Agrion inaugura primeira fábrica de fertilizantes dentro de usina de cana
30-11-2023

Planta em Tupaciguara (MG) terá capacidade de produzir até 60 mil toneladas por ano, o que permitirá adubar mais de 100 mil hectares de terras — Foto: Agrion/Divulgação
Planta em Tupaciguara (MG) terá capacidade de produzir até 60 mil toneladas por ano, o que permitirá adubar mais de 100 mil hectares de terras — Foto: Agrion/Divulgação

Projeto foi financiado via emissão de Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA)

Por Nayara Figueiredo — São Paulo

Com investimento de R$ 30 milhões, a Agrion colocou em operação nesta quarta-feira (29) sua primeira unidade de produção de fertilizantes, instalada dentro de uma usina de cana-de-açúcar. O projeto foi financiado via emissão de Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA).

Criada em 2019, a Agrion desenvolve fábricas que permitem tratamento e reutilização dos resíduos orgânicos gerados pelas usinas de cana para a produção de fertilizantes organominerais.

Em entrevista ao Valor, o CEO da Agrion, Ernani Judice, disse que a indústria trabalhará na produção de adubos organominerais e biológicos a partir da torta de filtro e a vinhaça. A unidade terá capacidade de produzir até 60 mil toneladas por ano, o que permitirá adubar mais de 100 mil hectares de terras.

Segundo Ernani Judice, a empresa planeja chegar a 10 fábricas em seis anos e 20 fábricas em 10 anos — Foto: Agrion/Divulgação

A usina parceira é a Bioenergética da Aroeira, localizada no município de Tupaciguara (MG). Segundo o executivo, já há negociações para fechar acordos no mesmo formato com três usinas no Nordeste e duas em São Paulo. “A ideia é chegar a 10 fábricas em seis anos e 20 fábricas em 10 anos”, projetou.

O Brasil é dependente de importação da maior parte dos fertilizantes que utiliza para atender às necessidades da agricultura. Mas, segundo Judice, o produto vindo do mercado externo não é totalmente adequado para o solo brasileiro.

“A gente perde cerca de 65% do fertilizante tradicional quando é aplicado, porque ele foi feito para solos mais frios e secos. Nosso solo é arenoso e precisa de matéria orgânica”, disse o CEO.

Pensando nisso, a Agrion desenhou a estratégia de produção de fertilizante organomineral, com a adição dos nutrientes convencionais NPK junto à matéria orgânica vinda da cana, o que aumenta o potencial de produtividade da lavoura.

Para reduzir o custo logístico, o projeto prevê a adoção de medidas de economia circular junto a usinas. As companhias que entrarem na parceria fecham contratos de dez anos, que podem se estender por mais dez. Nesse período, a usina disponibiliza uma área para a construção da fábrica de fertilizantes e se compromete a adquirir o adubo que será produzido lá. O excedente que não for consumido pela usina deverá ser comercializado no mercado.

O CEO da empresa acredita que o modelo de negócios permitirá que o fertilizante organomineral chegue ao mercado a preços mais competitivos do que os importados tradicionais.

“Vamos usar a energia e o biogás gerados pela usina, a vinhaça, a torta de filtro e a água. É uma economia circular, uma sinergia muito grande”, ressaltou.

Uma alternativa para as usinas que não têm cana própria e utilizam fornecedores de matéria-prima seria fazer negociações em barter (troca de insumo por produto). “A usina poderá fornecer o fertilizante da Agrion trocando pela cana”.

O executivo destacou ainda que o fornecimento da torta de filtro e a vinhaça da cana para a Agrion também aumenta em 5% a geração de créditos de descarbonização (Cbios) da usina Aroeira, por exemplo. Trata-se de uma geração adicional de 2,5 milhões a 3 milhões de Cbios por ano.

Fonte: Globo Rural