por hectare.

Os resultados são animadores e projetamos até 2025 elevar essa aplicação para 96% das lavouras. Na mesma linha, conseguimos, na safra 2022/23, substituir o uso de fertilizantes nitrogenados em 100% da área de plantio, ampliando a presença da bactéria nitrospirillum amazonense. A solução colabora com a fixação de nitrogênio e o desenvolvimento da cana, incrementando a produtividade nos campos.

Além disso, em 100% das áreas de soqueira é utilizada a bactéria azospirillum brasilense, bioestimulante que inibe estresses nutricionais e doenças e limita impactos climáticos. Tal prática já oportunizou, por exemplo, a diminuição de 50% das doses de nitrogênio.

Presente no DNA da BP Bunge Bioenergia, a agricultura regenerativa conta com diversas técnicas que protegem a saúde e a fertilidade do solo e favorecem a biodiversidade. Entre elas está a compostagem, pela qual podemos melhorar a condição do solo e ter um aumento de produtividade entre 10 a 15 toneladas por hectare.

Desse modo, no último ano safra começamos a padronização dos pátios de compostagem para mistura de torta de filtro (oriunda da filtração do caldo da cana) e das cinzas do bagaço (derivadas da queima para geração de bioenergia) - até 2025, a meta é produzir fertilizantes organominerais a partir dessas matérias orgânicas e eliminar, no plantio, o uso de fertilizantes minerais, como o fósforo e o potássio.

Bom para o setor, melhor para o meio ambiente: Outro eixo significativo na busca pela excelência no manejo agrícola é o controle biológico de pragas. Nas nossas 11 usinas, utilizamos drones/VANTs, entre outras tecnologias, para fazer a distribuição das larvas da vespa cotesia flavipes nos canaviais, visando o combate da broca (larva que causa grandes perdas de produtividade nas lavouras).

Já no enfrentamento à cigarrinha e ao sphenophorus levis (bicudo da cana-de-açúcar), a empresa utiliza, respectivamente, o fungo metarhizium anisopliae e a tecnologia dos nematoides entomopatogênicos (heterorhabditis bacteriophora), onde ela é pioneira e conta com ótimos resultados.

No intuito de potencializar a produtividade nos canaviais, se mostra muito efetivo o plantio com Mudas Pré-Brotadas (MPB), importantes para garantir rastreabilidade e reduzir custos. No Núcleo de Produção de MPB - unidade Moema, em Orindiúva-SP, geramos por volta de 3,4 milhões de mudas de cana-de-açúcar ao ano, levando em conta as especificidades de cada uma das 11 unidades da companhia.

Esse processo alavanca a confiança na origem do material e proporciona plantas mais saudáveis e de crescimento 20% mais veloz em comparação a outros métodos de plantio.

Por fim, cabe salientar que a redução na captação e no consumo de água e a qualidade dos recursos hídricos fazem parte da nossa agenda sustentável, presentes nas metas de "Nossos Compromissos 2030", que tem a finalidade de garantir o uso racional desse recurso em nossos processos agroindustriais.

Tanto para amenizar impactos climáticos como para maximizar a produtividade nos campos, nosso manejo de mitigação de déficit hídrico foca na organização da colheita e na expansão consciente de irrigação e fertirrigação (sem vinhaça localizada), auxiliando na brotação e melhora do ciclo produtivo. Na última safra (22/23) a aplicação de água ou vinhaça alcançou aproximadamente 60% da área plantada.

Além do manejo de colheita e da irrigação, outras práticas são utilizadas constantemente para promover o crescimento das raízes, como, por exemplo, incorporação de matéria orgânica, rotação de cultura, aplicação de adubo organomimeral e estimuladores de desenvolvimento. Importante destacar que o aproveitamento da água residuária e da vinhaça no processo de fertirrigação permite que também tenhamos menor demanda de captação de água nos cursos d??´água, para fins de irrigação.

Alcançar elevados índices de produtividade, em consonância com um projeto de desenvolvimento sustentável, exige empenho, investimentos, pesquisa, tecnologia. Exige avançar em melhores práticas, em eficiência e identificar oportunidades.

Nosso compromisso em ser a referência mundial na produção de energia sustentável passa por algumas das técnicas brevemente destacadas neste espaço, e que deverão ganhar ainda mais força nas próximas safras, objetivando construir um futuro de baixo carbono com a economia de recursos financeiros e ambientais.

Rogério Augusto Bremm Soares

Diretor Agrícola da BP Bunge Bioenergia

Fonte: Revista Opiniões

Do site: Udop