Açúcar lidera safra 2025/26 e etanol sente os impactos
22-07-2025

Comissão de Cana da FAESP discute estratégias do setor frente à alta da mistura obrigatória de etanol, aumento de insumos e impasse no Consecana-SP

A Comissão Técnica de Cana-de-Açúcar e Energia Renovável da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) realizou na última semana uma reunião estratégica para debater os rumos da safra 2025/26. O encontro analisou as tendências de produção, o comportamento dos preços, os custos crescentes de insumos e o prolongado impasse em torno da atualização do modelo Consecana-SP.

Durante a exposição conduzida por Raphael Delloiagono, economista e analista de mercado do Pecege, o destaque ficou para a clara preferência das usinas pela produção de açúcar, mesmo diante da elevação da mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina — que passará de 27% para 30% a partir de agosto.

Delloiagono explicou que a decisão das usinas não se altera: o açúcar continua sendo mais rentável que o etanol. “Desde a pandemia, a prioridade tem sido maximizar as receitas do açúcar e usar o excedente da cana para o etanol. A obrigatoriedade do E30 não muda isso. Nenhuma usina deixará de moer para açúcar se houver margem positiva”, afirmou.

A mudança na mistura, no entanto, exigirá quase 1 bilhão de litros a mais de etanol anidro, o que levará à redução da oferta de etanol hidratado. O reflexo esperado é um aumento nos preços do hidratado, favorecendo o mercado.

Segundo o analista, o novo cenário pode gerar um ganho estimado de R$ 0,03 a R$ 0,04 por litro de etanol hidratado para as usinas e até R$ 0,01 no ATR final — pequena melhora financeira em um cenário desafiador.

Outro ponto de atenção da reunião foram os custos de produção. Os fertilizantes devem subir, em média, 27% nesta safra. Os defensivos, por outro lado, devem manter estabilidade.

Com produtividade menor esperada para o ciclo e insumos mais caros, o analista recomenda rigor no planejamento financeiro dos produtores, com foco no controle de gastos e no aproveitamento máximo da eficiência operacional.

Safra menor e consumo em alta: etanol pode ganhar valor

Apesar da tímida recuperação dos preços do etanol, a produção será inferior à da safra anterior, consolidando o segundo ano consecutivo de retração. Isso, combinado ao aumento do consumo com o E30, deve favorecer a valorização do etanol no médio prazo.

“Estamos entrando em uma nova dinâmica de mercado, com menos produto disponível e pressão maior na demanda. A valorização pode ser gradual, mas consistente”, projetou Delloiagono.

O coordenador da Comissão, Nelson Perez, lembrou que as dificuldades da safra anterior foram agravadas por estiagem, geadas e incêndios, que anteciparam reformas e causaram perdas significativas.

Como alternativa, muitos produtores estão recorrendo ao arrendamento de terras para manter a viabilidade econômica. “As condições climáticas extremas têm aumentado a imprevisibilidade e impactado diretamente a rentabilidade da lavoura”, alertou Perez.

Consecana-SP em impasse: FAESP cobra retomada do diálogo

A indefinição em torno da atualização do modelo Consecana-SP também foi tema central. A paralisação das negociações entre a UNICA e a ORPLANA tem gerado insegurança jurídica e comercial.

“O setor não pode ficar indefinidamente sem revisão de um modelo previsto em estatuto. Precisamos de urgência na retomada do diálogo e na construção de um novo consenso”, defendeu Perez.

O presidente da FAESP, Tirso Meirelles, afirmou que levará o tema à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Vamos reforçar o pedido de atualização do índice. Já são mais de dez anos sem mudanças, o que é inadmissível”, enfatizou.

A FAESP também anunciou o envio de um novo ofício ao Subsecretário de Meio Ambiente do Estado, Jônatas Souza das Trindade, pedindo a revisão da regulamentação de prevenção de incêndios.

Segundo José Luiz Fontes, gerente do Departamento de Sustentabilidade, a minuta atual penaliza injustamente os produtores e ignora a participação de órgãos como a Agricultura, Defesa Civil e Segurança Pública.

“Estamos às vésperas do período de seca e é essencial termos ações integradas e justas, que conciliem proteção ambiental com a continuidade da atividade agrícola”, concluiu Fontes.