Alta do preço da gasolina e redução da alíquota de ICMS do etanol favorecem o setor sucroenergético mineiro
23-04-2015

O universo conspira a favor do etanol em Minas. Enquanto o preço da gasolina ultrapassa 3 reais na bomba, com o fim da política de congelamento de preços e o aumento da carga tributária, o álcool comemora a lei estadual 21.527/2014, que baixou a alíquota do ICMS de 19% para 14%. A mudança nas regras, válida a partir de 18 de março, reacende os holofotes para o setor sucroenergético mineiro, que estava em baixa desde 2009, e traz a projeção de que, em alguns anos, o biocombustível se firme como a alternativa mais interessante para abastecimento nos postos.

Passado cerca de 1 mês da redução da alíquota, Belo Horizonte registra o preço médio de 2,26 reais por litro de etanol, segundo a pesquisa do site Mercado Mineiro. Comparado aos 30 dias anteriores à lei estadual, quando o valor médio era de 2,37 reais, a redução foi de 4,64% e a paridade média ante a gasolina bate os 68%, Os dados são expressivos, mas a expectativa da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) é que o custo para o consumidor caia ainda mais. “Se as distribuidoras e os donos de postos repassarem a redução de 5 pontos percentuais de ICMS à bomba, BH pode chegar ao preço médio de até 2,10 reais no litro do etanol”, antevê o presidente da Siamig, Mário Andrade Campos.

Com projeções melhores para a safra 2015, que vai de abril a novembro, as usinas mineiras pretendem bater recordes em produção e deixar para trás o período de crise. “Ainda este ano, queremos produzir entre 1,8 a 1,9 bilhão de litros de etanol hidratado, aquele que o consumidor encontra no posto, e 1,2 bilhão do etanol misturado à gasolina, no total entre 2,9 a 3 bilhões de litros”, planeja Campos. Para alcançar esses dígitos, a Siamig vai investir pesado na campanha Eu Vou de Etanol (facebook.com/euvoudeetanol), lançada em 14 de abril e com duração de 3 meses. “Queremos mostrar ao consumidor que o etanol está de volta e pode ficar competitivo em praticamente todo o estado.”

Do lado de cá, os motoristas já começam a perceber que abastecer com álcool traz alívio ao bolso. É o caso do contador Paulo Apolinário, 28. “Sempre fico de olho nos preços e alterno o tipo de combustível. Mas, no último mês, só abasteci com etanol. O percentual de diferença em relação à gasolina está muito mais visível”, diz. Embora o critério de escolha seja o preço, ele observa que o carro ganha mais potência com o biocombustível, já que suporta taxa de compressão maior, tendo melhor rendimento térmico do motor. “O consumo é mais rápido, mas como a gasolina está bem mais cara, o custo final compensa.”

Se o que conta mesmo para o consumidor ainda é o preço, o aumento no consumo de etanol ainda traz vantagens econômicas. Com 70% da produção na região do Triângulo Mineiro, o setor sucroenergético pretende se recobrar do prejuízo dos últimos 5 anos – 8 usinas mineiras fecham as portas no período e, só em 2014, a produção de cana-de-açúcar caiu de 61 milhões de toneladas para 59 milhões. “O reaquecimento do mercado de biocombustíveis favorece o desenvolvimento regional, em cidades como Uberaba, Delta, Conceição das Alagoas e Iturama”, lista Campos. O primeiro momento, porém, é de recuperação financeira e não de investimento. “Ainda será um ano difícil, financeiramente falando. Se nos solidificarmos em 2016, aí sim poderemos pensar em geração de empregos”, avisa.

A nova fase do etanol também traz vantagens ecológicas, já que é menos poluidor que o combustível fóssil. Além de emitir, comprovadamente, menos gases de efeito estufa – com impacto positivo, inclusive, para as doenças respiratórias –, o álcool é um produto limpo e renovável, já que é feito a partir da cana-de-açúcar. Em contrapartida, alguns especialistas acusam a produção da planta em amplos terrenos de cultivo de acelerar o desmatamento e ser responsável por mudanças climáticas. Campos se defende: “As empresas do setor sucroenergético estão entre as mais visadas pela fiscalização ambiental e isso fez com que os empresários se adequassem à legislação brasileira”.

Ele afirma que, atualmente, a colheita é feita mecanicamente e sem queima em 97% do território mineiro. “Com isso, animais como emas, aves e veados voltaram à área de cana, adotando os canaviais como seu habitat.” Outra mudança decorrente foi a economia de água para lavar a cana, de 5 a 7 metros cúbicos nos anos 1990 para 0,5 a 1 metro cúbico atualmente. “Além disso, as usinas filtram, reutilizam o caldo extraído da planta como adubo do solo, e o bagaço, para produção de energia da própria fábrica”, afirma o presidente da Siamig.

MÁRIO CAMPOS