Abisolo 2025 reúne ciência e indústria e premia pesquisas que impulsionam insumos orgânicos e biofertilizantes
28-10-2025
O Conexão Abisolo 2025, realizado nos dias 22 e 23 de outubro no Expo Dom Pedro, em Campinas (SP), consolidou-se como espaço de articulação entre indústria, universidades e instituições públicas de pesquisa. Promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), o evento integrou o II Fórum de Fertilizantes de Matriz Orgânica e o III Simpósio de Biofertilizantes, com debates centrados em inovação, economia circular e aplicação de bioinsumos na mitigação de estresses abióticos.
Pesquisadores da Embrapa apresentaram resultados aplicáveis ao campo e tecnologias que ampliam a sustentabilidade da produção agrícola nacional.
Logo no primeiro dia, o painel sobre insumos de base orgânica trouxe a apresentação de Wagner Bettiol (Embrapa), que pontuou a relação entre saúde do solo e controle biológico: “Quando há um solo saudável, o controle biológico se faz sozinho”, disse, projetando ampla adoção de microrganismos pelos grandes produtores e estimando que produtos biológicos ganharão significativa parcela do mercado de pesticidas nas próximas décadas.
Em seguida, Fabiano Daniel De Bona, da Embrapa Trigo, defendeu o manejo técnico dos fertilizantes organominerais: “Fonte, dose, local e época corretos são determinantes para sustentabilidade e produtividade”, explicou.
A ênfase na pesquisa aplicada ao problema da seca foi amplificada pela presença e fala do pesquisador Itamar Soares de Melo (Embrapa Meio Ambiente), que abriu o painel “Bioinsumos e seus efeitos fisiológicos”. Especialista em microbiologia agrícola e controle biológico, Itamar apresentou resultados de estudos sobre microrganismos promotores do crescimento que reduzem os impactos da seca — problema que afeta cerca de 45% dos solos agricultáveis do país. “A produção de biofilme é um critério-chave na seleção dos isolados: essa camada protege raízes e folhas, melhora a agregação do solo, aumenta a biomassa microbiana e favorece a retenção de água nas plantas inoculadas”, afirmou.
Melo destacou que a integração entre seleção microbiana, manejo do solo e práticas de aplicação é essencial para transformar descobertas de laboratório em soluções de campo.
Outro resultado prático foi por Ladislau Martin Neto, da Embrapa Instrumentação, que tratou da matéria orgânica do solo como elemento central para o sequestro de carbono e para geração de renda via créditos. Ele demonstrou uma tecnologia a laser, certificada pela Verra, capaz de medir carbono no solo com precisão e menor custo — um avanço para ampliar o acesso dos produtores ao mercado de créditos e incentivar práticas conservacionistas. “Aumentar o teor de matéria orgânica significa mais produtividade, mais resiliência e novas oportunidades de mercado”, afirmou Martin Neto.
As contribuições acadêmicas complementaram a visão aplicada: pesquisadores de universidades expuseram trabalhos sobre o uso de macroalgas, aminoácidos, substâncias húmicas e extratos vegetais como estratégias para mitigar estresses térmicos, hídricos e salinos. Palestras demonstraram que bioestimulantes e extratos vegetais atuam na fisiologia da planta, estimulando enraizamento, absorção de nutrientes e maior tolerância a condições adversas — resultados que dialogam diretamente com as propostas de pesquisa desenvolvidas na Embrapa.
O evento também debateu políticas públicas e cadeia produtiva. Autoridades e especialistas apresentaram iniciativas como o Centro de Excelência em Fertilizantes e Nutrição de Plantas (Cefenp) e o Plano Nacional de Fertilizantes, que visam reduzir a dependência de importações e fomentar hubs regionais de pesquisa e inovação. Juristas e representantes do setor comentaram ainda desafios financeiros vividos por produtores e a necessidade de alternativas de crédito e de maior capacitação do Judiciário para questões de recuperação rural.
Entre os destaques práticos do Conexão Abisolo 2025 esteve a premiação do III Simpósio de Biofertilizantes: entre 57 trabalhos inscritos, quatro foram premiados nas categorias Mérito Acadêmico e Mérito Inovação, reconhecendo avanços em microalgas, extratos vegetais e compostos orgânicos. As iniciativas premiadas reforçam a conexão entre pesquisas feitas em universidades e institutos públicos (como a Embrapa) e a indústria de insumos, acelerando a entrega de tecnologias ao produtor.
Ao final do encontro, ficou evidente que a pesquisa pública tem papel central na transição para uma agricultura de menor impacto ambiental e mais resiliente: seja identificando microrganismos benéficos, desenvolvendo métodos de mensuração de carbono ou testando insumos orgânicos, os pesquisadores mostraram soluções concretas que aproximam ciência e prática agrícola. Para muitos participantes, a mensagem foi clara: inovação e sustentabilidade caminham melhor quando pesquisa, indústria e políticas públicas atuam de forma integrada.
Cristina Tordin (MTB 28499/SP)
Embrapa Meio Ambient

