Abengoa diz estar em "reestruturação" no Brasil para negociar com credores
02-12-2015

A elétrica Abengoa, cuja matriz na Espanha entrou com pedido de recuperação judicial na última semana, informou que as operações no Brasil, onde atua principalmente na construção e operação de linhas de transmissão de energia, também serão afetadas.
"Estamos imersos em um processo de reestruturação para preservar o negócio da companhia, com o objetivo de negociar com os credores financeiros, com tudo o que uma reestruturação implica", disse a empresa à Reuters, em nota.
Segundo informações disponíveis no site da Abengoa, a companhia possui 6,3 mil quilômetros em linhas de transmissão em construção no país, incluindo uma instalação vista como importante para o futuro escoamento da energia da hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo construída no Pará.
Questionada sobre o andamento dos projetos no país, a Abengoa disse que "está estudando caso a caso e tomará a decisão mais adequada para preservar e proteger seu negócio atual e futuro".
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) está ciente da crise na Abengoa e vai realizar uma reunião com representantes da empresa ainda nesta semana para discutir os impactos sobre obras e o setor elétrico do Brasil, segundo informações da assessoria de imprensa do regulador.
Na segunda-feira, o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada e Montagem Industrial do Estado da Bahia (Sintepav-BA), Irailson Warneaux, disse que a Abengoa demitiria até 4,6 mil, de 5 mil trabalhadores no Brasil. Ele participou de uma reunião com representantes da companhia na semana passada.
As demissões já tiveram início na Bahia, com 500 desligamentos concluídos na semana passada e 1,5 mil sendo realizados nesta semana, segundo o Sintepav.
A empresa não fez comentários sobre as demissões.
A Abengoa possui ainda 3,5 mil quilômetros em linhas no Brasil nas quais é responsável pela operação e manutenção, além de duas usinas de cogeração de energia.
A companhia soma 2,1 bilhões de reais em créditos tomados no Brasil junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), informou à Reuters a instituição financeira, que disse não temer problemas nas operações devido às dificuldades da Abengoa.
"Todos os projetos financiados... estão operando e o banco possui boas garantias associadas aos empreendimentos", disse a instituição.
Segundo o banco de fomento, há "recebíveis e fianças bancárias" atrelados aos projetos e "eventual pedido de recuperação judicial da matriz não afeta o BNDES do ponto de vista do recebimento de seus créditos".
As operações do BNDES com a Abengoa financiaram seis empreendimentos de transmissão de energia e uma usina de cogeração de eletricidade a partir do bagaço de cana, todos já em operação comercial e em fase de amortização da dívida.
As seis operações que envolvem linhas de transmissão são na modalidade project finance, em que a própria receita do empreendimento assegura o pagamento do empréstimo, destacou o BNDES.