Açúcar: cenário de apoio traz fatores macro, clima e entrega
18-09-2024

  • O mercado de açúcar começou a semana passada de forma lenta, com os participantes aguardando o relatório da UNICA, enquanto a seca no Centro-Sul do Brasil deu suporte aos preços.
  • Os fatores macroeconômicos tornaram-se mais altistas no meio da semana, com a queda da inflação nos E.U.A., o que ajudou a aumentar os preços do açúcar bruto.
  • O relatório da UNICA revelou um mix de açúcar abaixo do que o esperado (48,85%), contrariando as previsões de mais de 49%.
  • O Senado brasileiro aprovou o projeto de lei "Combustíveis do Futuro", que aumenta as exigências de mistura de biocombustíveis, possivelmente elevando a demanda por etanol.
  • Apesar dos desenvolvimentos altistas em relação aos biocombustíveis, os preços do açúcar ainda seguem dependentes da paridade das exportações indianas, com sua participação no comércio internacional restrita a preços superiores a 20-21 c/lb.
  • A entrega de branco foi robusta, refletindo tanto um alto prêmio quanto uma paridade indiana de açúcar branco aberta - um indicador do lucro das refinarias costeiras.

O mercado começou devagar na semana passada, com a maioria dos participantes aguardando cautelosamente a divulgação do relatório da UNICA.

“Enquanto isso, o ambiente geral continuou mostrando sinais de fraqueza, com o complexo de energia lutando para manter seus ganhos. Apesar disso, o açúcar permaneceu resiliente, apoiado pela seca em curso no Centro-Sul do Brasil. Durante a primeira quinzena de setembro, a região passou por condições quentes e secas, sem alívio à vista. A baixa umidade relativa do ar e as altas temperaturas nas principais áreas produtoras de cana geraram preocupações com o aumento do número de incêndios nos campos”, explica Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da Hedgepoint Global Markets.

No decorrer da semana, fatores macroeconômicos contribuíram para uma perspectiva mais altista. A taxa anual de inflação dos EUA caiu pelo quinto mês consecutivo para 2,5%, ficando abaixo da previsão do mercado de 2,6%. Portanto, na quarta-feira (11), os preços do açúcar bruto pareciam ter encontrado apoio e começaram a subir.

De acordo com Lívea, a divulgação do relatório da UNICA no dia seguinte reforçou ainda mais o sentimento do mercado. “Embora a maioria dos números tenha se alinhado às expectativas, o mix de açúcar foi surpreendentemente baixo. Muitos esperavam que o mix ficasse acima de 49% na segunda metade de agosto, mas ele atingiu apenas 48,85%”, pondera.

Com relação ao etanol, o relatório não acrescentou muito, e o principal desenvolvimento que vale a pena mencionar foi à aprovação pelo Senado brasileiro do projeto de lei "Combustíveis do Futuro".

“Disposições importantes foram mantidas, incluindo a obrigatoriedade de até 10% de biogás no gás natural, embora o Senado tenha removido o diesel verde R5 da Petrobras. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) supervisionará os aumentos da mistura de biocombustíveis, com a expectativa de que o biodiesel no diesel atinja 20% até 2030 e até 25% até 2031. O etanol na gasolina deverá aumentar para 35%. O projeto de lei também introduz metas para o uso de combustível de aviação sustentável (SAF) e reduções de gases de efeito estufa no combustível de aviação entre 2027 e 2037”, destaca.

Se o mandato de mistura de etanol for fixado em 30% para o ano civil de 2025, a safra 24/25 já seria afetada, com um aumento de 3% na demanda de anidro, de 8,4 bilhões de litros para 8,6 bilhões de litros.

“Pensando em 25/26, essas mudanças significariam uma demanda ainda maior por etanol anidro, potencialmente pressionando os estoques futuros e criando mais oportunidades de investimento em biocombustíveis, especialmente o etanol de milho, cuja participação na produção total de etanol está aumentando drasticamente a cada ano”, observa.

Essa notícia pode ser vista como altista, mas os biocombustíveis ainda têm um longo caminho a percorrer antes de impactar os preços do açúcar. Durante a entressafra da temporada atual, espera-se que os estoques de biocombustíveis permaneçam elevados ou em níveis médios, o que sugere que os preços do açúcar têm outros níveis de suporte em potencial para testar antes do preço do hidratado.

“Um fator importante é a paridade das exportações indianas. Para que a Índia participe ativamente do comércio global de açúcar, os preços do açúcar bruto precisariam atingir 20-21 c/lb durante a entressafra do Centro-Sul”, indica.

“No mercado de branco, o contrato de outubro expirou, com um total de 544,6 kt sendo entregue. Isso marca a segunda maior entrega em Londres já registrada, atrás de dezembro de 2020 (618 kt) e quase o dobro de outubro de 2022 (224 kt). Três casas comerciais foram combinadas com cinco distribuidores, com uma gama diversificada de origens, até mesmo a Polônia entregou!”, diz.

No entanto, o açúcar proveniente de refinarias costeiras indianas constituiu a maior parte entregue, respondendo por 311,5 kt. Isso faz sentido quando se considera o nível de prêmio do branco nos meses que antecederam a entrega, que foi corrigido de 140 Usd/t para cerca de 100 Usd/t, e que a paridade de exportação indiana para o açúcar branco está aberta há algum tempo, em cerca de 30 Usd/t, considerando os preços domésticos atuais.

“Embora possa ser visto como baixista, o spread V/Z mostrou bastante força em sua seção final, enquanto o dezembro mostrou alguma resiliência em seu primeiro dia de negociação, fechando em 524,1 Usd/t”, aponta.

Em resumo, à medida que o contrato de açúcar bruto se aproxima de seu vencimento, ele pode sofrer um aumento de curto prazo, já que os fundos rolam suas posições. Essa força, entretanto, não é impulsionada apenas por fatores técnicos; os fundamentos também desempenham um papel importante. O último relatório da UNICA revelou um mix de açúcar abaixo do esperado, enquanto a região Centro-Sul continua sofrendo com as condições de seca. A forte entrega em Londres pode pressionar o prêmio do açúcar branco, principalmente se a paridade de exportação da Índia para essa qualidade continuar favorável.

Acesse o relatório completo clicando aqui.

Sobre a Hedgepoint Global Markets

A Hedgepoint Global Markets é uma empresa especializada em gestão de risco, inteligência de mercado, e execução de hedge para a cadeia de valor global de commodities, com larga experiência nos mercados agrícolas e de energia. Está presente em cinco continentes e oferece aos clientes produtos de hedge baseados em tecnologia e inovação, mantendo o cliente como ponto central de todos os processos. A companhia trabalha com mais de 60 commodities e mais de 450 produtos de hedge em sua plataforma.

Fonte: hEDGEpoint Global Markets

Do site: Udop