A Índia, pela primeira vez na história, fechou contratos de exportação de açúcar antes de iniciar a safra
28-09-2021

Colheita de cana na Índia. O país é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar, produz em torno de 370 milhões de toneladas, só perde para o Brasil
Colheita de cana na Índia. O país é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar, produz em torno de 370 milhões de toneladas, só perde para o Brasil

 A ação inédita se deve aos preços altos do açúcar no mercado internacional

*Arnaldo Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira praticamente inalterado. O contrato de outubro/21, que expira na semana que vem, finalizou a 19.16 centavos de dólar por libra-peso (apenas 2 pontos abaixo do fechamento da semana anterior). O contrato para março/22 encerrou 10 pontos acima da sexta passada, a 19.96 centavos de dólar por libra-peso. Os demais vencimentos tiveram leve alta entre 2 e 9 pontos. O dólar acabou a semana negociado a R$ 5,3384 uma queda de 1% em relação à semana passada.

Como era de se esperar, o spread outubro/março abriu mais, ou seja, aumentou o desconto do primeiro mês em relação ao segundo, evidenciando que os detentores de posições compradas no contrato futuro de outubro querem se livrar do açúcar o quanto antes. Seja qual for a razão: frete alto no curto prazo, acomodação no fluxo de caixa ou falta de comprador no destino final, o fato é que o desconto subiu para mais de 10.5% ao ano equivalente. Se tivermos uma entrega volumosa de açúcar na próxima quinta-feira na expiração do contrato de outubro, o mercado futuro de NY pode sentir o baque da anemia contagiosa do físico e se mover em direção aos 19 centavos de dólar por libra-peso.

Similarmente ao que ocorreu no Brasil, com as usinas adiando novas vendas e fixações de preço de seus açúcares para a exportação, também a Índia está embarcando nessa aposta. Sob o argumento de que a seca, a geada e os incêndios que atingiram parte dos canaviais do Centro-Sul reduzirão a disponibilidade de açúcar por parte do Brasil a partir da próxima safra, os exportadores indianos resolveram dar uma pausa. Acreditam que os efeitos climáticos deverão elevar os preços do contrato futuro de açúcar em NY para além dos 20 centavos de dólar por libra-peso.

A Índia, pela primeira vez na história, fechou contratos de exportação de açúcar antes de iniciar a safra aproveitando os preços altos no mercado internacional. Mais de 1.2 milhão de toneladas estão fixadas e vendidas. Agora, percebe-se um ritmo mais lento e os exportadores indianos acreditam que conseguirão vender seus açúcares ao redor de 21.50 centavos de dólar por libra-peso. Esperanças vãs ingênuas substituem o pragmatismo que deveria conduzir as negociações comerciais.

*Arnaldo Corrêa – diretor da Archer Consulting

Fonte: CanaOnline