Alta do álcool deve adiar repasse de redução da gasolina ao varejo
31-10-2016

A deflação dos combustíveis ao produtor deve se intensificar em novembro após a redução da gasolina e do diesel na refinaria, mas o mesmo não deve acontecer no varejo devido à escalada do etanol, avaliou nesta sexta-feira Salomão Quadros, superintendente-adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre­FGV).

A estatal diminuiu os preços da gasolina e do óleo diesel aos distribuidores em 3,2% e 2,7%, respectivamente, a partir do último dia 15. Como o Índice Geral de Preços ­ Mercado (IGP­M), divulgado hoje pela FGV, é fechado no dia 20 de cada mês, o indicador de outubro capturou apenas 20% da correção para baixo, disse Quadros.

Na passagem de setembro para outubro, a gasolina deixou estabilidade e recuou 0,64% dentro do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA). Em igual período, o álcool hidratado avançou de 1,74% para 6,1%, e o anidro, que tem participação de 25% na fórmula da gasolina, saltou de 2,25% para 8,60%. “Essa é a razão alegada pelos varejistas para não repassarem a queda da gasolina na refinaria neste primeiro momento”, afirmou Quadros. “Isso vai retardar e espalhar mais no tempo o repasse da queda da gasolina ocorrida neste mês”. Por causa da entressafra do etanol, disse, o impacto da redução dos combustíveis nas refinarias não será verificado no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de novembro, enquanto, no IPA, deve ficar quatro vezes maior do que o registrado em outubro.

Com peso de 30% no IGP­M, o IPC ficou praticamente estável entre setembro e a medição atual ao passar de 0,16% para 0,17%. O destaque de baixa foi o grupo alimentação, que mostrou deflação de 0,22%, ajudado principalmente pela queda de itens in natura. Já os transportes saíram de retração de 0,12% no mês anterior e subiram 0,51% em outubro, movimento puxado pela alta dos combustíveis. O etanol aumentou 3,37% em outubro, após redução de 0,59% um mês antes. Na mesma direção, a gasolina subiu 0,47%, ante queda de 1,13% no mês antecedente. “O álcool favorecia a queda da gasolina até recentemente, mas agora está exercendo efeito contrário. Tão cedo não vamos ver queda da gasolina ao consumidor”, previu Quadros.

Mesmo assim, o economista da FGV avalia que o cenário para a inflação ao consumidor é favorável para os próximos quatro meses. "Vamos observar taxas significativamente inferiores às registradas no fim de 2015 e início de 2016", previu, em função da trajetória mais benigna da inflação de alimentos. “Não há nenhum movimento capaz de tirar dos trilhos a desaceleração geral dos alimentos”, afirmou, ponderando que, devido à sazonalidade típica de fim de ano, estes itens podem mostrar pequena aceleração em dezembro.