Alimento, comércio e guerra
23-03-2022

Um dos fundamentos do marketing reza que o cliente é uma entidade a ser mantida em estado de encantamento constante, ou algo muito próximo disso. Esse é o ideal.

Por Coriolano Xavier

Quanto maior o encantamento, maior o potencial de fidelidade e agregação de valor. A União Europeia (UE), por exemplo, é um cliente brasileiro de US$ 16 bilhões (2020), com importações de grãos, carnes e frutas, principalmente.

Olhando pelo valor é um cliente bom, embora distante do nosso número 1, a China, com importações de US$ 36 bilhões (2020). Como nem tudo é perfeito, a Europa também é aquele cliente tipo bocudo, que reclama do fornecedor publicamente, inclusive na imprensa, mas que devemos cultivar com diplomacia e cautela, não só pelo que representa hoje, mas pelo que pode vir a ser no futuro, a bordo de um acordo comercial Mercosul-União Europeia.

Nas artes da diplomacia e do comércio, conhecer bem o interlocutor e o clima negocial é pressuposto essencial. A Europa vive mudanças de lideranças políticas e com isso pode elevar o tom crítico ao agro brasileiro nos próximos tempos, em nome de bandeiras ambientais e de engajamento na questão climática. Tudo temperado por algum viés ideológico e um pano de fundo concorrencial, afinal Brasil e UE são concorrentes no mercado mundial de alimentos. 

Na Alemanha, de governo novo com o chanceler Olaf Scholz, após 16 anos com a chanceler Angela Merkel, a nova ministra das Relações Exteriores é Annalena Baerbok, uma das líderes do Partido Verde e simpática a movimentos de pressão global sobre a Amazônia. No gabinete alemão também figura outro líder do Partido Verde em cargo estratégico, Robert Habeck, político que está à frente do Ministério das Finanças e Proteção Climática.

A França, outra nação com influência forte na política internacional da UE, terá eleições em abril e os chamados "verdes" são força política ascendente por lá. Como o país assumirá a presidência rotativa da UE neste ano, um fortalecimento eleitoral das bandeiras ambientalistas poderá trazer maior pressão de opinião pública sobre o nosso agro e o acordo Mercosul-UE. Pode até evoluir para um aumento do protecionismo, como já se ensaiou recentemente, insuflando restrições a produtos brasileiros, dada a condução de nossa política ambiental.

De nosso lado, há valores de troca estratégicos para se colocar na mesa. Por exemplo: a segurança alimentar mundial, da qual o Brasil é fiador importante; a nossa revolução agrícola tropical sustentável, em expansão e ensinando os trópicos a produzir melhor; e a maior reserva biológica do mundo, cujo manejo adequado pode representar vantagens comparativas essenciais na descarbonização da economia mundial. Isto nós temos e podemos negociar com o mundo (será que queremos?), ainda usando para construir novas percepções sobre o Brasil, pois hoje em dia os conflitos (comerciais ou não) são guerras de narrativas também.

Tudo isso estará agora sob a influência dos impactos da guerra na Ucrânia, com seu potencial de estimular políticas protecionistas na Europa, debilidade geopolítica das potências e, talvez, até novos blocos de poder euroasiáticos. Além, é claro, dos efeitos econômicos imediatos do conflito, como a escalada de preços das commodities, algum impulso na inflação mundial e o desarranjo em cadeias globais de fornecimento, como ocorre com os fertilizantes.

Cerca de 70% da nossa produção agro fica no mercado interno, que é autossuficiente, embora com gargalos de desigualdade social e nutricional. Assim, os horizontes de crescimento da nossa agropecuária apontam para além-mar e não apenas com commodities, mas também com alimentos de valor agregado e alinhados com as expectativas dos mercados mundiais quanto à saúde, uso responsável de recursos naturais e transparência com os consumidores. Tudo em meio a cenários de incertezas, transições e volatilidade. Protagonizar no mercado internacional de alimentos, nesse mundo, não será tarefa para amadores.

Sobre o CCAS

O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. 

Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.

A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/. Acompanhe também o CCAS nas redes sociais:

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Assessoria de Imprensa

Mariana Cremasco