A necessidade de atualizar o Consecana, que passou a ser um sistema perde-perde
18-10-2021

A metodologia que define a remuneração do produtor de cana precisa ser mais efetivo e otimizar resultados na continua busca pela eficiência

*Arnaldo Luiz Corrêa

O Consecana (metodologia que define a remuneração do produtor de cana) sempre buscou representar com maior transparência possível o valor da cana dentro da cadeia produtiva. Ninguém duvida ser um modelo que fez sucesso a ponto de ser copiado por outros produtos agrícolas. No entanto, modelos precisam ser atualizados de tal maneira que melhorem a efetividade e otimizem resultados na continua busca pela eficiência.

Mas, o que está faltando ao Consecana? Já há alguns anos tenho alertado acerca da ineficiência do indicador quando nos deparamos com mercados invertidos, que é o caso agora. Primeiramente, vamos explicar o que é um mercado invertido: é quando o preço dos contratos futuros com vencimento mais curto é maior do que o preço dos contratos futuros com vencimento mais longo. Isso normalmente ocorre quando existe uma disponibilidade menor do produto ou quando a curva da moeda (real) distorce os preços futuros em centavos de dólar por libra-peso em função da disparidade entre as taxas de juro interna e externa, que é o caso agora. Há outras razões, mas vamos ficar apenas com essas.

E como isso pode afetar o Consecana? Pois bem, relembro o mês de novembro de 2016 quando o açúcar em NY negociava 21.90 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento maio/17, primeiro da safra 17/18, que se iniciaria dali a cinco meses. Naquela ocasião, nós recomendávamos a fixação de preços em NY devido a enorme rentabilidade que ela daria.

As usinas resistiram em fixar preços da parte correspondente à cana de terceiros pelo risco de NY continuar subindo e a usina ver minguar a esperada rentabilidade por conta de um Consecana maior. O que ocorreu quando chegamos em abril/2017? Ora, o mercado de açúcar derretera 600 pontos (hoje equivalente a R$ 720 por tonelada). Perderam dinheiro a usina que não fixou porque a cana era de terceiros e o fornecedor de cana porque seu pagamento depende da fixação da usina.

É óbvio que o sistema necessita de ampla discussão para que situações como essa – que ocorrem hoje, por exemplo – não se repitam. Precisamos criar um mecanismo robusto para que todos tirem o maior proveito possível, a usina e o fornecedor/produtor de cana. Do jeito que está, é um sistema perde-perde. Funciona razoavelmente bem em mercados de carrego (o oposto do invertido, ou seja, aqueles em que o preço futuro é maior do que o preço com vencimento mais curto), mas é ineficiente em mercados que demandam um pouco mais de criatividade.

*Arnaldo Luiz Corrêa - Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos