Açúcar brasileiro sofre forte impacto nas exportações aos EUA, apesar de recorde geral de vendas
18-08-2025

Enquanto setores como aeronaves, café e carnes ampliam presença no mercado americano, açúcar registra queda de quase 50% após sobretaxa de 50%

As exportações brasileiras para os Estados Unidos atingiram US$ 23,7 bilhões entre janeiro e julho de 2025, crescimento de 4,2% em relação ao mesmo período de 2024 e o maior valor já registrado para o período, de acordo com o Monitor do Comércio Brasil-EUA, divulgado pela Amcham Brasil. As importações americanas do Brasil também avançaram 12,6%, totalizando US$ 26,0 bilhões.

Esse movimento ampliou o superávit comercial americano frente ao Brasil para US$ 2,3 bilhões, salto de impressionantes 607,9% em comparação ao ano anterior.

O mês de julho foi marcado por um desempenho histórico: os embarques brasileiros chegaram a US$ 3,7 bilhões, alta de 3,8% sobre julho de 2024. Em volume, a expansão foi ainda maior, de 7,3%, o que sugere uma estratégia de antecipação de vendas para driblar a sobretaxa americana, que passou de 10% para 50% em agosto.

Por outro lado, alguns segmentos já sentiram o peso das tarifas e da concorrência global. O mais afetado foi o açúcar brasileiro, que sofreu retração de 49,6% em valor e 51,7% em volume. A queda ocorreu imediatamente após a entrada em vigor da nova tarifa de 50% sobre o produto em 6 de agosto, tornando o embarque para os EUA significativamente menos competitivo.

Mesmo com o revés no açúcar, outros setores registraram avanços expressivos em julho: aeronaves: +159,0%; ferro-gusa: +62,5%; cal e cimento: +46,3%; petróleo: +39,9% e suco de frutas: +32,2%

No acumulado de 2025, carnes bovinas (+118,1%), sucos de frutas (+61,7%), café (+34,6%) e aeronaves (+31,7%) foram os destaques de crescimento.

Além da commodity açucareira, outros setores registraram retrações: celulose: -14,8% (pressão da concorrência canadense); óleos de petróleo: -18,0%; equipamentos de engenharia: -20,8% e semi-acabados de ferro/aço: -8,0% (queda de 64% apenas em julho)

Enquanto o déficit dos EUA no comércio global de bens aumentou 27,8% no 1º semestre, o Brasil permanece como um dos poucos países com os quais os americanos mantêm superávit comercial. Esse saldo é hoje o quinto maior do ranking, com alta de 57,9% frente a 2024. Em junho, no entanto, observou-se redução de 8,3% no déficit global dos EUA, já refletindo os primeiros impactos da aplicação de tarifas recíprocas.

Para Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil, os números reforçam a resiliência das exportações nacionais, mas também acendem alerta para o setor açucareiro. “As exportações brasileiras para os EUA seguem em trajetória positiva até julho. Nosso papel é atuar de forma coordenada com os dois governos para preservar esse comércio, que gera empregos e oportunidades. Contudo, a sobretaxa de 50% sobre o açúcar exige diálogo urgente para evitar perdas maiores”.